Crise de Ambipar e Braskem pode respingar nos detentores de COE

Com reestruturação de dívidas em curso nas duas empresas, certificados podem passar por liquidação antecipada

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Os problemas enfrentados por Ambipar e Braskem não devem ficar restritos aos bancos e credores tradicionais. Uma parcela relevante de investidores também está exposta às companhias por meio de Certificados de Operações Estruturadas (COEs) atrelados a dívidas — e, portanto, corre o risco de sentir os efeitos da crise.

Com a possibilidade de pedidos de recuperação judicial ou extrajudicial se aproximando em ambos os casos, cresce a preocupação de que esses COEs sejam liquidados de forma antecipada. Nesse cenário, investidores que compraram esses produtos estruturados podem acabar registrando perdas no portfólio.

Não existem números consolidados sobre esse mercado, mas o InvestNews localizou pelo menos 41 emissões de COEs da Ambipar no mercado e 78 da Braskem, ligados a seus bonds – títulos de dívida emitidos no mercado internacional. Tecnicamente, esses COEs eram destinados a investidores de varejo: a maior parte deles tinha investimento mínimo de R$ 1 mil e poucos exigiam aportes mais altos, de R$ 5 mil.

Na lâmina – conjunto de regras e parâmetros – desses COEs, está definido que, caso haja algum evento de crédito (como uma RJ, recuperação extrajudicial ou uma renegociação de dívida), o emissor do certificado pode optar pelo vencimento antecipado. Nesse caso, o COE é desfeito, o bond é vendido ao preço que o mercado está pagando naquele momento e o investidor recebe seu dinheiro de volta.

O problema é que, nesse processo, o investidor provavelmente vai ter perdas. Afinal, os títulos de dívida da Braskem e da Ambipar derreteram desde que foram anunciados os processos de reestruturação de dívidas das empresas.

Atualmente, os bonds da Ambipar estão sendo negociados a um preço de 16% a 20% o valor de face. É o equivalente a afirmar que um título que foi emitido a US$ 1 hoje vale de US$ 0,16 a US$ 0,20 no mercado.

No caso da Braskem, os títulos são avaliados entre 35% a 40% do valor de face.

O InvestNews acessou um documento com COEs emitidos pelo BTG Pactual, sendo duas colocações da Braskem e oito da Ambipar, todas ligadas aos bonds das empresas. Procurado, o banco preferiu não comentar.

Também analisou uma lista de 33 COEs da Ambipar e 76 da Braskem distribuídos pela XP e constatou que os documentos de informações essenciais (DIE) de todos eles incluem cláusulas que determinam o vencimento antecipado em casos de eventos de crédito.

A XP não concedeu entrevista. Mas pessoas próximas à instituição informaram que clientes e assessores têm entrado em contato com os clientes. A orientação tem sido passar as informações sobre a situação das empresas, as condições do COE, os preços e os riscos de perdas para que o cliente decida ou não vender o certificado – o que implicaria aceitar um deságio, ou seja, um preço menor do que o negociado na compra.

Ainda segundo a fonte, o vencimento antecipado não será necessariamente o caminho adotado, porque a instituição ainda vai “avaliar o melhor cenário” conforme a evolução dos casos, na tentativa de obter alguma recuperação do ativo – em outras palavras, um preço melhor para os bonds para desmanchar o COE.

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