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ESG

Apenas 29% dos pretos e pardos investem em produtos financeiros no Brasil

Pela primeira vez, Anbima fez recorte racial no ‘Raio X do Investidor Brasileiro’, mostrando disparidade em relação à população branca.

Segundo o relatório “Raio-X do Investidor Brasileiro 2022”, divulgado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em maio, apenas 29% dos brasileiros pretos e pardos investem seu dinheiro em produtos financeiros, contra 37% de pessoas brancas. A pesquisa também mostra que 63% dos pretos e pardos não guardam dinheiro de forma alguma. 

Pela primeira vez, a Anbima fez o recorte racial na pesquisa, permitindo uma comparação no comportamento das pessoas declaradas brancas e pretas/pardas (denominação segundo os critérios estabelecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE). A base da pesquisa contou com 3.420 pessoas pretas e pardas, contra 1.873 pessoas brancas.

Enquanto a pesquisa da Anbima aponta que pretos e pardos são minoria no mundo dos investimentos, dados mais recentes da Pnad Contínua do IBGE, de 2021, apontam que essa população representa, somada, mais da metade dos brasileiros: 47% se autodeclaram como de cor parda, enquanto outros 9,1% se classificam como pretos. Já os brancos representam 43% do total.

Diferença de renda e ‘riqueza geracional’

Ao InvestNews, Alan Soares, especialista em negócios, fundador do Movimento Black Money e autor da coluna Infiltrado na Limer, pontuou que, em sua visão, o histórico de diferença de renda entre pessoas pretas e brancas reflete na forma como elas lidam com o investimento.

“Como a comunidade branca sempre teve a propriedade dos meios de produção, e a maior parte da receita, esse comportamento de investimento já é natural desse grupo. completamente diferente da comunidade negra”, afirma.

Alan Soares, fundador do movimento Black Money: ‘Não sobra para a população negra investir’.

Para ele, o problema tem origem na chamada “riqueza geracional”, os ensinamentos financeiros que os pais deram aos filhos, e que receberam dos avós, passados de geração em geração. 

Problema de renda e questão comportamental

Segundo o relatório “Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil”, do IBGE, realizado em 2018, a taxa de pobreza de pessoas brancas no país era de 15,4% enquanto a de pretos e pardos, de 32,9%. Alan destaca este problema de renda com um dos agravantes para a baixa presença no mercado financeiro. “Não sobra para a comunidade negra investir”, afirma.

Gabriel Souza, um dos fundadores do movimento de incentivo ao ingresso de jovens negros no mercado financeiro Black Finance, compartilha que a baixa porcentagem de pessoas pretas e pardas no total de investidores no país também tem a ver com uma questão comportamental. Ele destaca que, mesmo que um indivíduo negro não tenha problemas de renda, ele pode não se interessar pelo mundo investimentos.

Gabriel Souza
Gabriel Souza, co-fundador do projeto Black Finance |Foto: LinkedIn

“Não foi ensinado que ele pode multiplicar o seu capital, ou que ele pode construir isso através do investimento, seja em uma companhia, na bolsa de valores ou comprando produto financeiro”, disse Gabriel.

Alan complementa o raciocínio de Gabriel citando a música “Autoestima”, do cantor negro Baco Exu do Blues, na qual ele canta sobre como usa o consumo para lidar com as mazelas causadas pelo racismo em sua autoestima. Em um trecho da música, Baco diz: “Pago 10 mil nesse tênis, tô pisando na dor”.

Para o fundador do movimento Black Money, é possível ver que mesmo esse indivíduo ganhando bem, ele pode não ter uma capacidade de investimento alta, porque está gastando comprando passivos financeiros. “Ele está consumindo bens materiais para suplementar essa dor de não ser reconhecido”, disse.