Finanças
Dúvidas sobre dividendos pressionam ação da Gerdau, dizem analistas
Empresa divulgou resultados acima do esperado no 2º tri, mas especialistas apontam incertezas.
Apesar de uma tentativa de recuperação no pregão desta quinta-feira (4), as ações da Gerdau caminham para terminar a semana no vermelho após a divulgação do balanço do 2º trimestre da empresa. A companhia divulgou números melhores do que o projetado, mas analistas apontam que as dúvidas em relação à distribuição de dividendos futuros, após a companhia informar que vai pagar R$ 1,2 bilhão em proventos, têm pesado sobre as ações.
Após a divulgação do balanço, as ações da Gerdau terminaram o pregão da quarta-feira (3) entre as maiores quedas do principal indicador da B3, o Ibovespa. Enquanto isso, o papel GOAU4 caiu 4,32%, o GGBR4 registrou uma perda de 4,06%. Nesta quinta, as ações operam em alta. Perto das 14h, a ação GOAU subia 3,7% e GGBR4, 1,88%.
Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, afirmou que a falta de sinalização de um dividendo maior para o futuro pesou na reação do mercado. A explicação é a seguinte: a companhia conseguiu diminuir sua dívida líquida, de R$ 12,8 bilhões no primeiro trimestre, para os atuais R$ 12,4 bilhões, e ficar bem próxima de sua meta de R$ 12 bilhões. Na prática, com menos dívidas, sobraria mais dinheiro para distribuir aos acionistas. Pelo menos é o que aguardava o mercado.
Em relatório divulgado ontem, André Vidal, analista da XP investimentos, afirmou que a dívida bruta atingindo R$ 12 bilhões poderia “resultar em maiores pagamentos de dividendos nos próximos trimestres”.
Leonardo Correa e Caio Greiner, do BTG Pactual, também escreveram que enxergam “potencial para a empresa se tornar mais agressiva na remuneração dos acionistas” com os rendimentos de dividendos podendo chegar a uma média de 20% ainda em 2022.
Mas a companhia jogou um balde de água frias nas expectativas. Rafael Japur, vice-presidente de finanças da Gerdau, disse ontem em teleconferência de resultados que a companhia não pretende rever a política de dividendos no curto prazo.
A expectativa por parte do mercado é que com a dívida perto do guidance (projeção) e uma posição de caixa sólida, poderia ter havido uma distribuição de proventos maior e uma sinalização quanto a uma maior distribuição de dividendos, o que acabou não acontecendo
Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos
Arbetman acrescentou ainda que a falta da sinalização de um valor mais polpudo de dividendos fez o mercado acender uma luz amarela quanto ao futuro. “Essa queda de ontem, que já esta sendo revertida parcialmente hoje, dialoga muito mais com possíveis questões que podem aparecer e que demandam que a companhia seja mais cautelosa do que propriamente os números do balanço”, disse o analista.
O desafio para o futuro, apontou Arbetman, está relacionado especialmente aos Estados Unidos (principal mercado da Gerdau) que inicia seu aperto monetário, com a elevação de juros, para combater a inflação e custos elevados, o que pode abater os setores de base como o siderúrgico. “Existem maiores dúvidas de como a conjuntura norte-americana pode ser um empecilho para a manutenção do trabalho feito pela Gerdau no trimestre”.
O analista reiterou que considerou o balanço da Gerdau sólido, com a manutenção das margens dos Estados Unidos, que vem sendo a “principal força motriz da companhia”, além de números mais otimistas no Brasil, onde a expectativa pela Ativa era de números mais fracos.
Lucro acima do esperado
O lucro líquido ajustado da Gerdau atingiu R$ 4,3 bilhões no segundo trimestre de 2022, recorde histórico para o período, segundo a empresa. O valor representou um aumento de 28% na comparação anual. Veja abaixo qual era a estimativa dos especialistas:
Casa de investimento | Lucro líquido estimado | Diferença entre o lucro projetado e o reportado pela Gerdau |
Ativa Investimentos | R$ 3,24 bilhões | 32,8% |
XP Investimentos | R$ 3,08 bilhões | 39,7% |
BTG Pactual | R$ 3,55 bilhões | 21,07% |
Avaliação das casas
Veja abaixo a análise dos especialistas sobre os números apresentados pela Gerdau.
