Enquanto o ouro sobe 60% no ano e bate US$ 4.200 nesta quinta-feira (5), o bitcoin acumula queda de 0,50% entre janeiro e dezembro. Ou seja, quem entrou na cripto apostando nas previsões otimistas ao longo de 2025 está no prejuízo.
E não foram poucas projeções. O JPMorgan falou que o BTC poderia alcançar os US$ 165 mil; o Standard Chartered mencionou US$ 200 mil; o fundador da BitMex, Arthur Hayes, conhecido no mercado cripto, chutou US$ 250 mil; e o fundador da Binance, Changpeng Zhao, exagerou: até US$ 1 milhão.
Nesta quinta-feira (4), a criptomoeda é negociada na faixa dos US$ 93 mil. Para bater na menor previsão, teria que subir 61% em 27 dias. Na maior, o pulo precisaria ser de 975%. Pode ocorrer? Por um milagre, talvez, mas nunca na história a cripto conseguiu fazer uma proeza dessas.
O melhor desempenho do bitcoin em dezembro foi em 2020, quando a criptomoeda saltou 52%, de US$ 19 mil para perto dos US$ 29 mil. Naquele ano ocorreu o terceiro halving – processo que reduz a emissão da cripto – e a empresa Strategy, até então somente uma empresa da área de software, começou a comprar BTC. Hoje, ela é a maior bitcoin treasury company do mercado.
Veja o comportamento do bitcoin em dezembro nos últimos 13 anos:
| Ano | Preços (4 → 31 de dezembro) | Variação % |
|---|---|---|
| 2024 | US$ 95.873 – US$ 93.420 | -2,56% |
| 2023 | US$ 40.681 → US$ 42.654 | +4,85% |
| 2022 | US$ 17.005 → US$ 16.558 | -2,63% |
| 2021 | US$ 53.212 → US$ 46.810 | -12,03% |
| 2020 | US$ 19.271 → US$ 29.347 | +52% |
| 2019 | US$ 7.158 → US$ 7.204 | +0,64% |
| 2018 | US$ 3.902 → US$ 3.696 | -5,29% |
| 2017 | US$ 12.174 → US$ 14.903 | +22,36% |
| 2016 | US$ 752 → US$ 998 | +32,71% |
| 2015 | US$ 390 → US$ 434 | +11,28% |
| 2014 | US$ 376 → US$ 313 | -16,77% |
| 2013 | US$ 989 → US$ 767 | -22,43% |
O “ouro digital” perdeu o brilho? Não exatamente.
Não é bem assim. O bitcoin é uma espécie de quimera. Segundo o pessoal da TAG Investimentos, de vez em quando ele se comporta como ouro e reserva de valor, mas nesse momento tem se comportado mais como um ativo de risco e de liquidez.
“As correlações mudam sempre, por definição, mas agora a correlação do bitcoin é com o Nasdaq e com a liquidez na economia global”, escreveram na carta mensal de dezembro. Mas aqui vale uma nota: a Nasdaq sobe 20% – e o BTC não acompanhou.
A Tag reforçou que, mesmo no momento ruim, a cripto virou ativo institucional: ETFs (fundos negociados em bolsa), tesourarias corporativas e fundos soberanos passaram a comprar. Até o JPMorgan, historicamente crítico a cripto, liberou produtos para clientes.
“Isso não volta atrás. Volatilidade permanece, mas legitimidade está consolidada”, escreveram.
As previsões que atrapalham
Mesmo mais institucionalizado, o bitcoin ainda convive com projeções de preço consideradas exageradas por parte do mercado. Parte dessa euforia pode ser explicada pelo comportamento quase religioso de alguns investidores, algo que o economista Paul Krugman, Nobel de Economia em 2008 e um dos principais haters do BTC, destacou recentemente.
Em texto publicado em novembro, ele voltou a dizer que o bitcoin só sobe porque funciona como uma seita – com fiéis que dobram a mão sempre que o preço cai.
“Esse status de culto permitiu que o bitcoin se recuperasse de contratempos e escândalos que teriam afundado qualquer investimento normal, porque os verdadeiros crentes respondem a qualquer queda em seu preço investindo mais do que nunca”, disse.
O que esperar para o restante de dezembro?
Há gatilhos positivos à frente, como a possível queda de juros nos Estados Unidos na próxima semana – algo que tende a favorecer ativos de risco. Por outro lado, uma alta de juros no Japão, como já sinalizado pelo BOJ (o banco central do país), pode afetar a liquidez global, respingado na cripto.
No geral, os traders estão mais pés no chão. Ana de Mattos, analista técnica e trader parceira da Ripio, disse que, se houver força compradora, as próximas resistências (níveis de preço onde a alta tende a encontrar dificuldade e pode desacelerar) estão nas áreas de US$ 94.500 e US$ 101.300.
Já os suportes (níveis de preço onde a queda tende a ser freada e pode se estabilizar) de curto e médio prazo estão nas regiões de liquidez dos US$ 85.600 e US$ 79.000.
Já Guilherme Prado, country manager da Bitget no Brasil, falou que apesar de o BTC operar na faixa dos US$ 93 mil, o mercado ainda observa a resistência crítica em US$ 98.500. “Superar esse nível seria essencial para reverter a tendência de queda que já dura semanas”, falou.
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