Declarações favoráveis dos presidentes da Câmara e do Senado ao pacote fiscal do governo tiraram boa parte da pressão sobre o câmbio nesta sessão, mas ainda assim o dólar voltou a subir ante o real nesta sexta-feira, renovando recordes.
O dólar à vista fechou o dia com alta de 0,17%, cotado a R$ 6,0012 — maior valor nominal de fechamento da história e pela primeira vez acima dos R$ 6,00 em um encerramento de sessão. Na semana a divisa dos EUA acumulou alta de 3,21%.
Às 17h46, o dólar para janeiro — que nesta sessão passou a ser o mais líquido — cedia 0,80%, aos R$ 5,9991.
O dia começou novamente com forte alta do dólar ante o real e de abertura firme da curva a termo, com o mercado ainda reagindo negativamente a uma medida específica do pacote fiscal: a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês.
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Como em dias anteriores, a percepção negativa desta medida se sobrepunha às demais ações de cortes de despesas anunciadas pelo governo, cuja projeção é de uma economia de R$ 71,9 bilhões em dois anos.
No mercado de câmbio o movimento era amplificado pela disputa pela formação da Ptax de fim de mês. Calculada pelo BC com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros tentam direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).
Neste cenário, o dólar à vista atingiu R$ 6,1168 às 10h16 — maior cotação da história e também para o dia.
O cenário somente mudou no início da tarde, quando os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), foram a público fazer sinalizações favoráveis ao pacote, tentando desvinculá-lo da proposta de isenção de IR.
“Qualquer outra iniciativa governamental que implique em renúncia de receitas será enfrentada apenas no ano que vem, e após análise cuidadosa e sobretudo realista de suas fontes de financiamento e efetivo impacto nas contas públicas. Uma coisa de cada vez. Responsabilidade fiscal é inegociável”, disse Lira em publicação no X.
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Por sua vez, Pacheco afirmou que “a questão de isenção de IR, embora seja um desejo de todos, não é pauta para agora e só poderá acontecer se (e somente se) tivermos condições fiscais para isso”.
Os comentários aparentemente coordenados de Lira e Pacheco fizeram o dólar virar para o território negativo, com parte do mercado aproveitando as declarações para vender moeda e embolsar os lucros recentes. Às 12h57 o dólar à vista atingiu a mínima do dia de R$ 5,9568 (-0,57%).
Também no início da tarde, durante evento em São Paulo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender o pacote fiscal e deixou claro que ele não é o “gran finale” do esforço do governo para o ajuste das contas públicas. “A caixa de ferramentas é infinita”, afirmou.
No mesmo evento, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou que a autarquia não defende um nível para a taxa de câmbio e que só intervém no mercado em caso de disfuncionalidades.
Nos últimos dias, profissionais do mercado ouvidos pela Reuters chegaram a afirmar que o BC deveria realizar leilões de dólares para segurar pressão no mercado.
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“Sempre explicamos que o BC atua no câmbio em função de disfuncionalidades”, afirmou Galípolo em relação às atuações do BC no câmbio. Na sequência, acrescentou que no caminho até o evento conversou com o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, sobre o assunto. “Estava trocando ideia no carro com Roberto sobre o tema”, disse Galípolo, sem se aprofundar na questão.
Na reta final do dia, o dólar voltou para o território positivo, novamente na contramão do que se via no exterior, onde a moeda norte-americana cedia ante a maioria das demais divisas. Às 17h44, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,36%, a 105,690.
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