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Taxado em 25% pelos EUA, Canadá prepara retaliação para pressionar Trump

Navio de carga cruza a fronteira entre o Canadá e os EUA em Ontário

Navio de carga cruza a fronteira entre o Canadá e os EUA em Ontário. Foto: Brett Gundlock/Bloomberg

O Canadá está pronto para introduzir tarifas retaliatórias crescentes na tentativa de fazer com que os americanos se voltem contra as tarifas de 25% do presidente Donald Trump. A ameaça, confirmada na sexta-feira (31) e em vigor a partir deste sábado (1º), já levou o governo canadense a repensar sua dependência de seu vizinho do sul.

“Você vai descobrir que, quando respondermos, pelo menos num primeiro momento, vamos nos concentrar em tarifar bens americanos que são vendidos em quantidades significativas no Canadá, especialmente aqueles para os quais há alternativas prontamente disponíveis para os canadenses”, disse o ministro de Recursos Naturais, Jonathan Wilkinson, em uma entrevista na sexta-feira (31), horas depois de Trump reiterar seu plano de impor tarifas ao Canadá, México e China.

Os comentários implicam que as primeiras medidas do Canadá em uma guerra comercial visariam proteger os consumidores e, ao mesmo tempo, tentar reduzir a receita dos exportadores americanos o suficiente para criar pressão política sobre os representantes dos EUA e, em última instância, sobre Trump.

Esforço diplomático

Enquanto estuda as medidas, o vizinho do norte dos americanos também lança mão de esforços diplomáticos para convencer os EUA de que estão levando a sério o controle fronteiriço.

Ministros do alto escalão canadense responsáveis pelos assuntos estrangeiros, imigração e segurança pública foram até Washington neste sábado para fazer lobby com republicanos. Na tentativa de exibir visualmente a força dispensada na fronteira, os funcionários utilizaram imagens em vídeo de helicópteros Black Hawk recém-adquiridos que estão sendo empregados em patrulhas. Já o premiê de Alberta, província no oeste do Canadá, convidou uma equipe da Fox News para filmar policiais que monitoram a parte da fronteira que a província compartilha com Montana.

O ministro das Finanças do Canadá, Dominic LeBlanc, enviou um vídeo a Howard Lutnick, escolha de Trump para secretário de comércio, que incluía imagens em time-lapse de uma área de fronteira para demonstrar a ausência de pessoas cruzando ilegalmente, de acordo com uma pessoa a par do assunto, que pediu para não ser identificada em discussões sobre conversas privadas.

Tarifas sobre carros da Tesla

A ex-ministra das Finanças do Canadá, Chrystia Freeland, candidata a suceder Justin Trudeau como primeira-ministra, sugeriu atingir diretamente o aliado de Trump, Elon Musk, aplicando uma tarifa de 100% sobre os veículos elétricos da Tesla.

O Canadá deseja evitar tarifas. Mas, se Trump não for dissuadido, as tarifas serão expandidas “gradualmente”, e os ministros “não estão descartando nada em termos de opções para o futuro”, disse o ministro Wilkinson.

“Isso incluiria a possibilidade de tarifas de exportação sobre coisas como energia e minerais críticos”, afirmou. Isso deixa em aberto a possibilidade de impostos que aumentem o custo do petróleo e gás para consumidores e empresas americanas, ou minério de ferro usado na fabricação de aço nos EUA.

Wilkinson disse que o governo trabalhará com os gestores regionais, mas para alguns produtos é possível haver dificuldades políticas. O líder conservador de Alberta, por exemplo, se opõe a tarifar exportações de seu petróleo bruto. A energia é de longe a maior exportação do Canadá para os EUA.

Dependência americana

Um vislumbre precoce do efeito da estratégia canadense foi visto na sexta-feira, com a senadora do Maine, Susan Collins. A republicana postou no X que as tarifas “imporiam um fardo significativo” ao seu estado, observando que 95% do óleo de aquecimento amplamente utilizado no Maine é refinado no Canadá, e o país também fornece todo o combustível para jatos e diesel para a base aérea de Bangor no estado.

O Canadá é o maior fornecedor estrangeiro de energia para os EUA, e os dois países desenvolveram uma rede de oleodutos e instalações de processamento fortemente integrada nas últimas décadas. As refinarias de petróleo no Meio-Oeste dos EUA são especialmente dependentes, tendo sido construídas para processar o petróleo pesado que está mais prontamente disponível de Alberta, com pouca capacidade de acessar suprimentos alternativos.

Dependência canadense

A disputa está levando os funcionários canadenses a falar com maior urgência sobre a diversificação para reduzir a dependência dos EUA, e Wilkinson tem em mente um futuro em que o Canadá tenha alternativas de exportação.

“As pessoas dizem: ‘Bem, isso poderia ser apenas uma coisa de curto prazo’, e talvez seja, mas também poderia ser algo estrutural de longo prazo”, disse ele.

Possíveis soluções incluem melhorar a infraestrutura ferroviária e portuária para exportar mais para outras partes do mundo e construir um oleoduto ligando as areias petrolíferas do oeste do Canadá às refinarias no leste, disse ele. Estas últimas são atualmente abastecidas por um oleoduto da Enbridge, que cruza os EUA, e tem se mostrado uma fonte de tensão entre os dois países.

Ainda segundo o ministro, há também uma “ênfase renovada” em tentar descobrir se há uma maneira de dobrar a capacidade do LNG Canada, um projeto massivo de exportação de gás natural que começará a enviar combustível da costa oeste do Canadá para os mercados asiáticos ainda em 2025.

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