Finanças
Por que a ação de Hapvida despencou após balanço? Veja fatores que não agradaram
Segundo analistas, entrada de beneficiários mais fraca e sinistralidade muito elevada pesaram negativamente.
O grupo de medicina e planos de saúde Hapvida (HAPV3) divulgou prejuízo nos resultados do primeiro trimestre de 2022, o que não agradou ao mercado. Por volta das 14h45 desta terça-feira (17), as ações da companhia caíam mais de 17%. Segundo analistas, as preocupações com o balanço se concentram em dois pontos: adições orgânicas fracas (entrada de novos beneficiários) e sinistralidade muito elevada (relação entre o custo e receita de uma seguradora).
De janeiro a março de 2022, a companhia teve prejuízo líquido consolidado de R$ 182 milhões, revertendo desempenho positivo de R$ 152 milhões obtido um ano antes. Além disso, a empresa apurou um resultado operacional medido pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado de R$ 414 milhões no primeiro trimestre, queda de 11,3% no comparativo anual. Os números já incluem dados da NotreDame Intermédica, empresa rival que foi incorporada pela Hapvida no começo do ano.
O balanço da empresa apontou ainda que as adições líquidas de planos de saúde no 1º trimestre de 2022 foram de 112 mil no total (queda de 59 mil da Hapvida e entrada de 171mil da NotreDame) e uma perda orgânica de 64 mil (queda de 59 mil da Hapvida e também 5 mil do GNDI).
O desempenho da base de beneficiários também não agradou analistas. O Itaú BBA apontou que os números ficaram consideravelmente abaixo das expectativas do mercado.
“A base de beneficiários diminuiu significativamente, afetada por um aumento nos cancelamentos de contratos, provavelmente causados pelo ambiente macro fraco no início do ano e os ajustes em curso na operação de Belo Horizonte”, avaliou o Itaú BBA em relatório.
Sinistralidade em alta
Já em relação à sinistralidade, ela foi mantida em nível elevado. A sinistralidade caixa da Hapvida foi de 67% e da GNDI, de 79,6%. Segundo o analista Rafael Barros, da XP, a sinistralidade das duas empresas foi pressionada pelos custos relacionados à covid-19, aquisições e reajuste negativo de preços dos planos individuais.
“Já éramos bem pessimistas quanto à sinistralidade, mas a realidade foi pior”, destacou Luis Assis, analista da Genial Investimentos, em relatório.
Assis apontou ainda que as despesas administrativas da Hapvida também tiveram um aumento muito superior à expectativa, por causa da contabilização das despesas com plano de opções que passaram a ser consideradas a partir deste trimestre e pelo dissídio dos funcionários, com um impacto de R$ 116 milhões.
“Com custos e despesas mais elevadas, a margem Ebtida ajustada foi pressionada, caindo para 8,6%”, explica o analista da Genial Investimentos.
Impactos da fusão com NotreDame
Assis explica que as informações necessárias para entender o prognóstico do trimestre não foram bem comunicadas, sem a divulgação dos dados de janeiro para NotreDame.
“Devido à natureza deste primeiro trimestre, com os efeitos da última onda de covid concentrados no primeiro mês do ano, a falta de divulgação destes números distorcem os resultados, uma vez que, provavelmente, veríamos uma sinistralidade mais alta no mês de janeiro”, avalia o analista da Genial Investimentos.
“Antes da transação, a GNDI apresentava uma dívida líquida de 2,7 vezes o Ebtida ajustado, enquanto a Hapvida estava negativa em 0,8 vezes o Ebtida ajustado. Com o pagamento de R$ 3,2 bilhões de parcela caixa e de R$ 1 bilhão de dividendos para os acionistas da GNDI, a dívida líquida da empresa combinada chegou a R$ 6,2 bilhões, ou 2,8 vezes o Ebtida ajustado. A dívida mais elevada, somada a um aumento das taxas de juros implicou em um resultado financeiro negativo de R$ 172 milhões. Assim, a companhia apresentou um prejuízo contábil de R$ 182milhões”, destaca Assis.
Este ponto também foi destacado pelo Itaú BBA, que afirmou que, por ter acesso apenas aos números consolidando o GNDI a partir de fevereiro de 2022, dificultou para observar as tendências de rentabilidade do grupo.
Projeções
Para o analista da Genial Investimentos, em vista de um resultado fraco, um cenário econômico conturbado e pouca visibilidade de crescimento orgânico no curto prazo, a Hapvida tem um longo caminho a percorrer até a normalização de margens/sinistralidade e da captura de sinergias.
“Estamos mudando nossa recomendação para a ação da Hapvida para Manter, com redução do preço-alvo para R$ 8, já incorporando um custo de capital mais elevado generalizado”, disse Assis.
Já o Itaú BBA, que avaliou que a Hapvida iniciou 2022 com números fracos, tanto no faturamento quanto na lucratividade, apontou que, embora espere uma aceleração do crescimento orgânico a partir do 2º trimestre de 2022, o resultados fracos do 1º trimestre podem pressionar as projeções de receita para 2022.
“No entanto, estamos confiantes sobre a tese de longo prazo e a geração de sinergias em andamento, provavelmente aumentando a rentabilidade no segundo semestre. Nós mantemos nossa classificação outperform (desempenho acima da média do mercado) para a ação”, destacou o Itaú BBA.
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