Fim do domínio das 7 magníficas? Tarifas e IA pesam sobre ações de Apple, Google, Amazon, Nvida e Tesla

Desempenho dos papéis apresenta queda de 4,2% ante alta de 1,3% do S&P 500 em 2025

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Durante a maior parte da última década, as gigantes da tecnologia impulsionaram o mercado acionário dos Estados Unidos a sucessivos recordes. Essas companhias, como Apple, Alphabet (dona do Google), Amazon, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla se consolidaram como pilares das carteiras de investimento. Pela sua dominância ficaram conhecidas como as 7 Magníficas (Magnificent 7). Mas esse domínio parece ter chegado ao fim — pelo menos em 2025.

Apesar do índice S&P 500 ter retornado ao campo positivo no ano, após oscilações causadas pelas incertezas das políticas comerciais do presidente Donald Trump, as big techs seguem em queda. O índice Bloomberg Magnificent 7 está atrás do desempenho do S&P 500. Se esse desempenho se mantiver até 31 de dezembro, será apenas a segunda vez em dez anos que esse grupo icônico ficará aquém do índice de referência.

O cenário contrasta com o ano anterior, quando os setores de tecnologia e telecomunicações subiram mais de 35% e lideraram o avanço de 23% do S&P 500. Em 2025, são setores tradicionalmente mais conservadores, como indústrias, utilities e finanças, que puxam a recuperação do mercado. A grande questão que paira sobre os investidores é se as big tech conseguirão retomar o protagonismo na segunda metade do ano.

“O mercado está voltando a olhar para fundamentos: força financeira, inovação, análise de empresa por empresa. As incertezas sobre tarifas estão deixando de dominar a conversa”, afirma Rick Gardner, diretor de investimentos da RGA Investments, que tem aproveitado para reforçar posições em ações de tecnologia nas últimas semanas.

Ele não está sozinho. Profissionais do mercado têm voltado aos poucos à renda variável após meses de cautela provocada pela guerra comercial iniciada por Trump. Na última terça-feira, fundos de hedge compraram ações americanas no ritmo mais acelerado desde 9 de abril — data em que o S&P 500 subiu 9,5% após o anúncio de uma trégua tarifária, segundo dados da Goldman Sachs. As maiores beneficiadas foram justamente as ações de tecnologia.

Alta anterior traz risco de correção

Apesar do otimismo pontual, há o risco de que os papéis tech ainda tenham espaço para quedas, após anos de valorização expressiva. Um investimento nas Big Tech há dez anos teria rendido mais de 2.100%, contra 181% do S&P 500 (excluindo dividendos).

“Pode ser que estejamos atingindo um teto”, alerta Lisa Shalett, CIO do Morgan Stanley. “Fica difícil justificar os valuations atuais.”

O famoso gestor Michael Burry, conhecido por sua aposta contra o mercado imobiliário em 2008 retratada no filme A Grande Aposta, revelou que adquiriu opções de venda contra a Nvidia no primeiro trimestre, segundo documentos regulatórios da Scion Asset Management. O movimento, contudo, pode servir como hedge de posições compradas não declaradas, segundo o próprio relatório.

A grande dúvida do mercado agora é: e se as ações de tecnologia podem voltar a liderar? O grupo das 7 Magníficas representa cerca de um terço da capitalização do S&P 500. Se o índice dessas empresas — que acumula queda de 4,2% em 2025, frente a uma alta de 1,3% do S&P — inverter a tendência, o potencial de valorização do mercado pode surpreender.

“Não descartaria novos recordes”, aposta Gardner. “Seria um erro subestimar o poder de inovação da nossa indústria tecnológica.”

Desde que o S&P tocou o fundo do poço em abril, o setor de tecnologia subiu 31%, contra 20% do índice como um todo.

Nem tudo é queda

Nem todas as gigantes estão no vermelho. Meta lidera o grupo com alta de 9,4% no ano, seguida pela Microsoft, com valorização de 7,8% — ambas com pouca exposição direta às tarifas e resultados acima do esperado. Já a Nvidia segue praticamente estável, com divulgação de resultados marcada para 28 de maio.

Ainda assim, o setor permanece vulnerável. O fim da trégua tarifária de Trump, previsto para julho, pode reacender pressões inflacionárias e comprometer o crescimento econômico. Empresas como Walmart já alertam que os consumidores sentirão os preços subirem nas próximas semanas, à medida que novos estoques cheguem às lojas.

O sentimento do consumidor americano está em seu segundo nível mais baixo da história, e as expectativas de inflação seguem em alta, segundo pesquisa da Universidade de Michigan.

Exposição à China pesa

Um desafio comum às gigantes é a forte dependência do mercado chinês, o principal alvo das tarifas de Trump. A Apple, por exemplo, ainda produz a maioria dos iPhones na China, que respondeu por 17% de sua receita em 2024. No último trimestre fiscal, a empresa registrou queda de 2% nas vendas no país, frustrando as estimativas de analistas. Desde dezembro, a Apple perdeu mais de US\$ 700 bilhões em valor de mercado.

No caso da Alphabet, a ameaça vem da própria evolução tecnológica. A empresa enfrenta crescente preocupação com a concorrência de chatbots de inteligência artificial, como o ChatGPT da OpenAI. No Safari, navegador da Apple, o número de buscas caiu em abril — a primeira queda registrada, segundo depoimento de um executivo da Apple.

Apesar da pressão sobre as techs, há sinais positivos para os mercados, avalia George Maris, CIO da Principal Asset Management. “Não é preciso que as maiores ações liderem para termos um mercado saudável. O que vemos agora é uma participação mais ampla, mais fundamentada — e isso pode ser um bom sinal para o futuro.”

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