Economia
Transporte marítimo apertado reascende temor de inflação global
A fragilidade do comércio global foi realçado por meses de ataques a navios no Mar Vermelho, que poucos especialistas previram que durariam tanto tempo
Jason Starr sentiu os primeiros flashbacks dos gargalos logísticos da era da pandemia em meados de abril deste ano.
Foi quando o vice-presidente de operações da Globe Electric, uma empresa de soluções de iluminação com sede em Montreal, ouviu algo que não ouvia havia 18 meses: a contratação de navios cargueiros da Ásia estava ficando apertada.
Logo depois, o preço do frete de contêineres começou a disparar, enquanto os pedidos de seus clientes aumentavam.
“É melhor começarmos a nos preparar”, Starr lembra de ter dito na época. “A crise marítima durante a pandemia de Covid realmente nos ajudou a entender como lidar com crises marítimas futuras como a que enfrentamos agora.”
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Até o momento, o comércio global de mercadorias parece passar por seu primeiro choque pós-pandemia sem uma pressão significativa sobre os preços ao consumidor. Mas isso pode mudar se os problemas se mostrarem persistentes ou se começarem a atrapalhar a logística terrestre.
“Os mercados estão subestimando o risco da alta do frete marítimo”, escreveram economistas do Nomura liderados por George Moran. “Nosso modelo sugere que pode haver uma pressão ascendente notável sobre a inflação.”
Para os bancos centrais de todo o mundo que iniciaram ou preparam ciclos de reduções de juros, qualquer repique inflacionário representaria um grande desafio.
A fragilidade do comércio global foi realçado por meses de ataques a navios no Mar Vermelho, que poucos especialistas previram que durariam tanto tempo.
Embora as perturbações não tenham chegado aos níveis observados durante a pandemia, importadores de mercadorias alertam que os custos acabarão sendo repassados aos consumidores, e a turbulência recente é mais um incentivo para diminuir as distâncias entre local de produção e pontos de venda, tendência chamada de “nearshoring” em inglês.
A atacadista de móveis de escritório COE Distributing, com sede na Pensilvânia, está entre as empresas que sentem o impacto. A empresa contava com a rota pelo Mar Vermelho para importar cerca de 50% de seus produtos de fabricantes baseados na Ásia.
“No momento, não há impacto visível para a maioria dos consumidores nos EUA, mas estamos começando a ver impactos significativos nos custos”, disse o CEO J.D. Ewing. Ele disse que pode precisar elevar os preços aos clientes no próximo ano.
Mas o congestionamento portuário em Singapura – um importante centro logístico asiático – parece estar diminuindo, segundo a Xeneta, uma plataforma de análise de frete com sede em Oslo.
O índice de preços do frete de contêineres para exportação da Bolsa de Transporte Marítimo de Xangai, que mais que dobrou esse ano, teve um pequeno recuo na semana passada.
Na Globe Electric, que envia até 2.000 contêineres por ano para clientes em toda a América do Norte, Starr parecia cautelosamente otimista em relação às perspectivas de curto prazo. As taxas de frete devem começar a se estabilizar e possivelmente cair em setembro e outubro, disse ele.
Mas “se isto continuar por mais seis a 12 meses, então serão necessárias mais discussões” sobre aumentos de preços, disse ele.
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