A vida ficou 0,25 ponto percentual mais difícil para o dólar desde a quarta-feira (17), quando o o Federal Reserve, o Fed, cortou as taxas pela primeira vez desde dezembro de 2024. Parece pouco agora, mas o o banco central dos EUA já sinalizou mais cortes pela frente, o que significa que a diferença entre os juros brasileiros e americanos só vai aumentar até o fim do ano.
Essa perspectiva reforça a possibilidade de o dólar se manter mais fraco frente ao real nos próximos meses. Se o BC dos EUA entregar os dois cortes previstos ainda em 2025, a distância entre os juros nos Estados Unidos e no Brasil aumenta em mais 0,50 ponto, comparado ao nível atual.
A vantagem para o investidor trazer seus dólares para o mercado local vai aumentar consideravelmente. Vai estar em uma faixa entre de 11,25 a 11,5 pontos acima do nível de retorno de curto prazo da renda fixa nos EUA.
Os 15% pagos pela Selic atualmente representam um ganho de mais de três vezes e meio o retorno dos juros nos EUA. Isso é claro sem considerar o efeito do câmbio.
Essa diferença entre as taxas é conhecida no mercado como o diferencial de juros. E quanto maior, mais atrativo se torna a remuneração doméstica para o investidor global.
O resultado esperado é um aumento no fluxo de recursos para o mercado brasileiro. E, como consequência, uma pressão extra para a queda da cotação da moeda americana ante o real.
Nesta quinta-feira, o dólar se mantém na casas dos R$ 5,30, às 15h30, em leve queda de 0,21%. Na mínima do dia, a divisa dos EUA chegou a cair para R$ 5,27. A moeda americana acumula um recuo de 15,87% no ano até 18 de setembro.
Esse cenário de dólar mais fraco tem uma maior possibilidade de durar, ao menos, até o fim do ano. Isso diante da sinalização do Fed de que pretende entregar mais dois cortes, em outubro e em dezembro. Mas, depois, as perspectivas são incertas.
O momento de real forte é resultado direto de um processo global de busca de diversificação em ativos fora dos EUA. Conforme os investidores buscam outros mercados, enviam seus dólares para o resto do mundo. Resultado: a oferta de moeda americana aumenta no resto do mundo, e o preço dela cai.
É um ciclo virtuoso para o real. Os investimentos aumentam a oferta de dólar no Brasil. Nossa moeda valoriza. Isso traz mais dinheiro de fora, a fim de ganhar com a alta do real. Uma coisa retroalimenta a outra.
A economista do ASA, Andressa Durão, ressalta que o diferencial dos juros atual é significativo. Mas, na visão da especialista, a maior parte do avanço potencial do real já está contemplada na atual cotação, perto de R$ 5,30. Enquanto o Fed continuar a cortar e o BC brasileiro mantiver as taxas inalteradas, a tendência é de o dólar se manter mais fraco, ainda que, potencialmente, tem pouco espaço para cair mais.
O relatório Focus do BC mostra que os agentes econômicos enxergam o dólar em R$ 5,50 no fim de 2025, portanto, 3,8% acima do patamar atual. Isso em um momento que o mercado já apostava 100% das fichas no corte de 0,25 ponto pelo Fed, o que realmente ocorreu.
O problema está nos passos que o Fed ainda não sinalizou. “O mercado parece que ainda não está levando em conta o risco inflacionário das tarifas.” Durão acredita que os custos mais altos para importadores nos EUA vão começar a ser repassados para os preços entre o fim e o começo do próximo ano.
O ASA projeta, inclusive, uma pausa nos cortes de juros pelo Fed ao longo de todo o ano que vem. “Acho que tem um risco maior de a inflação ficar acima do previsto em 2026”, diz. Nesse cenário, o BC americano poderia ser forçado a reavaliar o rumo da política monetária.
O próprio Fed, no relatório de projeções econômicas divulgado junto com a decisão de quarta-feira, indicou que a mediana de estimativas dos integrantes do BC que decidem sobre os juros indica a possibilidade de apenas um corte em 2026.
Nesse caso, o dólar passaria a se fortalecer diante das incertezas criadas em torno da continuidade do ciclo de queda das taxas. “Se no fim do ciclo de corte de juros a taxa ficar mais elevada do que o mercado espera, nesse caso, o Brasil não seria mais beneficiado.”
Conforme a economista, o risco para 2026 seria de o Copom manter uma posição mais favorável aos cortes, enquanto o Fomc endurece a comunicação. “Na nossa visão o Fed entrega os dois cortes neste ano e depois não corta mais”, afirma Durão.
A mudança de posicionamento levaria à expectativa do acontecer o movimento contrário ao atual, com o diferencial de juros diminuindo ao longo do meses. E isso seria como desligar o motor que tem impulsionado a valorização do real.