Finanças

Gestoras admitem pessimismo em excesso e recalculam rota para 2024

Ativos de risco estão no radar da Kinea, Gávea e Genoa, que apostam em mais queda de juros nas principais economias.

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Algumadsdas principais gestoras independentes foram pessimistas demais quanto ao desempenho da economia local e global em 2023. Agora, recalculam a rota para 2024, apostando mais em ativos de risco do que inicialmente previam fazer. Kinea e Gávea, por exemplo, apontam em suas cartais mensais que esperavam um crescimento econômico muito menor do que de fato aconteceu, em especial, no Brasil.

Em carta, a Kinea fez uma alusão à filosofia estoica – originada na Grécia antiga – e o processo de investir, apontando para a necessidade de resiliência e de autocontrole como meios de alcançar o equilíbrio interno, independentemente das circunstâncias externas. 

Isso porque, olhando pelo retrovisor, a reflexão para o ano que começou entre os gestores da casa, foi: por que foi tão difícil identificar tendências em ativos globais e locais no ano passado?

Como os investidores vivem expostos a acontecimentos inerentes ao controle, como economia e política, a Kinea fez uma “mea culpa”em sua carta, citando que é preciso aceitar as mudanças e agir sobre o que se tem controle. “Os pensamentos e os portfólios”. Logo, vence o que melhor se adapta, e se for rápido, menor é o prejuízo.

A questão é que 2023 não foi marcado por grandes acontecimentos, mas por um crescimento econômico acima do esperado no Brasil e EUA, dada a política fiscal expansionista herdada da pandemia, segundo a Kinea em sua carta de janeiro.

Famílias americanas viram suas poupanças crescerem, o que gerou um colchão de amortecimento para os impactos da alta dos juros. Mas o mercado imobiliário resiliente foi decisivo para os EUA não entrarem em recessão, apontam os gestores.

Surpresas no caminho

No Brasil, além do fiscal, dois outros fenômenos parecem explicar as constantes surpresas no PIB ao longo do ano. Primeiramente, a quantidade de commodities exportadas pelo país tem sofrido inflexão.

“Não mais dependemos somente dos preços dessas commodities, pois tanto em grãos como em petróleo temos crescido a quantidade de forma substancial, afetando não somente nosso PIB, como também nossa conta corrente”.

Toda essa reflexão levou a aceitar os erros – com um gosto amargo –, em especial, na renda variável. 

“Para a bolsa, nossa posição vendida ao longo do ano no S&P 500 gerou resultado negativo, com o índice subindo 20% no ano quando escrevíamos essa carta, em um movimento muito concentrado nas chamadas ‘Magnificent 7‘, as grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos”.

gestores da kinea, em carta mensal.

As maiores receitas e lucros impulsionaram essas empresas em bolsa, em especial a Nvidia, fabricante de chips de inteligência artificial. E os gestores apontaram não ter identificado essa tendência.

Ilustração da sigla de inteligência artificial em placa de computador REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração

“Refletimos que nosso principal erro foi ter mantido uma posição vendida nesse índice [S&P 500] quando deveríamos ter concentrado nossa posição no Russell ou outros índices globais com menor concentração dessas sete empresas, e que melhor representassem a dificuldade de crescimento de lucros observada no mercado como um todo em virtude do aperto monetário”. 

Perspectivas para 2024

Agora, a Kinea aponta que começou o ano com perspectivas mais positivas para os ativos de risco no Brasil e no exterior, como consequência do previsto afrouxamento monetário a ser conduzido por diversos bancos centrais, de um cenário global de inflação convergente e de um crescimento perto do potencial na maioria das principais geografias.

“Nossas preferências estão nos mercados emergentes, em renda fixa e bolsa, particularmente no Brasil. Também gostamos de áreas de crescimento estrutural nos Estados Unidos, como o urânio, biotech e semicondutores, e ativos que devem se beneficiar globalmente de uma gradual recuperação dos indicadores antecedentes da economia global (PMIs) ao longo do próximo ano”, apontam. 

Em sua carta de janeiro, a Gávea também acredita na visão positiva para os ativos de risco no Brasil com uma inflação mais benigna e queda nos juros – diferentemente da aposta no ano passado. Para os EUA, os gestores acreditam que alta da taxa dos juros pelo Federal Reserve (Fed) está mais próxima do fim, restando saber qual o número final que vai conter a inflação em torno dos 2%.

Já sobre a economia europeia, a Gávea acredita que a região sentiu muito mais os choques de uma política monetária restritiva do que os Estados Unidos.

Para 2024, a gestora segue com visão de arrefecimento na economia global, o que abre espaço para a redução nos juros nas principais economias. 

O seu fundo multimercado vem lucrando em posições compradas na queda dos juros globais e bolsa brasileira. Mas para este ano, foi reduzida a exposição em juros e as compradas em dólar contra o euro e o real montadas para proteção. Também foi aumentada a posição vendida em dólar contra países selecionados. 

Já a Genoa Capital espera uma estabilidade de atividade para o Brasil e acredita que o pior momento ficou para trás. Olhando para 2024, a gestora enxerga melhores fundamentos, com juros menores, aumento da renda disponível, expansão fiscal entre outros.

A expectativa é que o BC mantenha o ritmo de corte de juros de 0,5 ponto porcentual e que um maior corte só deva acontecer se as projeções para a inflação “melhorarem muito”. 

As principais contribuições para a carteira da gestora foi de ações compradas no Brasil e EUA e a favor da queda dos juros nominais no Brasil. Também contribuíram as posições comparadas em moedas da África do Sul. Foi mantida a posição comprada em real contra o dólar e uma cesta de moedas e vendidas no dólar de Cingapura contra uma cesta de moedas. 

A casa aposta também que os vencimentos americanos mais longos ficarão mais altos do que os prazos mais curtos.

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