Finanças
Bolsa volta aos 77 mil pontos com vídeo de Moro e Bolsonaro; dólar vai a R$ 5,86
Ibovespa fica novamente no meio de impasse político, até surgirem novos desdobramentos de vídeo devastador
A bolsa brasileira mudou de direção na tarde desta terça-feira (12), quando o mercado repercutiu a divulgação do vídeo de uma reunião ministerial na qual o presidente Jair Bolsonaro teria ameaçado o então ministro Sergio Moro de demissão, para proteger seus filhos de uma investigação.
A notícia, divulgada pelo site Antagonista, apagou o efeito positivo da ata do Copom pela manhã. O Ibovespa, principal índice da B3, despencou e fechou em queda de 1,51%, aos 77.871 pontos. Já o dólar comercial renovou máxima histórica e encerrou o dia em alta de 0,78%, cotado a R$ 5,866. Na máxima do dia, a moeda americana chegou a R$ 5,882.
Entre as ações mais negociadas do dia caíram com o impacto da crise política: Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3) que recuaram 0,06% e 0,57%, respectivamente. Os bancos Itau Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) também sofreram impactos e recuaram 3,44% e 3,12%, respectivamente, com medida do Senado, em debate, para limitar juros do cheque especial e aumentar a CSLL em 20%. A varejista Via Varejo (VVAR3) começou o dia em alta mas virou para a queda, fechando em baixa de 3,72%.
Destaques da Bolsa
Com a disparada do dólar, os frigoríficos foram os mais beneficiados, ficando entre as maiores altas do dia. É o caso da Minerva (BEEF3), destaque positivo, que avançou 7,06%, cotada a R$ 14,40. E a Marfrig (MRFG3), que subiu 3,78%, negociada a R$ 14,27. Entre as maiores altas do dia também estava a IRB Resseguros (IRBR3), com alta de 4,42%, cotada a R$8,04.
Os destaque negativo do dia foi da Natura (NTCO3), que caiu 6,15%, cotada a R$32,05. Entre as maiores baixas também estavam o Carrefour (CRFB3), que despencou 4,13%, negociado a R$ 18,54. Desempenho da companhia ficou comprometido após divulgação do balanço do primeiro trimestre de 2020, onde perdeu 17,7% no lucro líquido, fechando em R$ 363 milhões.
Caiu também 5,70% a Embraer (EMBR3), cotada a R$6,78. A companhia informou hoje que entregou 14 jatos no primeiro trimestre de 2020. O resultado negativo foi impactado pelo processo de separação da unidade de aviação comercial da Embraer em janeiro. Em 31 de março, a fabricante brasileira de aviões somava US$ 15,9 bilhões em pedidos.
Responsabilidade 50-50
Para Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset, a responsabilidade pelo caos no Ibovespa foi dividida meio a meio, entre um cenário externo preocupado com a reabertura econômica dos EUA e o site Antagonista alegando que existia um vídeo devastador sobre Moro e Bolsonaro. “Até 14h a bolsa estava em alta, mas a preocupação com a reabertura da economia americana ser prematura demais e um infectologista afirmando que novas mortes podem ocorrer afetaram os mercados” explica Spyer e acrescenta “Às 14h47 quando o Antagonista publica uma matéria alegando que existia um vídeo devastador, o mercado ascendeu o alarme e os investidores saíram vendendo tudo. A Bolsa entra em queda livre de quase 1500 pontos”.
Segundo Spyer, tudo foi fruto de uma soma de fatores, onde o cenário exterior adverso também ajudou. “O mercado americano também sentiu os impactos, Nasdaq caiu. O risco Brasil subiu 3%”, afirma Spyer. E reforça que agora o mercado deve exigir os desdobramentos da eventual publicação do vídeo citado pelo Antagonista.
Rafael Bevilacqua, estrategista chefe da Levante Investimentos, defende que a questão política tem afetado nosso mercado, que já estava no fundo do poço com a questão do coronavírus. Ele reforça que a quarentena prorrogada e a crise política com Moro, deixaram o mercado brasileiro atrás até de outros países emergentes. “A briga política começou com o desentendimento entre governadores e o presidente. Logo veio a questão de Moro que impactou o mercado. Quando a retomada estava ocorrendo, o Antagonista fala de um vídeo ‘devastador’, que jogou tudo por baixo”, afirma e acrescenta que o cenário externo, após senadores republicanos nos Estados Unidos tentarem impor sanções a autoridades da China em meio à pandemia da Covid-19, não ajudou. As bolsas internacionais reagiram mal e despencaram.
No entanto, Rafael adverte para ter cautela e muita calma até a divulgação do suposto vídeo. “Precisamos aguardar para saber se é bombástico ou não, lembrem quando nos tempos de Temer avisaram que havia uma notícia devastadora e no final não tinha nada”, aconselha aos investidores.
Outro fator que o mercado estaria de olho é um novo corte na Selic, de até 0,75 ponto porcentual. Pela manhã, o Banco Central (BC) reiterou, por meio da ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), a intenção de promover novo corte da Selic (a taxa básica de juros) em junho. Ao mesmo tempo, o BC ressaltou que os próximos passos da política monetária dependerão do andamento da pandemia do novo coronavírus.
Pesaram no sentimento a deflação mostrada pelo IGP-M (-0,32%) e o IPC-Fipe (-0,40%) nas primeiras prévias de maio, além da queda do volume de serviços em março no País, de 6,90% ante fevereiro – mais forte que mediana das projeções do mercado de -6,00% (intervalo de -18,10% a -0,70%). O volume de serviços também teve recuo interanual, de 2,7%, mais intenso que a mediana de -2,15%.
Bolsas asiáticas
As bolsas asiáticas fecharam em baixa nesta terça-feira, ainda pressionadas por sinais de uma nova onda de infecções por coronavírus na região e também na Europa e após a divulgação de dados fracos de inflação da China.
O índice japonês Nikkei caiu 0,12% em Tóquio hoje, a 20.366,48 pontos, enquanto o chinês Xangai Composto recuou 0,11%, a 2.891,56 pontos, o Hang Seng cedeu 1,45% em Hong Kong, a 24.245,68 pontos, o sul-coreano Kospi se desvalorizou 0,68% em Seul, a 1.922,17 pontos, e o Taiex registrou queda de 1,21% em Taiwan, a 10.879,47 pontos.
No Japão, destaque negativo para ações das montadoras Toyota (-1,97%) e Honda (-3,48%), que divulgaram balanços nesta madrugada.
Exceção, o menos abrangente índice chinês Shenzhen Composto subiu 0,33% nesta terça, a 1.810,73 pontos.
O mau humor prevaleceu na Ásia após países como China e Coreia do Sul relatarem um ressurgimento de casos de coronavírus. A cidade chinesa de Wuhan, onde o surto de covid-19 teve início, registrou infecções após mais de um mês sem novos casos. A doença voltou a ganhar força também na Alemanha, após a maior economia europeia começar a relaxar medidas de confinamento.
No campo macroeconômico, o coronavírus continua tendo forte impacto na China. Em abril, o índice de preços ao produtor do gigante asiático sofreu queda anual de 3,1%, a maior em quatro anos e bem mais intensa do que previam analistas. Já a taxa anual de inflação ao consumidor chinês desacelerou de 4,3% em março para 3,3% em abril.