Dívidas de emergentes têm melhor desempenho semestral em 16 anos

Papéis do Brasil e do México renderam 29% e 22% em dólar entre janeiro e junho

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A instabilidade na política econômica dos Estados Unidos está levando gestores globais a buscar alternativas fora do dólar. O resultado é um movimento sem precedentes em direção aos títulos de dívida local de países emergentes, que registraram seu melhor desempenho no primeiro semestre em 16 anos.

Na América Latina, os retornos se destacam. Os Mbonos mexicanos (títulos soberanos em pesos) renderam 22% no semestre, enquanto alguns papéis brasileiros superaram 29%. No caso do Brasil, o movimento ocorre após uma forte venda no fim de 2024 e com o mercado apostando que o ciclo de alta de juros chegou ao fim.

De forma geral, os investidores consultados pelo Bank of America (BofA) apontam Brasil, África do Sul e Turquia como os países mais promissores do momento em dívida local.

“Continuamos posicionados nos Mbonos, essa operação ainda tem espaço,” disse Adriana Cristea, da Pictet Asset Management, que mantém exposição a dívidas locais em regiões que vão da América Latina à Ásia e EMEA (Europa, Oriente Médio e África).

A fuga para ativos de renda fixa em moedas locais tem como contrapartida direta a perda de confiança no dólar, que já acumula desvalorização de quase 11% em 2025 — a pior performance da moeda americana desde a década de 1970. O dólar caiu frente a 19 das 23 moedas emergentes mais negociadas, e a perda superou 10% em 10 dessas moedas, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Com isso, um índice de dívida local de mercados emergentes teve retorno de mais de 12% no primeiro semestre do ano, superando com folga os títulos atrelados a moedas fortes, que subiram 5,4% no mesmo período. Trata-se do melhor semestre desde pelo menos 2009.

“Vai ser um processo de vários anos de reavaliação da exposição ao dólar,” resume Brad Godfrey, da Morgan Stanley Investment Management, que ajuda a gerir US$ 20,6 bilhões. “Para muita gente, será um reaprendizado sobre os mercados locais, depois de tanto tempo fora.”

O fluxo de recursos é massivo: só em 2025, fundos focados em dívida de emergentes já receberam mais de US$ 21 bilhões, segundo o Bank of America, com base em dados da EPFR Global. Foram 11 semanas seguidas de entrada líquida, incluindo US$ 3,1 bilhões só na semana encerrada em 2 de julho.

Segundo Lewis Jones, gestor da William Blair Investment Management, a expectativa de novos cortes de juros nos países em desenvolvimento reforça a atratividade desses mercados.

“Esperamos que os BCs emergentes tenham mais espaço para cortar juros,” afirma. “Além disso, a tendência de enfraquecimento do dólar frente ao euro deve continuar, o que atrai especialmente investidores europeus.”

“Ninguém esperava uma fraqueza tão intensa do dólar,” disse Edwin Gutierrez, chefe de dívida soberana de mercados emergentes da Aberdeen Group. “Apostávamos que a dívida em moeda local teria melhor desempenho, mas não nesta magnitude.”

A melhora dos fundamentos econômicos em alguns países também deve estimular novas emissões. Gana, maior produtor de ouro da África, planeja retomar emissões domésticas ainda em 2025, após ver os juros de curto prazo caírem para o menor nível em três anos.

A redução das tensões entre Israel e Irã também ajudou a reforçar o apetite por títulos de mercados emergentes.

Mesmo com a valorização recente, Gutierrez, da Aberdeen, diz que ainda não pretende realizar lucros. Suas principais apostas são Colômbia, Filipinas e África do Sul.

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