Depois do rali do Fed, lucro da Nvidia é o novo grande risco para mercado

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Os investidores respiram mais aliviados nesta semana depois que o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, indicou que cortes de juros estão a caminho. O próximo teste para o mercado de ações será medir o que tem sustentado os ganhos nos últimos anos: a euforia em torno da inteligência artificial.

O sentimento estava fraco até sexta-feira, com o índice S&P 500 acumulando cinco quedas consecutivas — sua maior sequência negativa desde janeiro — à medida que profissionais de Wall Street reduziram apostas de que o Fed cortaria os custos de empréstimo. Os comentários de Powell dissiparam essas preocupações, levando o S&P 500 a ter seu melhor dia desde maio e a ficar a menos de dois pontos de um recorde.

Agora vem a Nvidia, que divulgará os resultados trimestrais na quarta-feira, após o fechamento do mercado. Investidores esperam que a empresa consiga acalmar temores sobre os gastos com IA e, na prática, confirmar que o rali recente das bolsas não é apenas uma bolha tecnológica.

“A Nvidia é crucial para o mercado porque qualquer sinal de força adicional será o combustível para incendiar ainda mais essa alta”, disse Eric Beiley, diretor-executivo de gestão de patrimônio da Steward Partners. “O risco iminente é que todo esse investimento em IA já esteja no auge e não entregue resultados, ou se o guidance for cauteloso, o que abalaria os mercados.” Ele possui ações, mas afirmou ter começado a montar proteções após a disparada dos papéis.

O tamanho da Nvidia — hoje o maior peso do S&P 500, com quase 8% — e sua posição central no desenvolvimento de IA a transformaram em um termômetro para o mercado como um todo. Os chips da gigante de tecnologia estão em todo lugar: 40% de sua receita vem de Meta Platforms, Microsoft, Alphabet e Amazon — todas também entre as 10 maiores posições do S&P 500.

Tudo isso faz com que o balanço trimestral da Nvidia e suas projeções se tornem um grande evento para os mercados.

Pressão máxima

“A pressão continua muito intensa”, disse Kim Forrest, CIO da Bokeh Capital Partners. “Grande parte do mercado nos últimos dois anos foi construída em cima da Nvidia e suas parceiras. Então eu estou um pouco nervosa.”

Isso não significa que investidores estejam no escuro. As big techs clientes da Nvidia já reportaram resultados sólidos nesta temporada, incluindo planos de aumentar os bilhões investidos em capex — um sinal positivo para o desempenho e perspectivas da fabricante de chips.

“Muitas vezes, a Nvidia divulga resultados justamente em momentos de questionamento do setor de tecnologia — e isso certamente ocorreu nas últimas duas semanas”, disse Art Hogan, estrategista-chefe da B. Riley Wealth. “A Nvidia tem potencial para ser um catalisador positivo.”

As ações da Nvidia subiram 1,7% na sexta-feira, quebrando uma sequência de três quedas — a mais longa em um mês — e ficaram a menos de 3% da máxima histórica registrada no início de agosto. Analistas de Wall Street projetam lucro ajustado de US$ 1,01 por ação no segundo trimestre fiscal, alta de 48% sobre o ano anterior, com receita acima de US$ 46 bilhões, crescimento de 54%.

Claro que, assim como um bom resultado pode impulsionar as ações e o mercado como um todo, qualquer decepção — real ou percebida — pode interromper o rali e pesar fortemente para baixo. Operadores de opções precificam movimento de 6% para qualquer lado, segundo dados da Bloomberg.

Embora juros mais baixos favoreçam ações de crescimento como a Nvidia, eles não resolvem a preocupação com valuations elevados. O S&P 500 é negociado a cerca de 22 vezes o lucro projetado, acima da média de 10 anos de 19 vezes. A Nvidia está a aproximadamente 34 vezes seu P/L futuro combinado, abaixo da média de cinco anos (39 vezes).

Valuations nas alturas

“As avaliações estão em níveis estratosféricos”, disse Beiley, da Steward. “Ainda assim, os investidores continuam a ignorar isso com a expectativa de que essas queridinhas da IA sigam entregando resultados estelares.”

Um dos maiores questionamentos sobre a Nvidia é se conseguirá vender na China. O governo Trump recentemente autorizou Nvidia e AMD a retomarem vendas no país, desde que entreguem 15% da receita ao governo americano. Mas Pequim incentivou empresas locais a evitarem o chip H20 da Nvidia, projetado para a China, levando a companhia a pedir que fornecedores suspendessem a produção, segundo reportagem do The Information.

“A expectativa do mercado era de que a Nvidia voltaria a vender na China”, disse Michael O’Rourke, estrategista-chefe da Jonestrading. “O problema agora é que o governo dos EUA alegou permitir as vendas do H20 por serem quase obsoletas — e a China se ofendeu. Além disso, há o temor de que os EUA usem chips da Nvidia para criar backdoors na tecnologia chinesa.”

Apesar das incertezas, analistas seguem otimistas. Só na última semana, pelo menos nove dos 79 analistas que cobrem a empresa elevaram os preços-alvo, projetando um balanço sólido. A média agora supera US$ 194, implicando potencial de alta de 9% sobre o fechamento de sexta-feira, de US$ 178.

Claro que o relatório da Nvidia não será o único catalisador da semana. Investidores também estarão atentos aos dados de inflação do índice de gastos com consumo pessoal (PCE core), que sai na sexta-feira. Ainda assim, as preocupações de que os resultados da companhia possam disparar uma correção seguem dominando o pensamento em Wall Street.

“Eu estou preocupado”, disse Beiley. “A economia enfrenta tarifas e desaceleração no emprego. Essas ações caras estão maduras para uma forte queda caso haja alguma má notícia, com o mercado como um todo exposto ao risco da concentração.”

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