Economia

Volume de fertilizantes importados sobe 16% no 1º semestre; preço mais que dobra

Com receios pela guerra na Ucrânia, compras foram antecipadas por produtores brasileiros – e ficaram mais caras.

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O preço dos fertilizantes importados pelo Brasil mais que dobrou entre janeiro e junho de 2022 na comparação com o mesmo período do ano passado. Em meio aos receios de falta desse tipo de produto por causa da guerra na Ucrânia, produtores brasileiros aumentaram as compras e importaram um volume 16% maior no período. O preço total pago por toda essa quantidade, no entanto, subiu muito mais: 180%. 

Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. No primeiro semestre deste ano, os fertilizantes foram importados por US$ 0,70 por quilo, em média – 133% mais caros que no mesmo período de 2021. Foram cerca de 19 toneladas, por US$ 12 bilhões – o maior valor já registrado. 

Importação de fertilizantes pelo Brasil: em volume e valor

A Rússia continuou sendo a principal origem do fertilizante importado pelo Brasil – inclusive aumentando sua participação no volume total importado. No primeiro semestre de 2021, cerca de 23% de todo o fertilizante importado do Brasil veio do mercado russo. Em 2022, esse percentual aumentou para 25%. 

Os fertilizantes são os principais produtos comprados da Rússia pelo Brasil – 77% de tudo o que importamos do mercado russo nos primeiros meses de 2022, um aumento em relação aos 62% em 2021. 

Disparada de preços

Fertilizante de cloreto de potássio entregue em fazenda da BrasilAgro na Bahia. (Foto: Divulgação)

Os números mostram que, apesar do aumento do volume importado, os preços subiram numa velocidade muito maior. A especialista Miriam Vale, coordenadora do Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX), da APEX-Brasil, explica que o fenômeno é resultado da lei da oferta e da demanda. 

Enquanto há riscos do lado da oferta por causa da guerra, esses receios elevaram a demanda. “A guerra está super incerta, ninguém tem a menor ideia de quando vai terminar”, afirma. “Tem essa questão: aumentam os riscos, aumentam os preços”, diz Vale, que também é professora na FECAP. 

Uma das empresas que antecipou a compra de fertilizantes por temores sobre a falta do produto por causa da guerra foi a Brasil Agro (AGRO3). Meses depois da decisão, Eduardo Marrey, gerente executivo comercial, afirma que foi uma “decisão acertada”, pois sem isso o cenário para a empresa agora poderia ser “nebuloso”. 

“Compramos o volume que a gente precisava do cloreto, que é o carro chefe do plantio da soja e do milho. E depois isso se mostrou que a gente foi assertivo. Veio a guerra e esses preços dispararam de fato”, conta o executivo.

De qualquer maneira, ele conta que “não foi uma decisão fácil de tomar”, já que essa antecipação demandou inclusive uma alteração do planejamento logístico da empresa. 

“Para você receber um produto na fazenda numa época dessa, tem que movimentar todo o operacional, a fazenda tem que se preparar para receber. A gente tem que garantir que esse produto vai estar bem armazenado para manter as qualidades e ser usado da melhor forma”, conta. 

‘Momento mais nebuloso passou’

Eduardo Marrey, gerente executivo comercial da BrasilAgro. (Foto: Divulgação)

Se há alguns meses existia um receio sobre queda na oferta de fertilizantes por parte da Rússia, os números apontam que o volume importado, até agora, não caiu. Vale, da Fecap, explica que os próprios desdobramentos geopolíticos por conta da guerra ajudam a explicar esse cenário. 

“O segundo maior importador de fertilizantes do mundo são os Estados Unidos. Estados Unidos não querem mais negociar com a Rússia. Então, está sobrando fertilizante russo no mercado. A gente acaba comprando o fertilizante que os EUA deixaram de comprar deles.”

“Isso sempre acontece. Veja que são questões econômicas e políticas” 

Miriam Vale, da PEIEX e Fecap

Marrey, da BrasilAgro, afirma que “é importante ressaltar que esse movimento mais nebuloso do mercado já passou”. 

“Nesses últimos meses, o mercado começou a arrefecer um pouco. Porque ele já mostra sinais de que existe um volume já dentro do Brasil. Então, os estoques estão mais confortáveis”, comenta o executivo. Para ele, a antecipação de importações por causa de temores sobre a guerra ajuda a explicar esse cenário mais positivo agora. 

“Quando estourou a guerra, as importadoras tentaram se agilizar para importar aquele produto, para, de fato, não ter problema de disponibilidade. E fizeram isso de uma forma ágil, tentando aumentar as importações. E hoje o cenário é mais tranquilo com relação a disponibilidade, sim. E eu acho que é isso que tem feito os preços darem uma recuada”, analisa Marrey.

Produção de soja em fazenda da BrasilAgro na Bahia (Foto: Divulgação)

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