Finanças

Rede social de Trump tomba 21,5%

Truth Social perde US$ 2 bilhões desde o pico. Mas o problema de o republicano ter uma companhia de mídia segue em alta.

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As ações da Truth Social, a rede social de Donald Trump que estreou na Nasdaq terça passada (26), derreteram 21,47% nesta segunda. É que, pela manhã, a companhia enviou um relatório à SEC (a CVM dos EUA) mostrando o estado atual de suas finanças.

E elas estão uma lástima. A rede social teve um prejuízo de US$ 58 milhões em 2023 – e faturou virtualmente nada ante esse rombo: US$ 4 milhões. Também disseram que “a empresa espera continuar com perdas operacionais e fluxo de caixa negativo no futuro vislumbrável”.   

Esse tipo de relatório é uma exigência da SEC às empresas de capital aberto. Além de mostrar a situação do caixa, elas precisam deixar claro para o mercado quais são os riscos de investir ali.

E a Truth Social o fez. Disse que a companhia “talvez esteja sujeita a riscos maiores que os de outras plataformas sociais por conta do envolvimento de Donald Trump”, que seu sucesso “depende da reputação e popularidade” do ex-presidente. 

Até aí, jogo jogado. A Truth Social é a rede social que Trump criou em fevereiro de 2022, depois de ter sido banido do Facebook e do Twitter. As duas plataformas aceitaram-no de volta mais tarde.

Mas Trump seguiu usando sua rede própria como principal canal de comunicação – ainda que ele só tenha 6,9 milhões de seguidores em sua pequena rede, contra 87 milhões no X/Twitter, onde ele postou uma única vez desde 2021 (uma mensagem solitária em 2023, com 288 milhões de views).    

Ticker DJT

A Truth Social ganhou as manchetes na semana passada, quando abriu seu capital via uma Spac. Spac é a sigla em inglês para  “companhia com propósito específico de aquisição”. A aquisição aqui foi a da rede de Trump. Investidores formaram uma empresa “com o propósito” de adquirir parte da Truth Social. Compraram 40%. Donald ficou com 60%. E aí lançaram a companhia na Nasdaq – com o ticker DJT (de Donald J. Trump). 

DJT estreou na forma de 113 milhões de ações a US$ 49,95. US$ 5,6 bi em valor de mercado. No dia seguinte (27), subiu absurdos 32,6% e foi a US$ 66,22. O total ali  elevou-se a US$ 7,5 bi; a fatia de Trump, a US$ 4,5 bi. 

Com a queda de hoje, a US$ 48,66, o valor de mercado da companha caiu US$ 2 bilhões, e o novo net worth do ex-presidente, US$ 1,2 bi. 

Esses números, de qualquer forma, dizem pouco. É natural que uma figura como Trump crie manias especulativas. O ponto central é outro. 

“A empresa seria um veículo fácil para governos estrangeiros a fim de obter favores do presidente”, disse o Jack Goldsmith, professor de direito de Harvard, numa reportagem do New York Times sobre o assunto. 

Pedro Burgos, professor de jornalismo do Insper e pesquisador de mídias sociais, vai pela mesma linha: “Empresas, pessoas ou governos de outros países podem ‘comprar presentes’ para Trump através de anúncios na rede social — na prática tentando influenciá-lo com dinheiro. Vimos versões disso, durante a presidência dele, onde líderes de outros países se hospedavam em seus resorts. No Truth Social essa influência poderia ser mais difusa – com menos transparência”.

Tem mais: “Outro grande problema é que a rede depende de Trump para sobreviver. O fato de ele postar quase que exclusivamente lá faz muita gente ter conta ali. Se Trump presidente ordenar que órgãos do governo passem a usar o Truth Social como plataforma preferencial, mais pessoas serão obrigadas a ter contas naquela rede para se informar sobre o governo”, segue Burgos.

“Esses são alguns cenários possíveis, mas certamente há outros, dado que presidentes dos EUA são imunes às leis federais de conflito de interesse”.

É isso. Caso tudo dê certo para Trump nas eleições, uma coisa é certa: não será confortável para os EUA ter um presidente com ticker na bolsa. 

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