Ativa Investimentos
Em relatório, Ilan Arbetman e Tadeu Lourenço, da Ativa Investimentos, escreveram que, com a força dos mercados distribuição e construção nos Estados unidos, a companhia apresentou receitas levemente superiores as suas expectativas.
“Na operação norte-americana, apesar da queda de 5,7% na produção em relação ao primeiro trimestre, a companhia conseguiu evoluir em seus volumes vendidos no comparativo trimestral, bem como efetuar repasses de preços necessários para cobrir a pressão naturalmente exercida pela inflação e pelos gargalos logísticos atuais, registrando assim leve evolução em seu topline, Ebitda e margem Ebitda”, escreveu a dupla.
Além disso, a companhia reportou Ebitda (sigla em inglês para Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) 5,6% superior ao esperado pela casa de investimentos. “Com um resultado financeiro melhor no comparativo trimestral, seu lucro líquido também superou o que esperávamos, corroborando um novo sólido trimestre”, acrescentou o relatório.
No Brasil, a casa reiterou que produção, vendas e preços aumentaram, fazendo a companhia registrar evolução em sua receita. “No país, a demanda segue sendo puxada pela construção civil e infraestrutura”.
XP Investimentos
Em relatório, André Vidal, da, XP Investimentos, destacou que o Ebitda ajustado da Gerdau de R$ 6,68 bilhões, que avançou 13% no comparativo anual, superou em 3% suas expectativas. “Os resultados ainda foram fortes impulsionados por grandes margens e desempenho para as operações nos EUA”.
Vidal avaliou ainda que a divisão da América do Norte foi novamente o principal destaque do trimestre, com margem Ebitda ligeiramente melhor “devido à maior demanda do setor de construção não residencial, maiores preços do aço e controle de custo”.
Além disso, o analista pontuou que a dívida líquida caiu para R$ 4,7 bilhões, contra R$ 5,2 bilhões no primeiro trimestre, fazendo com que a companhia fique próximo de atingir sua dívida bruta de R$ 12 bilhões, “o que em nossa visão pode resultar em maiores pagamentos de dividendos nos próximos trimestres”, escreveu.
O analista da XP Investimentos apontou ainda que, na divisão brasileira, a empresa teve níveis satisfatórios de demanda dos setores de construção e manufatura, com destaque para máquinas e equipamentos, agronegócio e energia. “As vendas ficaram um pouco abaixo da produção, mas melhoraram quando comparadas ao trimestre anterior devido a um aumento nas vendas de aços longos”.
BTG Pactual
A Gerdau é a principal escolha no setor de aço dos analistas Leonardo Correa e Caio Greiner, do BTG Pactual, que afirmaram em relatório que a companhia vem despertando o interesse de investidores, com “sólido impulso de ganhos, modelo de negócios resiliente, diversificação geográfica, qualidade de ativos e flexibilidade”.
A dupla também escreveu que a exposição da Gerdau ao “próspero” setor de aços longos na América do Norte tem sido vista como um “porto seguro”, com margens Ebitda acima de 30%, com expectativa de sustentação no curto prazo.
Além disso, os analistas pontuaram que o mercado vem ganhando mais clareza sobre a alocação de capital da empresa (uma preocupação que se tinha anteriormente) com uma meta de dívida bruta definida em R$ 12 bilhões – praticamente já alcançada.
“Não esperávamos um anúncio de dividendos agressivo ainda. No entanto, esperamos uma decisão no curto prazo, já que a administração não tem anseio de se tornar uma empresa de caixa líquido, o que pode ser o próximo gatilho para a ação – esperamos que a Gerdau pague um rendimento entre 15% e 20% este ano”, escreveram.
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