A questão tributária ainda será definida pela Receita Federal, mas há expectativa de que essas transações com cripto passem a pagar imposto sobre operações financeiras (IOF), como ocorre nas remessas tradicionais. Isso levanta uma dúvida: o dólar digital (como são chamadas as stablecoins atreladas à moeda americaa) pode perder o apelo entre os brasileiros e deixar de ser usado em aplicativos como DolarApp e companhia?
Especialistas dizem que, em um primeiro momento, por causa do susto, a tributação pode reduzir o uso dessas criptos sim, já que parte do interesse atual vem justamente da isenção de impostos. Em outubro, por exemplo, o volume negociado do USDT – stablecoin emitida pela Tether – chegou a R$ 10 bilhões no país, segundo dados da plataforma biscoint.
No entanto, além das vantagens tributárias, as stablecoins seguem oferecendo outros atrativos em relação ao modelo tradicional – como maior velocidade nas transações, menores custos operacionais e simplicidade de uso -, apontam os especialistas. E isso pode manter o interesse.
“Mesmo que hoje as stablecoins tenham uma alavancagem natural por não pagarem o IOF (e possivelmente percam isso), eventualmente as pessoas vão usá-las como se fosse o PIX. Essas criptos liquidam quase instantaneamente, não demora dois, três, quatro dias para chegar, como no modelo tradicional”, disse Lucca Freire, fundador e CEO da UnblockPay.
Em uma remessa internacional, por exemplo, o envio de stablecoins é praticamente imediato e funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, dentro de uma blockchain (a tecnologia por trás das criptomoedas). No sistema tradicional via SWIFT, o dinheiro pode levar de dois a quatro dias úteis para chegar ao destino.
O spread (diferença entre o preço de compra e o de venda de uma moeda) costuma ser menor nas stablecoins porque há menos intermediários. No caso do modelo tradicional, por outro lado, há vários, como correspondentes cambiais, operadores de SWIFT e bancos do país de destino, o que encarece o valor.
Cripto a câmbio
Mychel Mendes, CFO da Tokeniza, também prefere ver o copo meio cheio. Ele reconhece que, idealmente, as stablecoins deveriam continuar isentas de IOF, mas avalia que a inclusão desses ativos no mercado de câmbio pode abrir um novo espaço – e, no fim das contas, beneficiar o usuário.
“Imagine o tamanho do mercado de câmbio que já paga IOF e que poderia migrar para o mercado cripto em busca de custos mais baixos. Estou falando de custo de transação, de movimentação, de velocidade e de simplicidade – muito menos burocracia”, disse.
Veja as cotações das principais criptomoedas às 7h40:
Bitcoin (BTC): -0,85%, US$ 105.174,47
Ethereum (ETH): -1,46%, US$ 3.556,35
XRP (XRP): -3,56%, US$ 2,46
BNB (BNB): -2,13%, US$ 978,83
Solana (SOL): -2,87%, US$ 163,51
Outros destaques do mercado cripto
ETFs que brilham. Os fundos negociados em bolsa (ETFs) à vista de Solana, lançados no fim de outubro nos Estados Unidos, seguem em forte ascensão. Os produtos financeiros lastreados na 6ª maior criptomoeda do mercado completaram ontem 10 dias consecutivos de entradas líquidas. Só na segunda, foram US$ 6,78 milhões, segundo dados da plataforma SoSoValue. O destaque foi o BSOL, da Bitwise, que liderou com US$ 5,92 milhões em aportes. Já o GSOL, da Grayscale, registrou US$ 854,48 mil em entradas. No total, os dois fundos têm US$ 342,48 milhões.
Mais um país quer surfar a onda cripto. De acordo com a Bloomberg, o governo do Cazaquistão planeja criar um fundo nacional de reserva em criptomoedas, avaliado entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão. A ideia é reunir ativos digitais apreendidos ou repatriados do exterior, dando nova destinação a esses recursos. O projeto, previsto para começar em 2026, colocaria o país na lista de cerca de dez governos que já mantêm reservas em criptoativos.