A situação criar uma espécie de neblina estatística que dificulta as decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Isso em um momento em que o banco central está mais dividido do que nunca sobre o rumo da política monetária.
O Departamento de Estatísticas do Trabalho (Bureau of Labor Statistics, BLS) deveria divulgar o CPI de outubro na quinta-feira (7) passada, mas a paralisação não apenas adiou o relatório, como também interrompeu a coleta presencial de dados. Fontes do governo já admitem que é cada vez mais provável que o índice de outubro nem chegue a ser publicado.
O BN Paribas fez projeções de quando os dados podem ser publicados dependendo de hipotéticas datas de fim do shutdown. No caso do PCE de setembro, o índice de inflação preferido pelo Fed e que deveria ter sido divulgado em 31 de outubro, o indicador só sairia em 26 de novembro caso o governo dos EUA reabrisse nesta segunda-feira (10).
Se o shutdown acabasse no dia 26 de novembro, o dado poderia sair apenas em 10 de dezembro, portanto depois da reunião do Fed. Já os dados de emprego, outra variável chave para a continuidade ou pausa dos cortes, pode ser divulgada apenas dois dias após o término da paralisação. Portanto, caso o fechamento terminasse no dia 26 de novembro, por exemplo, os números sobre o mercado de trabalho americano já estariam nas mãos dos integrantes do Fed no dia 28.
Fed sem dados em meio à divisão interna
A falta de indicadores oficiais — que orientam a leitura sobre inflação e mercado de trabalho — prolonga o impasse dentro do Fed sobre a necessidade de um novo corte de juros na reunião marcada para os dias 9 e 10 de dezembro.
Na última decisão, em outubro, o comitê contou com o CPI de setembro, mas não tinha dados atualizados de emprego.
Mesmo que o governo reabra nas próximas semanas, o retorno das estatísticas deverá ocorrer de forma retroativa, com base em pesquisas complementares e métodos de amostragem, o que pode comprometer a confiabilidade dos números.
Relatórios privados vêm tentando preencher essa lacuna com estimativas do mercado de trabalho, mas não há alternativas robustas para medir a inflação com o mesmo alcance dos dados oficiais.
Inflação desacelera, mas incerteza persiste
Em setembro, tanto o CPI cheio quanto o núcleo — que exclui alimentos e energia — subiram 3% em relação ao ano anterior, abaixo das previsões. Modelos alternativos, como o “Nowcast” do Federal Reserve de Cleveland, indicam que outubro teria mostrado um ritmo semelhante de desaceleração.
Segundo analistas do Bloomberg Economics, mesmo que o governo reabrisse imediatamente, o BLS dificilmente conseguiria processar os dados de outubro e novembro a tempo da reunião de dezembro do Fed.
“Acreditamos que os números de outubro teriam dado sinal verde para um corte de juros no último encontro do ano”, afirmam os economistas Anna Wong, Stuart Paul, Estelle Ou, Eliza Winger, Chris G. Collins e Troy Durie, em relatório.
Powell adota cautela e mercado monitora próximos passos
Apesar da redução de juros em outubro, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que um novo corte em dezembro não está garantido.
Para os formuladores de política monetária mais preocupados com o risco de uma nova aceleração da inflação, a falta de dados oficiais reforça o argumento pela cautela.
Mesmo assim, os mercados ainda apostam majoritariamente em uma nova redução de juros no fim do ano.
Investidores acompanharão de perto as declarações de dirigentes do Fed ao longo da semana, incluindo John Williams, Raphael Bostic, Stephen Miran e Alberto Musalem, em busca de sinais sobre a direção da política monetária americana.
