Os dados econômicos dos Estados Unidos mostram o tipo de economia que os executivos das empresas e os consumidores já descreviam há muito tempo neste ano: com alguns sinais de alerta.
Os números de emprego retratam um panorama do mercado de trabalho muito mais fraco do que o divulgado anteriormente. Os gastos do consumidor ajustados pela inflação — que representam cerca de dois terços da atividade econômica dos EUA — caíram no primeiro semestre do ano, enquanto o indicador de preço preferido do Federal Reserve subiu em junho.
“A economia dos EUA está lutando para manter a estabilidade”, disse Sarah House, economista sênior do Wells Fargo.
“Empresas e consumidores têm enfrentado um turbilhão de mudanças na política econômica, inflação elevada e uma política monetária que permanece um tanto restritiva”, disse ela. “A perda de momentum temida por esta combinação, infelizmente, começa a se concretizar.”
Emprego nos EUA
Os dados de emprego retiraram quase 260 mil empregos dos números de maio e junho, sacudiram os mercados e alteraram a percepção de que o mercado de trabalho estava sólido no início do verão no hemisfério Norte. O crescimento do emprego atingiu a média de apenas 35 mil nos últimos três meses — o pior desde a pandemia.
O relatório do Bureau de Estatísticas do Trabalho gerou dúvidas sobre a decisão do Fed de manter as taxas de juros poucos dias antes. O relatório também entrou no turbilhão político após a publicação, já que o presidente americano Donald Trump disse às autoridades para demitirem o comissário do BLS — e reiterou o apelo ao Fed e ao presidente Jerome Powell para que reduzam os juros.
Mais tarde, veio o anúncio surpresa de que a diretora do Fed, Adriana Kugler, vai renunciar ao cargo, o que oferece a Trump uma oportunidade antecipada de nomear um dirigente do Fed que se alinha com esta visão.
Muitas empresas congelaram investimentos e contratações enquanto tentam entender qual será o impacto das políticas econômicas de Trump — principalmente as tarifas. O mercado imobiliário acaba de vivenciar a pior temporada de primavera (fim de março a fim de junho) em 13 anos. E os consumidores, diante do aumento das dívidas, cortaram gastos com itens não essenciais.
“É provável que esta dificuldade continue à medida que os preços sobem e as empresas e os consumidores achem cada vez mais difícil gastar e investir”, disse Gregory Daco, economista-chefe da EY-Parthenon.
Economia dos EUA mais lenta
Dito isso, a expectativa é que a economia dos EUA continue a avançar, embora a um ritmo mais lento do que nos anos anteriores. Os analistas preveem um crescimento de 1,5% este ano e 1,7% em 2026, com base nos últimos dados da enquete conduzida pela Bloomberg News.
No restaurante Grata Thai Cuisine, em Midtown Manhattan, o proprietário Philip Sirikuptamas sente a desaceleração de perto. Ele lida com o golpe duplo de preços mais altos e menos clientes no restaurante. Os custos de produtos importados, como leite de coco, aumentaram substancialmente, disse ele, enquanto os preços do frango quase triplicaram. Ao mesmo tempo, ele teme aumentar os preços e assustar os consumidores.
“Os clientes gastam menos porque estão com dificuldades para ganhar dinheiro”, disse Sirikuptamas, 66. “Assim como nós.”
Consumidores recuam
Empresas como a Chipotle Mexican Grill e a Procter & Gamble notaram que a incerteza econômica pesa sobre a demanda.
“Vemos as tendências de consumo desacelerarem consistentemente, não significativamente, mas vemos uma desaceleração nos EUA”, disse o diretor financeiro da P&G, Andre Schulten, durante a teleconferência de resultados trimestrais da empresa. “A volatilidade que o consumidor está observando, acredito, talvez não esteja necessariamente relacionada à realidade atual, mas sim ao que esperar para o futuro.”
Revisões de dados governamentais, como os payrolls, são rotineiras e geralmente não chamam muita atenção. Mas a magnitude das revisões de sexta-feira, que mostraram 258 mil empregos a menos em maio e junho do que o previsto anteriormente, transformou o cenário do mercado de trabalho de sólido para quase estagnado.
“Quando as empresas estão nervosas com o futuro, elas apertam o cinto. E o primeiro ponto em que apertam o cinto é na contratação, disse Mark Begor, CEO da Equifax, em uma teleconferência de resultados em 22 de julho.
Apesar da desaceleração nas contratações, a maioria das empresas evitou demitir. A taxa de desemprego de julho permaneceu relativamente baixa, mesmo após atingir 4,2%.