Finanças
Bolsa em dólar fica mais atrativa para o investidor gringo. Mas ele quer voltar?
Em moeda estrangeira, Ibovespa voltou a níveis de junho de 2016 e abre espaço para um retorno do investidor de fora, que levou embora US$ 64 bilhões da B3 só em 2020.
Se a bolsa brasileira ficou mais barata para o investidor local a partir de março, para o estrangeiro ela pode estar a “preço de banana”. Estrategistas e gestores consultados pelo InvestNews acreditam que a forte queda do Ibovespa, índice que reúne as principais ações da B3, pode voltar a fisgar o gringo que bateu em retirada do Brasil.
LEIA MAIS:
Medido em dólares, o indicador recuou 45% no acumulado de 2020 até esta quarta-feira (26), para 15.914 pontos, voltando a níveis vistos em junho de 2016. Enquanto isso, o Ibovespa em valores nominais (moeda local) desvalorizou bem menos no mesmo período, 26,10%, negociado na casa dos 85 mil pontos. Na prática, houve um desconto maior para quem investe em dólares do que em reais.
Mas o estrangeiro está longe de dar sinais de retorno à B3, por enquanto. Nos cinco primeiros meses deste ano, este investidor levou embora US$ 64,8 bilhões da bolsa brasileira. A tendência já aparecia antes mesmo de o primeiro caso de Covid-19 surgir no Brasil, graças à queda gradual da taxa básica de juros, a Selic, que está em níveis historicamente baixos (3% ao ano).
O retorno do estrangeiro representaria um impulso importante para a bolsa local, já que mais de 47% do total do volume investido na B3, hoje, vem deste investidor, enquanto fundos locais e pessoas físicas representam menos de 25% cada um.
Brasil à frente de emergentes
Entre os emergentes, o Brasil seria o mercado mais promissor para investir em ações, concluiu o banco americano Goldman Sachs em relatório publicado este mês. A instituição financeira melhorou sua projeção para o Ibovespa: ela prevê que o índice pode alcançar 90 mil pontos em até três meses. A projeção anterior dava conta de 95 mil nos próximos 12 meses.
Em relatório, o banco conclui que o Ibovespa é “provavelmente” o melhor candidato a uma retomada na América Latina, região que sofreu uma desvalorização maior que em outros mercados emergentes.
“Com essa perspectiva de recuperação, o estrangeiro já pode começar a olhar de novo para o Brasil no curto prazo”, afirma o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, para quem uma sensação positiva já se desenha entre os investidores de fora.
Potencial para crescer na crise
Além do fato de a bolsa brasileira estar mais barata, a tendência de juros próximos a zero no mercado de títulos soberanos, como os bonds dos Estados Unidos, acaba fazendo com que o investidor brasileiro procure mercados com “prêmio” de risco maior, como é o caso do Brasil.
“A gravidade da queda deveu-se provavelmente ao choque das commodities, fato que esperamos que seja revertido na segunda metade do ano”, escreveram analistas do Goldman Sachs. O banco recomendou os clientes a “entrarem de cabeça” no Ibovespa, dado o espaço de recuperação diante da melhora do risco global e a estreita relação histórica do índice com os preços das commodities.
“O Brasil tem alguns fundamentos melhores que seus pares emergentes, já que antes de a crise chegar, todos os outros estavam em situação econômica difícil, enquanto o Brasil mostrava um cenário construtivo”, acrescenta Vieira, da Infinity.
Dan Kawa, estrategista e sócio da TAG Investimentos, afirma que a recuperação econômica será desigual entre os setores da economia e entre as empresas, o que deve ter reflexo no preço das ações.
“Na nossa visão, existem ótimas oportunidades de investimento na bolsa local, em dólares, nos atuais níveis, mas talvez índices como o Ibovespa podem não refletir isso de forma mais fidedigna”, aponta Kawa.
O estrategista diz ver potencial para algum retorno do investidor estrangeiro à bolsa brasileira, mas de maneira moderada e não agressiva. “A crise trará oportunidades para algumas empresas saírem fortalecidas, mas algumas outras não sobreviverão neste ‘novo mundo’”, diz.