Oráculo de Omaha contra-ataca: Buffett critica política comercial linha-dura de Trump

Comércio não deve ser uma arma, diz megainvestidor da Berkshire Hathaway

Ilustração sobre Warren Buffett

O bilionário Warren Buffett, 94, criticou a política comercial linha-dura do presidente Donald Trump, durante a reunião anual de acionistas da Berkshire Hathaway, que é realizada neste sábado (3) em Omaha, Nebraska (EUA).

Buffett afirmou — sem citar Trump diretamente — que impor tarifas punitivas ao restante do mundo é um grande erro, destacando que “o comércio não deve ser uma arma” e que políticas protecionistas podem ter consequências negativas de longo prazo para os Estados Unidos.

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O megainvestidor enfatizou que o uso de tarifas “podem ser um ato de guerra”, levando a consequências negativas e a atitudes prejudiciais. De acordo com Buffett, os Estados Unidos deveriam adotar uma postura de abertura e cooperação comercial, buscando negociar com outros países em vez de adotar medidas protecionistas. Para o gestor da Berkshire Hathaway, o país deve concentrar seus esforços em aprimorar e oferecer ao mundo aquilo que faz de melhor, enquanto permite que outras nações também explorem suas próprias vantagens competitivas.

Os comentários de Buffett contextualizam os efeitos da imposição, pela Casa Branca, das maiores tarifas sobre importações em décadas, o que vem gerando extrema volatilidade em Wall Street e preocupação entre investidores e empresas americanas.

Embora tenha havido uma pausa temporária de 90 dias em parte dessas tarifas, as taxas sobre produtos chineses foram mantidas, resultando em tarifas de até 145% sobre importações da China e retaliações chinesas de 125% sobre produtos americanos. Recentemente, a China sinalizou disposição para retomar negociações comerciais com os EUA.

Buffett alertou que tarifas funcionam, na prática, como um imposto sobre bens, elevando os preços para consumidores americanos e podendo alimentar a inflação. “Ao longo do tempo, elas são um imposto sobre produtos. O consumidor é quem paga a conta, não existe ‘fada do dente’ que cubra esses custos”.

O megainvestidor também destacou que, diante do ambiente de incerteza criado pelas políticas de Trump, a Berkshire Hathaway aumentou sua posição em ativos considerados mais seguros, como títulos do Tesouro, e reduziu sua exposição em ações — vendendo mais de US$ 134 bilhões em 2024, principalmente de Apple e Bank of America. Com isso, o caixa da Berkshire atingiu um recorde de US$ 347 bilhões no fim de março.

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Reunião anual

A reunião anual da Berkshire Hathaway, que atrai cerca de 40 mil pessoas de todo o mundo, é marcada por grande expectativa em torno das opiniões de Buffett, também conhecido como o “Oráculo de Omaha”, sobre o cenário econômico e as políticas comerciais em vigor nos EUA.

O próprio conglomerado reconheceu, em seu último relatório trimestral, que tarifas e outros eventos geopolíticos criaram “considerável incerteza” para os negócios, dificultando previsões sobre os impactos futuros em custos, cadeias de suprimentos e demanda dos consumidores.

Para Buffett, os Estados Unidos já “venceram”, tornando-se uma das nações mais importantes do mundo em apenas 250 anos, e que não faz sentido adotar uma postura de isolamento ou hostilidade comercial. “É um grande erro, na minha opinião, quando você tem sete bilhões e meio de pessoas que não gostam muito de você, e 300 milhões se vangloriam de alguma forma sobre o quão bem se saíram — não acho que seja certo, e não acho que seja sensato.”

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