Finanças
Ibovespa põe à prova ‘Efeito Janeiro’ na largada do Ano Novo
Mística de que índices de ações se valorizam no primeiro mês de cada ano é colocada em xeque neste início de 2024.
Após renovar sucessivos recordes em 2023, o Ibovespa (IBOV), começou 2024 com o “pé esquerdo”. Depois de encerrar o ano passado com valorização de mais de 20%, o principal índice acionário da bolsa brasileira mostra até então dificuldades neste início de ano para ampliar a escalada, rumo a novos topos históricos.
No primeiro pregão do Ano Novo (2), o Ibovespa fechou em queda de mais de 1%, queimando dois degraus e retrocedendo à marca dos 132 mil pontos. Já na quarta-feira (3), o índice subiu em uma magnitude bem menor, de apenas 0,1%.
Nesta quinta-feira (4), o sinal negativo voltou a prevalecer com força, com o índice recuando acima de 1% perto do fechamento.
- Cotação do Ibovespa hoje
Esse desempenho errático na largada de 2024 põe em xeque o chamado “Efeito janeiro” nos mercados. O termo é famoso em Wall Street e se refere à mística de que os principais índices globais de ações se valorizam no primeiro mês de cada ano.
Entenda o ‘Efeito Janeiro‘
A ideia é de que os investidores se desfazem de posições perdedoras ao final do ano anterior e assumem maior exposição ao risco com a virada do calendário. Porém, olhando para a série histórica, esse “Efeito Janeiro” parece ser mesmo um mito.
Conforme levantamento feito pelo consultor Einar Rivero, diretor da Elos Ayta Consultoria, desde o início dos anos 2000, o Ibovespa encerrou o primeiro mês deste século no vermelho em 14 ocasiões. Em outras nove, houve alta expressiva, enquanto uma única vez (janeiro de 2007) ficou praticamente no zero a zero.
Esse desempenho considera a variação percentual no acumulado de janeiro dos últimos 24 anos, em termos nominais e em moeda local. Quando se usa um deflator comum, no caso, a cotação do dólar em relação ao real, o total de meses de janeiro do Ibovespa em queda cai para 13, devido ao desempenho do câmbio doméstico no primeiro mês do ano de 2013.
O comportamento das bolsas de Nova York não destoa muito do observado na B3. Ainda com base no levantamento da Elos Ayta, o S&P 500 está um pouco melhor, apresentando resultados negativos em 13 ocasiões. Porém, esse total inclui a ligeira queda em janeiro de 2020 (-0,16%), quando os mercados começaram a reagir à pandemia de covid-19.
Além disso, segundo o Dow Jones Market Data, o chamado “rali do Papai Noel” em Nova York – que abrange os últimos cinco dias de negociação do ano anterior e os dois primeiros pregões do ano seguinte – impulsionou o S&P 500, em média, em 1,3% desde 1950. Neste ano, porém, o período entre o Natal e o ano-novo viu o S&P 500 cair 0,9%.
Trata-se do pior desempenho do índice acionário norte-americano para o intervalo de sete sessões desde a virada de 2015 para 2016, quando se quebrou uma sequência de sete anos consecutivos de trechos positivos.
Portanto, 2024 já pôs à prova uma das tradições de início de ano, dando sinais de que há pouco espaço para esticar os preços dos ativos. Ainda mais depois do “rali de tudo” visto nos últimos dois meses de 2023.
Contra fluxo não há argumentos
Por isso, para o JP Morgan, mais importante do que a variação porcentual é o fluxo de capital estrangeiro. Em relatório do fim do ano passado, a equipe de estratégia do banco de investimentos liderada por Emy Shayo lembra que os recursos externos tendem a ser positivos nos meses de janeiro, em especial nos mercados emergentes.
Conforme levantamento do JP Morgan, isto é verdade em dois terços das vezes nos últimos 24 anos. Além disso, desde 2017, o saldo de recursos externos nas principais bolsas do mundo foi negativo apenas em janeiro de 2020, quando os mercados globais observavam um vírus até então desconhecido que começava a se espalhar na China.
“Os fluxos não apenas são positivos em janeiro, mas também tendem a ser maiores que nos demais meses do ano” –
JP Morgan Equity Research.
Assim, considerando que o mercado brasileiro é em grande parte impulsionado pelos investidores estrangeiros, os estrategistas do JP Morgan veem o apetite dos gringos como um fator importante para definir o “Efeito Janeiro”. Isso vale inclusive para 2024.
Até porque, no ano passado, os não residentes ingressaram com quase R$ 45 bilhões na bolsa local. Apesar de positivo, o montante líquido de recursos é mais de 50% menor que o superávit de 2022, quando as compras de ações domésticas por estrangeiros no mercado secundário da B3 foi recorde, de cerca de R$ 100 bilhões.
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