Finanças
Bolsa fecha em alta puxada pelo exterior e apesar de adiamento do Big Bang Day
Na corrida pelas eleições americanas em novembro, Trump não economiza esforços para combater o coronavírus e recuperar popularidade
O Ibovespa, principal índice da B3, fechou em alta de 0,77% aos 102.297 pontos nesta segunda-feira (24). A bolsa de valores iniciou a semana com otimismo após anunciou de Donald Trump no domingo sobre autorização de uso do plasma convalescente no tratamento de infectados pela doença. É dizer, o plasma de pacientes já recuperados da Covid-19 e que desenvolveram anticorpos será reaproveitado no tratamento de pacientes que ainda lutam contra o vírus.
Na expectativa de obter resultados para garantir sua reeleição, Trump também entra na corrida para que a vacina experimental contra covid-19, desenvolvida no Reino Unido, chegue antes de novembro aos EUA.
As bolsas americanas reagiram bem a notícia de novos tratamentos e fecharam em alta. O índice S&P 500 renovou máxima histórica e avançou 1% a 3.431,28 pontos. Nasdaq e Dow Jones subiram 0,60% e 1,35%, respectivamente.
Após três altas consecutivas, o dólar virou para a queda. O dólar comercial fechou em baixa de 0,225%, cotado a R$ 5,5942. Na máxima do dia, a moeda americana chegou a R$ 5,6071.
A desvalorização do dólar esteve ligada a um sentimento de melhoria do cenário externo, com expectativa de vacina experimental nos Estados Unidos. Outro fator que fez com que a divisa americana não se afaste muito dos R$5,60 foi a espera dos investidores por estímulos econômicos para a economia brasileira, prometidos por Paulo Guedes.
No cenário interno, pesou o adiamento do pacote “Big Bang” que estava programado para terça-feira. Por meio dele, o governo apresentaria as novas iniciativas para garantir suporte econômico. Entre estas: a criação do Renda Brasil, carteira Verde Amarela para facilitar a criação de empregos e cortes no orçamento público.
Ainda não se sabe a nova data de apresentação deste pacote, contudo o governo trabalha com a ideia de fazer o anúncio ainda nesta semana.
Por outro lado, o risco fiscal ainda deixa o Brasil em uma posição fragilizada. Segundo um relatório do Bank of America (BofA), o país está em uma situação complicada frente a outras economias emergentes, perdendo apenas para África do Sul e Turquia. O conflito segundo o relatório seria fiscal, déficit que já existia no Brasil mas se agravou com a pandemia. Segundo a instituição, a relação dívida/PIB deve superar os 90%.
Apesar da recuperação do Ibovespa, faltando apenas sete dias para encerrar o mês de agosto o índice ainda acumula perdas de 0,60%.
Destaques da Bolsa
Entre os destaques positivos do dia, as ações da Eletrobras lideraram as altas. As ações ordinárias (ELET3) avançaram 9,74%, enquanto as preferenciais (ELET6) fecharam em alta de 8,02%. A companhia valorizou com rumor de privatização e que o senador Eduardo Braga (MDB-AM) poderia ser o relator da pauta.
Nas altas também estava a Embraer (EMBR3) que subiu 5,52%.
Entre as maiores quedas cederam companhias de educação, como Yduqs (YDUQ3) e Cogna (COGN3) que recuaram 6,10% e 2,90%, respectivamente.
Caiu também o IRB Brasil (IRBR3) que fechou em queda de 3,41%. A gestora Squadra Investimentos afirma que reconhece o trabalho e os esforços da nova gestão do IRB Brasil (IRBR3) para revisar estratégia, números e contratos anteriores do ressegurador, mas que ainda enxerga uma “ótima relação risco x retorno” para permanecer vendida nas ações da companhia.
As afirmações estão em nova carta da gestora, enviada aos cotistas na sexta-feira (21). Entre outros pontos, o texto aponta que ainda há espaço para redução do patrimônio do IRB, em “sequelas dolorosas” do modelo de negócios adotado pela antiga cúpula da companhia.
Entre as ações mais negociadas do dia, as commodities valorizaram. Os papéis preferenciais da Petobras (PETR4) subiram 1,82% e as ações ordinárias (PETR3) avançaram 1,99%. A companhia foi puxada pelo preço do petróleo, o Brent para outubro teve alta de 1,76%, com preço de US$ 45,13 para cada barril.
As ações da Vale (VALE3) também fecharam em alta de 1,22%, de olho na demanda crescente por minério de ferro.
Indicadores
Na Pesquisa Focus desta segunda, a Selic no fim de 2020 permaneceu em 2% ao ano, mas passou de 2,75% para 3% no fim de 2021, enquanto a expectativa para a economia este ano passou de retração 5,52% para queda de 5,46% e, para a taxa de câmbio, a mediana no fim do ano seguiu em R$ 5,20 e, para 2021, permaneceu em R$ 5,00.
A FGV também informou que o IPC-S teve alta de 0,51%, 0,01 ponto porcentual abaixo da taxa anterior, de 0,52%. Já a confiança do consumidor aumentou 1,4 ponto em agosto ante julho, na série com ajuste sazonal. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) subiu a 80,2 pontos.
Bolsas americanas
As bolsas de Nova York registraram alta nesta segunda-feira (24) em um dia marcado pela busca por ativos de risco, na esteira do otimismo em relação às pesquisas para desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus. Com isso, o S&P 500 e o Nasdaq renovaram recorde de fechamento.
O índice Dow Jones terminou em alta de 1,35%, em 28.308,46 pontos, o S&P 500 subiu 1,00%, a 3.431,28 pontos, e o Nasdaq subiu 0,60%, a 11.379,72 pontos.
O jornal inglês Financial Times noticiou que o governo americano estuda pular etapas regulatórias para liberar a vacina desenvolvida pela AstraZeneca antes da eleição presidencial de novembro. A farmacêutica, no entanto, negou tratativas com a Casa Branca e vê a especulação como “prematura”.
Em outra frente de estudos, a Novavax informou em comunicado nesta segunda que iniciou a fase 2 dos testes clínicos de seu candidato a imunizador. O estudo será realizado em até 1.500 voluntários nos Estados Unidos e na Austrália. Cerca de 50% deles terão entre 60 e 84 anos. Resultados devem estar disponíveis no quarto trimestre deste ano.
No domingo, durante coletiva de imprensa, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a autorização, em caráter emergencial, da utilização do chamado plasma convalescente no tratamento de infectados pela doença – ou seja, a utilização de plasma de pacientes já recuperados de coronavírus que desenvolveram anticorpos no tratamento daqueles que ainda lutam contra a doença.
“Esses mercados não precisam de muito na frente de vacinas para ficarem entusiasmados. Quaisquer relatórios positivos tendem a obter uma grande resposta e hoje não há diferença”, resume o analista de mercados da Oanda, Craig Erlam.
Nos próximos dias, investidores vão acompanhar declarações de banqueiros centrais no simpósio de Jackson Hole. Na quinta-feira, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, fará discurso no evento e pode trazer indicações da revisão da estratégia de política monetária da instituição.
*Com Estadão Conteúdo