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Trump condiciona socorro bilionário à vitória de Milei na Argentina: ‘Se ele perder, estamos fora’

Presidente dos EUA atrela pacote bilionário à permanência do aliado no poder; acordo inclui swap cambial e compra de pesos pelo Tesouro americano

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (14) que o pacote de US$ 20 bilhões que seu governo prepara para socorrer a Argentina está vinculado à vitória do presidente Javier Milei nas eleições legislativas marcadas para o fim do mês.

“Se ele perder, não seremos generosos com a Argentina. Se não vencer, estamos fora”, disse Trump, em reunião com Milei na Casa Branca, em tom que reforçou a aliança política entre os dois líderes.

O encontro aconteceu poucos dias depois de Washington anunciar a compra de pesos argentinos e o fechamento do acordo de swap cambial — uma linha de liquidez emergencial com o Banco Central da Argentina —, destinada a estabilizar o mercado e evitar uma nova crise cambial no país.

As eleições parlamentares de 26 de outubro são vistas como um plebiscito sobre a política de choque liberal de Milei, que tenta ampliar sua base no Congresso, onde seu partido A Liberdade Avança detém menos de 15% das cadeiras.

Mercado cético 

Após as declarações, as taxas de juros de curto prazo do peso voltaram à casa dos três dígitos, refletindo a ausência de intervenção cambial tanto dos EUA quanto da Argentina pelo segundo dia consecutivo. A taxa de recompra overnight colateralizada — conhecida como caución — saltou de 77,5% para 115%, enquanto o peso argentino caiu quase 1%, para 1.360 por dólar.

Os títulos soberanos recuaram ao longo de toda a curva, com os bonds em dólar com vencimento em 2035 perdendo 2,4 centavos por dólar, negociados a US$ 0,57 — a maior queda desde 30 de setembro.

Para analistas, a ofensiva americana pouco ajudou Milei junto ao eleitorado. “Condicionar o apoio do governo dos EUA a uma vitória de Milei de forma explícita pode, na verdade, ser um golpe político para a campanha dos libertários”, avaliou Ramiro Blázquez, estrategista da StoneX, em Buenos Aires.

A avaliação dominante no mercado é que o desempenho do partido A Liberdade Avança será o verdadeiro termômetro do risco argentino. Uma votação entre 35% e 40% nas eleições legislativas seria vista como vitória simbólica e daria fôlego ao governo.

Mas qualquer resultado abaixo de 30%, alertam operadores, deve provocar uma nova onda de vendas nos ativos argentinos.

Alinhamento político

Trump exaltou Milei como um “líder MAGA de verdade” — em referência ao slogan Make America Great Again — e disse que o pacote “serve para apoiar uma boa filosofia econômica, onde a Argentina possa voltar a ser bem-sucedida”.

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Fontes da Casa Branca disseram que o apoio americano não é apenas financeiro, mas também estratégico: uma tentativa de reforçar laços ideológicos na região e contrabalançar a influência da China na América do Sul.

“É melhor construir pontes econômicas com aliados do que ter de atirar em barcos de traficantes”, ironizou o secretário do Tesouro, Scott Bessent, em referência a recentes operações militares contra embarcações venezuelanas.

A fala veio no mesmo dia em que o governo americano anunciou a quinta operação naval contra supostos barcos de narcotráfico na região do Caribe.

Suspense

Para Milei, o acordo já ajudou a conter a queda do peso e a interromper uma corrida cambial que ameaçava se transformar em nova crise. O pacote — um dos maiores acordos bilaterais entre EUA e Argentina desde os anos 1990 — também ocorre no momento em que Milei tenta consolidar sua imagem de aliado incondicional de Trump.

O pacote americano inclui swap cambial, linhas de crédito e liquidez direta para o Banco Central argentino, totalizando US$ 20 bilhões, e vem sendo negociado há meses entre o ministro da Economia Luis Caputo e o Tesouro americano.

A iniciativa também é vista como um teste da influência de Washington na região, diante da crescente presença econômica da China e de bancos asiáticos em operações de resgate financeiro na América do Sul.

(Com informações da Bloomberg e do The Wall Street Journal)

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