Um relatório do banco Safra aponta cinco empresas como as principais candidatas a antecipar esse benefício aos acionistas: Eztec, PetroReconcavo, Vale, Ambev e Cyrela. Essa análise levou em conta as reservas de lucros, a alavancagem (ou seja, o nível de endividamento), e os valores acumulados de lucro distribuíveis.
O analistas do Safra dizem que outras empresas de setores como alimentos e bebidas, mineração, construção e energia também poderiam ser candidatas a distribuição extraordinárias. A avaliação levou em conta se a companhia tem uma reserva relevante, alavancagem é inferior a 2 vezes (a relação entre dívida líquida e Ebitda) e os valores acumulados de lucros distribuíveis estão acima de 20% do valor de mercado.
O Itaú BBA também apontou a Vale como uma forte candidata a divulgar um pagamento extra ainda em 2025. Os argumentos dos especialistas da casa de análise apontam para um duplo incentivo: o de capturar os benefícios fiscais de uma distribuição de juros sobre capital próprio (JCP) e evitar a tributação futura sobre dividendos, que começa em janeiro de 2026.
Com os proventos distribuídos na forma de JCP, o acionista paga 15% de imposto de renda. Já a companhia pode deduzir o valor pago nos cálculos do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Os dividendos mínimos da Vale no primeiro semestre atingiram US$ 1,9 bilhão e o Safra estima que possa chegar a US$ 3,7 bilhões até o fim do ano se as condições de preço do minério de ferro e geração de caixa se mantiverem favoráveis.
Outro relatório divulgado pelo BTG Pactual aumenta essa lista de empresas com probabilidade de fazer pagamentos extras. O banco inclui na relação Gerdau, Unifique, Blau, Marcopolo, Eztec, Copel, Intelbras, Isa Energia, Energisa, C&A, PetroReconcavo e Usiminas, entre outras.
Já existem sinais de que algumas companhias podem estar de olho na janela antes que os dividendos passem a ser tributados. A transmissora de energia Taesa, por exemplo, aprovou a distribuição de R$ 323,3 milhões (R$ 0,94 por unit), sendo R$ 144,5 milhões em JCP e R$ 178,8 milhões em dividendos, equivalentes a 100% do lucro regulatório do trimestre. Trata-se de um montante 42% superior ao consenso das expectativas de analistas para o pagamento de proventos do grupo, de R$ 188 milhões relativos ao terceiro trimestre.
Outra empresa que surpreendeu após a divulgação dos resultados do terceiro trimestre foi a Petrobras. A gigante de óleo e gás anunciou o pagamento de R$ 12,12 bilhões, valor acima do esperado. Várias casas de análise como Itaú BBA, Santander e Ágora tinham um expectativa de distribuição em torno de US$ 2 bilhões ou R$ 10,8 bilhões.
Já a Axia (ex-Eletrobras) distribuirá R$ 4,3 bilhões, sob a forma de dividendos, utilizando parte do saldo da reserva estatutária. Somado ao pagamento já realizado em agosto, a distribuição total no ano vai alcançar R$ 8,3 bilhões. A cifra representa mais que o dobro dos proventos pagos em 2024.
Essa corrida se deve à lei que isenta do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) os contribuintes que recebem até R$ 5 mil por mês. Para compensar a perda de arrecadação, a legislação criou uma alíquota mínima de até 10% para indivíduos com renda anual acima de R$ 600 mil e passa a tributar dividendos superiores a esse piso, além das remessas de dividendos ao exterior.
As regas entram em vigor a partir de janeiro de 2026.
Os especialistas do Safra, Cauê Pinheiro, Carolina Carneiro, Yves Adam e Luana Nunes, que assinam a análise, alertam que uma eventual antecipação depende do espaço existente dentro dos “covenants” de dívida, ou seja, regras que estabelecem critérios de saúde financeira a serem obedecidos pelo tomador sob risco de ter a cobrança antecipada.
Na visão dos analistas, existem algumas informações do balanço que indicam que a empresa deve limitar a distribuição de proventos. Um deles é o índice que mede o endividamento da empresa: se a relação entre dívida e Ebitda estiver acima de 3 vezes, então a empresa deve colocar o pé no freio. Isso porque esses limites significam que a empresa pode estar perto de descumprir cláusulas de covenants (obrigações contratuais envolvendo uma série de medidas contábeis) caso aumentem os dividendos.
