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Caso Americanas provoca saques de R$ 66 bi em fundos de crédito

Fundos que mais sofreram são os que devolvem dinheiro aos investidores em até 5 dias após a solicitação do resgate.

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Os fundos de crédito do Brasil foram atingidos por uma onda de resgates depois que o colapso da varejista Americanas (AMER3) alimentou temores de uma crise mais ampla nos mercados de dívida do país.

Os investidores retiraram cerca de R$ 66 bilhões líquidos de fundos locais com pelo menos 15% de sua carteira investida em crédito privado entre 12 de janeiro – um dia após o anúncio das “inconsistências contábeis” na empresa — e 2 de março, segundo estimativas do Itaú BBA. O total de ativos sob gestão nesses fundos ultrapassa R$ 1 trilhão.  

“Os investidores ficaram com medo”, disse Alexandre Muller, sócio e gestor de carteiras da JGP, uma das maiores gestoras de recursos independentes do Brasil, em entrevista. “Foi uma grande surpresa.”

A Americanas entrou com pedido de recuperação judicial com mais de R$ 42 bilhões em dívidas cerca de uma semana depois de divulgar pela primeira vez as “inconsistências contábeis”, que aumentaram artificialmente os lucros enquanto reduziam os passivos pela metade. O debacle repentino da varejista centenária levou a um aumento nos prêmios de risco de títulos e suspendeu as vendas desses papéis no mercado local, interrompendo um início de ano promissor: os fundos de crédito registraram entradas líquidas de R$ 13 bilhões nos primeiros dias de 2023, segundo o Itaú BBA.

Os fundos que mais sofreram são os que devolvem dinheiro aos investidores em até 5 dias após a solicitação do resgate, que respondem por cerca de metade dos R$ 142 bilhões em fundos de crédito de gestoras independentes, segundo Muller, da JGP.

Os saques fizeram com que os fundos corressem para obter liquidez, vendendo títulos de curto prazo e, em seguida, papéis de baixo risco de crédito, pois ambos atraem mais compradores, acrescentou. Isso derrubou os preços até mesmo para empresas de boa qualidade, pressionando o Idex-CDI JGP, um índice de títulos corporativos locais no Brasil criado pela gestora.

“Esses fundos de curto prazo são muito problemáticos, porque muitos estão investindo em dívidas ilíquidas para tentar melhorar a rentabilidade e bater os índices, aumentando o risco para o setor e distorcendo os preços das grandes empresas quando são obrigadas a vender”, disse. 

Os fundos de crédito de mais longo prazo aproveitaram e saíram em busca de pechinchas, assim como bancos e fundos multimercado, ajudando a colocar um piso nos preços. A média diária das negociações no mercado secundário de títulos locais cresceu 50% neste ano em relação ao mesmo período de 2022, segundo estimativas da JGP.

“A questão agora é por quanto tempo esses resgates vão continuar acontecendo e em que volume”, disse Muller.

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