Finanças
Sem consenso sobre bolsas dos EUA, ações de tecnologia despontam
Especialistas divergem sobre efeitos dos juros altos sobre Wall Street, mas apontam setor de destaque.
A perspectiva de juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos (higher for longer) veio para ficar. Os números da inflação ao consumidor norte-americano (CPI) em agosto alimentam esperanças de que o Federal Reserve não apenas irá “pular” o aperto em setembro, como também deve manter a taxa no intervalo atual até o fim do ano. Nesse cenário, especialistas não têm consenso sobre o rumo das bolsas norte-americanas, mas ações de tecnologia são vistas com destaque.
“O CPI veio levemente negativo, mas ainda não é suficiente para o Fed mudar a perspectiva do mercado de seguir sem outra alta dos juros”, resume Marcelo Oliveira, CFA co-fundador da Quantzed. Com isso, os investidores avaliam o cenário e reveem a exposição aos ativos de risco, em busca de oportunidades.
É aí então que as ações entram em cena, mas não necessariamente do Ibovespa. Afinal, cálculos indicam que os juros nos EUA em 5,5% por um período prolongado equivale a uma taxa Selic a 20% – bem distante dos atuais 13,25% e com tendência de queda (vide imagem abaixo).
Até por isso, pesquisa recente do Bank of America (BofA) com gestores na América Latina aponta que a renda variável brasileira só deve chamar a atenção quando a Selic atingir 10%, pois será quando a renda fixa local irá perder atratividade. Até lá, o foco deve estar voltado para as bolsas de Nova York, que também despontam frente às praças europeias.
Aliás, as ações da Europa anularam o desempenho superior ao do outro lado do Atlântico Norte. Por isso, a preferência por empresas dos EUA, em especial do setor de tecnologia. “Os papéis americanos estão muito mais expostos à tese de vencedores da IA (Inteligência Artificial)”, explica Mathieu Racheter, estrategista-chefe de ações do Julius Baer.
Em Wall Street, foco na Nasdaq
No entanto, não há consenso entre analistas sobre o impacto da política monetária do Fed nas bolsas dos EUA. O próprio BofA é pessimista e avalia que a crescente visão de que os juros permanecerão altos por muito tempo diminui a perspectiva de um pouso suave da economia norte-americana.
Isso deve provocar um tombo em Wall Street neste e no próximo mês, segundo o BofA. A equipe de estrategistas liderada por Michael Hartnett alerta para o risco de uma recessão e o aumento do desemprego nos EUA puxarem os rendimentos (yields) dos títulos de longo prazo (Treasuries) ainda mais para cima, impactando as ações norte-americanas.
Na mesma linha, o Morgan Stanley alerta para o investidor não se decepcionar com o S&P 500. Para o diretor de investimentos (CIO) Michael Wilson, o principal índice acionário norte-americano pela revisão das expectativas de que a economia dos EUA vai resistir à campanha de aumentos dos juros pelo Fed.
Por isso, em Nova York, o foco do mercado está na Nasdaq, pois é na bolsa eletrônica que estão as ações mais atrativas. É o que aponta pesquisa da Janus Henderson. Segundo análise da gestora de fundos globais, o cenário atual nos EUA favorece a tomada de risco nas empresas de tecnologia e nas ações de crescimento (growth).
“Em um ambiente de incerteza econômica, caracterizado por inflação persistente e elevada, as ações de crescimento podem oferecer proteção em períodos inflacionários, enquanto as empresas menos dependentes de mão de obra, como algumas do setor de tecnologia, também podem estar menos expostas”, explica o gerente de portfólio Jeremiah Buckley.
Muito além das techs
Já o Julius Baer também cita empresas dos setores de comunicação e de saúde. “Daqui para frente, mantemos preferência por crescimento de qualidade, mesclado com alguns nomes defensivos, sendo que as ações dos EUA têm forte tendência para ambos os tipos de investimento”, emenda Racheter, do banco suíço.
Assim, a tese para o mercado de ações pode mudar de “alívio por não haver recessão” para a de um “equilíbrio entre inflação, Fed e atividade desigual”. E isso pode beneficiar até mesmo o S&P 500, com destaque para os setores industrial e financeiro. “A dinâmica dos lucros no longo prazo dita o desempenho dos preços no curto prazo, o que fala a favor das ações dos EUA”, resume o estrategista-chefe do NDR, Ed Clissold.
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