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Por que as vitórias da Inteligência Artificial do Google são uma má notícia para as ações da Nvidia

O Gemini 3 é, segundo relatos, mais rápido, mais preciso e apresenta um raciocínio mais profundo do que o ChatGPT, o Grok e o Perplexity

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Um novo chatbot turbinado por inteligência artificial está fazendo as ações de tecnologia disputarem a liderança em um mercado volátil, em meio a novas preocupações sobre a demanda pelos chips da Nvidia — o produto por trás da ação mais quente de Wall Street.

Essa poderia ser a descrição da reação ao DeepSeek, o chatbot chinês que surpreendeu o mundo da tecnologia e derrubou brevemente o mercado de ações no início do ano passado. E ela se aplica igualmente ao que está acontecendo nesta segunda-feira, após o lançamento do Gemini 3, da Alphabet.

A empresa — cuja ação é, de longe, a mais bem-sucedida entre o chamado Magnificent Seven neste ano — apresentou a nova versão de seu chatbot na semana passada. E os investidores começam agora a perceber o tipo de impacto que ele deve ter no mercado de IA nos próximos meses.

O Gemini 3 é, segundo relatos, mais rápido, mais preciso e apresenta um raciocínio mais profundo do que o ChatGPT da OpenAI, o Grok de Elon Musk e o Perplexity, apoiado por Jeff Bezos. Ele se integra perfeitamente ao amplo ecossistema de aplicativos da empresa e à sua dominante plataforma de buscas. Também tem preços semelhantes — ou até inferiores — aos modelos concorrentes.

Mas o fato de ter sido treinado principalmente nos TPUs da Google — Tensor Processing Units — em vez dos chips da Nvidia, usados por seus rivais, é ainda mais relevante. Os TPUs não são tão flexíveis quanto as GPUs da Nvidia, o que pode torná-los menos valiosos num mercado em que empresas de nuvem querem sistemas altamente reprogramáveis para justificar investimentos de bilhões de dólares.

Por outro lado, são mais baratos de desenvolver e consomem menos energia em operação. E isso está assustando Wall Street.

“Alguns investidores estão petrificados com a possibilidade de a Alphabet vencer a guerra da IA devido às enormes melhorias no seu modelo Gemini e às vantagens contínuas do seu chip personalizado TPU”, disse Ben Reitzes, estrategista de tecnologia da Melius Research.

“É um pouco cedo para declarar que os avanços recentes da Alphabet fazem dela a vencedora de longo prazo”, acrescentou. “Dito isso, empresas de semicondutores e de nuvem (especialmente a Oracle) precisam acordar para o fato de que a ‘questão Alphabet’ é uma preocupação.”

A Oracle comprou bilhões de dólares em chips da Nvidia para alugá-los por meio de sua nuvem. O surgimento de TPUs mais baratos significa que ela pode ser pressionada em preço caso outras empresas criem concorrentes em nuvem focados em IA.


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Gil Luria, analista da D.A. Davidson, estima que uma divisão independente formada pelo laboratório de pesquisa DeepMind e pela venda dos TPUs poderia valer quase US$ 1 trilhão — tornando-se “possivelmente um dos negócios mais valiosos da Alphabet”.

Do outro lado, mesmo uma modesta redução nas vantagens competitivas da Nvidia poderia ter efeitos em cadeia capazes de chocar os mercados nos próximos meses. Empresas que gastaram fortunas com semicondutores da Nvidia podem ter arrependimentos se ficar claro que chips mais baratos entregam desempenho semelhante.

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As avaliações já estão extremamente elevadas — tanto das gigantes de nuvem listadas em bolsa quanto da OpenAI — e ainda há dúvidas sobre como a nova tecnologia beneficiará a economia real.

O CEO Sam Altman, aliás, reconheceu em um memorando interno divulgado pelo The Information na semana passada que os avanços da Google em IA provavelmente criarão “ventos econômicos contrários temporários” para a empresa. “Espero que o clima lá fora fique difícil por um tempo”, disse.

As ações da Google refletem parte dessa tensão: subiram 6,3%, atingindo a máxima histórica de US$ 318,58. O papel acumula alta de 68% no ano, contra 22% do índice das Magnificent Seven e 18% do Nasdaq Composite.

A Broadcom, parceira da Google na fabricação dos TPUs, avançou 11% no início da tarde, elevando sua alta em 2025 para pouco mais de 63%.

As ações da Nvidia, por sua vez, sobem de forma modesta, mas ainda acumulam queda de 9,8% desde o início do mês. A diferença entre seu valor de mercado, de US$ 4,35 trilhões, e o da Google caiu para cerca de US$ 592,3 bilhões — o menor patamar desde abril, segundo dados da Dow Jones.

Stacy Rasgon, analista sênior da Bernstein, diz que está menos focado em identificar o vencedor imediato da corrida da IA do que em observar sua continuidade.

“Não estamos no ponto em que precisamos nos preocupar com quem está vencendo ou perdendo”, disse ele à CNBC nesta segunda-feira. “A questão é mais: ‘a oportunidade da IA é sustentável ou não?’.”

“Se for, todos ficam bem; se não for, todos estão encrencados”, acrescentou.

Escreva para Martin Baccardax em martin.baccardax@barrons.com

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