Finanças
No ano em que cravou recordes, bolsa brasileira perdeu milhares de investidores
Número de investidores na B3 cai em 2023 pela primeira vez em 7 anos, apesar de recordes do Ibovespa.
2023 foi marcado como o ano que começou com incertezas e terminou com recorde histórico para o Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira. Apesar da “maré” favorável ao longo do ano rumo a uma conquista inédita, a B3 viu seu contingente de investidores encolher no mesmo período, em especial entre o público masculino.
Pela primeira vez desde 2016, o número de investidores cadastrados e com contas ativas na B3 caiu. Conforme dados oficiais, houve uma redução de 1,9% no acumulado de 2023, o que equivale a cerca de 110 mil pessoas a menos, passando de 5,85 milhões em 2022 para 5,74 milhões.
Desse total, enquanto o número de investidores do gênero masculino caiu 4,3% no período, totalizando 4,3 milhões, o número de investidoras mulheres cresceu 6,1%, mantendo a trajetória vista nos anos anteriores e chegando a 1,4 milhão. Um ano antes, os homens somavam 4,5 milhões e elas eram 1,3 milhão.
A sócia da Matriz Capital, Jessica Natividade, afirma que essa redução no ano passado é explicada por fatores pontuais, relacionados a uma única empresa, e também conjunturais. Tanto que 2023 indicava um desempenho positivo, já que começou com número recorde de investidores na B3 no primeiro semestre, com 6,2 milhões de contas.
Saída em massa
A primeira queda em sete anos no número de contas de investidores na B3 se deve, em grande parte, à influência de grandes players na participação de investidores no mercado de capitais, mas outros fatores também podem ter contribuído para a queda.
Na visão da especialista em mercado de capitais, muitos investidores, especialmente os iniciantes, tendem a enfrentar o desafio de comprar ações sem uma compreensão adequada do seu próprio perfil de investimento. “Isso pode levar a decisões precipitadas e, consequentemente, contribuir para a diminuição do número de investidores”, avalia.
Para Natividade, uma vez que investidores iniciantes enfrentam momentos difíceis e de muita volatilidade, tendem a ficar com receio de voltar a investir. Porém, acima de tudo, existe um fator conjuntural, a saber, a elevação da taxa Selic, atingindo 13,75% em dezembro de 2022 e só começando a cair em agosto de 2023.
“Isso aumentou significativamente o custo de oportunidade para investir em renda variável”, afirma a sócia da Matriz Capital. Com isso, investimentos em renda fixa, como o Tesouro Direto e CDBs, voltaram a oferecer retornos mais atrativos. “Alguns investidores optaram por essa alternativa, o que contribuiu também para essa queda no dado”, completa.
Além disso, a volatilidade nos mercados financeiros, agravada pela guerra na Ucrânia, contribuiu para manter um ambiente de incerteza entre os investidores. “Esse receio pode ter desencorajado ainda mais a participação na bolsa e a escolha por ativos mais seguros”, avalia Natividade.
Ponto fora da curva ou tendência de queda?
Diante disso, fica a dúvida se a queda em 2023 foi um ponto fora da curva ou se sinaliza uma mudança de tendência, para o negativo, depois de acumular uma sequência de crescimento desde 2016.
“Quanto às expectativas para 2024, há previsões de um possível aumento no número de investidores na B3, embora de forma mais lenta do que em anos anteriores”
Jessica Natividade, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital.
Para ela, esse crescimento dependerá da evolução do cenário macroeconômico tanto no Brasil quanto no mundo, em especial, da trajetória da taxa de juros aqui e lá fora. É isso que deve ser decisivo para o desempenho das ações brasileiras neste ano.
Ainda assim, a crescente familiaridade da população brasileira com investimentos e o acesso a mais informações do mercado financeiro também devem impactar diretamente o crescimento no número de investidores (CPFs individuais) cadastrados na B3.
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