Em publicação nas redes sociais, Trump afirmou que as empresas do setor estão “criminalmente lucrando às custas do povo americano” e pediu que o governo aja com rapidez.
“Estou pedindo ao Departamento de Justiça que aja de forma imediata. É preciso proteger os consumidores, combater monopólios ilegais e garantir que essas corporações não estejam se aproveitando do povo americano”, escreveu.
As declarações provocaram forte reação no mercado. As ações da JBS, maior empresa de carne do mundo e de origem brasileira, chegaram a cair 6,2% nas negociações pós-fechamento em Nova York na sexta-feira (7).
Preço da carne em alta e pressão política
Os preços da carne bovina no atacado nos EUA subiram 16% em 2025, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). A disparada ocorre em meio à redução do rebanho americano, hoje no menor nível em sete décadas, resultado de secas prolongadas e custos crescentes de produção.
De acordo com Julie Anna Potts, presidente do Meat Institute, associação que representa os frigoríficos, as empresas estão operando com prejuízo, tendência que deve continuar em 2026.
“Os processadores de carne dos Estados Unidos estão abertos a um debate baseado em fatos sobre o preço da carne e como atender melhor os consumidores americanos, que são nossos principais interessados”, declarou.
A escalada do custo de vida tem sido o tema dominante nas recentes eleições americanas e contribuiu para vitórias democratas sobre os republicanos de Trump em disputas locais. Pesquisas apontam que os eleitores avaliam mal o desempenho do presidente na economia, levando seus assessores a prometer foco maior na redução de preços.
Setor de carnes vira novo alvo da guerra contra a inflação
O setor de carnes é o novo foco da ofensiva de Trump contra a inflação dos alimentos, que já elevou o preço da carne moída a níveis recordes nos supermercados. Apesar disso, especialistas afirmam que a recomposição do rebanho americano pode levar anos, o que indica que os preços devem continuar altos no médio prazo.
Trump direcionou as críticas às empresas estrangeiras, o que derrubou ainda mais as ações da JBS. A subsidiária de frango da companhia, a Pilgrim’s Pride, chegou a doar US$ 5 milhões à cerimônia de posse de Trump em 2017.
Outros frigoríficos, como a Smithfield Foods (controlada pelo grupo chinês WH Group) e a Tyson Foods, também registraram queda nas ações após o anúncio. Nenhuma das empresas comentou o caso.
Histórico de investigações e disputa comercial
Não é a primeira vez que Trump mira o setor. No fim de seu primeiro mandato, o Departamento de Justiça já havia aberto uma investigação antitruste sobre os frigoríficos, posteriormente mantida por Joe Biden, mas sem resultar em processo judicial.
Em 2022, Biden lançou um programa para permitir que produtores denunciassem práticas comerciais desleais da indústria.
Os frigoríficos vêm sendo criticados há anos pela alta concentração de mercado e já pagaram centenas de milhões de dólares em acordos por acusações de manipulação de preços.
Gail Slater, chefe da divisão antitruste do DoJ, respondeu ao anúncio de Trump com ironia:
“Encerrando a semana com uma nova missão. Obrigada por sua atenção a este assunto, senhor”, escreveu nas redes sociais.
Pressão dos estados rurais e impacto no mercado
A decisão também gerou reação entre aliados de Trump em estados agrícolas, que alertam que seu plano de permitir mais importações de carne argentina sem tarifa pode prejudicar os pecuaristas americanos.
Trump, no entanto, insiste que há algo de errado:
“Enquanto o preço do gado caiu, o da carne embalada subiu. Então, há algo ‘suspeito’ acontecendo”, afirmou.
