Os ativos brasileiros não perdem o fôlego. Às vésperas do feriado nos EUA pelo Dia da Independência, o Ibovespa avançou e ultrapassou a marca histórica acima dos 141 mil pontos (140.928 pontos no fechamento, alta de 1,35%), enquanto o dólar encerrou o dia em baixa de 0,30%, se firmando em R$ 5,4049 – menor patamar desde junho do ano passado.
O fator preponderante no mercado e que vem estimulando a procura por ativos brasileiros é o nível de “desconto” nos preços atualmente. No caso das ações, a leitura é de que os papéis estão baratos na comparação com níveis históricos, o que continua atraindo o interesse dos investidores em relação a outros ativos no mundo.
Esse cenário se sobrepõe aos dados do mercado de trabalho nos EUA divulgados hoje, que mostraram uma economia ainda aquecida. Isso tem características inflacionárias, o que limita a chance de corte de juros por lá. Em tese, o investidor não vê vantagem em outros mercados mais arriscados nesse cenário. Mas isso importa menos agora, porque o assunto é o nível de preços dos ativos.
Tanto é verdade que o fluxo de investidores estrangeiros para a bolsa só cresce. Segundo dados da B3, a entrada de recursos externos para as ações está em R$ 26,4 bilhões no acumulado deste ano. E o Ibovespa sobe 15,6% de janeiro até agora.
Do ponto de vista local, as apostas de um corte da Selic já no fim deste ano abrem uma brecha para um movimento de compras das ações. O cenário político ainda está no radar, com o governo brigando para manter de pé o aumento do IOF. Mas a procura por papéis bons e de alta liquidez continua acontecendo.
“As ações de bancos, mineradoras e siderúrgicas seguem impulsionando o Ibovespa”, diz Luise Coutinho, chefe da área de Produtos e Alocação da HCI Advisors.
Some-se a isso o fato de que o mercado de trabalho nos EUA está menos aquecido em relação há alguns meses – o que tende a significar inflação mais controlada. Ao mesmo tempo, esse desaquecimento não significa, por ora, um risco de recessão. Com esses dois fatores, o cenário é um ambiente de maior demanda por ativos de risco.
O corte de juros lá fora pode até não acontecer agora, mas deve ocorrer perto do fim do ano. Ou seja: mais recursos para outros mercados mais arriscados, caso das ações e mercados emergentes como o nosso. Bruno Cotrim, economista e sócio da casa de análise Top Gain, projeta que o corte de juros lá fora aconteça a partir de setembro.
Aos olhos do investidor “gringo”, ativos brasileiros também vêm mostrando bom desempenho desde a chegada de Donald Trump à Casa Branca – a guerra comercial promovida pelo republicano tem estimulado esse movimento. É o que explica a perda de força do dólar globalmente.