Donald Trump deu seu passo mais abrangente até agora para reformular o sistema de imigração legal dos EUA, com duas proclamações que favorecem explicitamente os trabalhadores estrangeiros mais ricos.
Na sexta-feira, Trump impôs uma taxa de US$ 100 mil (R$ 530 mil) para a solicitação do visto H-1B — amplamente usado por empresas americanas para trazer profissionais qualificados do exterior. A medida aumenta drasticamente o custo de um programa cobiçado por empresas americanas.
Além disso, anunciou o programa de vistos “Trump Gold Card”, em que, por US$ 1 milhão, dá para pode obter residência nos EUA. Empresas poderão comprar autorizações de residência para funcionários a US$ 2 milhões por pessoa. Uma versão “platinum”, prevista para breve, custará US$ 5 milhões e permitirá ao portador viver até 270 dias por ano nos EUA sem pagar impostos sobre renda obtida fora do país.
Segundo a Casa Branca, as taxas e restrições passam a valer no domingo, mas apenas para novos vistos — não para renovações ou titulares atuais.
A medida equivale a um plano censitário de imigração: os ricos são bem-vindos, enquanto barreiras adicionais são erguidas para quem tem menos recursos ou é visto como competindo por empregos de americanos.
A encenação seguiu o tom: no Salão Oval, atrás de Trump, havia a imagem de um cartão dourado com seu rosto e símbolos patrióticos, como uma águia.
Impactos econômicos e críticas
Trump e o secretário de Comércio, Howard Lutnick, destacaram que a medida pode render mais de US$ 100 bilhões ao Tesouro. Já advogados de imigração alertaram que o aumento pode gerar fortes disrupções e custos à economia.
David Leopold, advogado de Cleveland, disse que a taxa de US$ 100 mil “praticamente mata o programa”.
A notícia derrubou ações de consultorias de TI como Accenture e Cognizant. Alexis DuFresne, da Archer Search Partners, afirmou que a política é “insensata e terrível” para empresas de serviços financeiros e que deixará companhias americanas menos competitivas na disputa global por talentos.
Ela acrescentou que grandes fundos podem bancar o custo, mas empresas médias, pequenas e profissionais em início de carreira ficarão em desvantagem.
O objetivo da Casa Branca
Para a administração Trump, parte desse efeito é um recurso, não um problema. O governo sustenta que estrangeiros de baixa remuneração substituem trabalhadores americanos, pressionando salários e afastando cidadãos de carreiras em áreas de ciência e tecnologia.
O plano inclui exceções caso os custos se tornem um fardo em setores estratégicos. Além disso, Trump ordenará ao Departamento do Trabalho revisar os salários mínimos exigidos no H-1B, para evitar que empresas usem o programa para reduzir remunerações.
Riscos legais e políticos
Especialistas dizem que a taxa pode ser considerada excessiva nos tribunais, já que a lei federal só autoriza cobranças compatíveis com os custos administrativos. Hoje, pedidos de visto de trabalho custam em média US$ 5 mil, chegando no máximo a US$ 10 mil.
A mudança pode levar empresas de tecnologia a transferir parte de suas operações para países como Canadá ou Singapura. Também pode desestimular estudantes estrangeiros que sonham em permanecer nos EUA após a graduação.
O Congresso terá que aprovar a versão platina do programa. Mas a aprovação é incerta: republicanos controlam as duas Casas por margens estreitas, e o tema imigração divide o partido. Já democratas, revoltados com as ações mais duras de Trump contra imigrantes, têm poucos incentivos para negociar.
Por Josh Wingrove e Spencer Soper