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Investir em dólar em 2026 faz sentido para os brasileiros?

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Fazer previsões sobre investimentos internacionais e dólar nunca é simples – e fica ainda mais difícil quando o cenário reúne incertezas sobre juros, conflitos geopolíticos e eleições no Brasil. Ainda assim, alguns sinais começam a se desenhar e podem ajudar o investidor a pelo menos calibrar decisões para 2026.

O principal é o enfraquecimento do dólar no cenário global. Há certo consenso entre as casas de análise de que a moeda americana tende a perder valor. Não por acaso, bancos centrais vêm aumentando a parcela de ouro em suas reservas, em detrimento do dólar. Três fatores ajudam a explicar esse movimento:

Juros: boa parte do mercado trabalha com a hipótese de cortes de juros nos Estados Unidos em 2026. Quando as taxas caem, os títulos em dólar perdem parte da atratividade, o que tende a direcionar capital para outros ativos.

Inflação: a inflação americana segue mais elevada do que a da zona do euro e de outras economias desenvolvidas. Isso corrói o poder de compra do dólar frente a essas moedas.

Fiscal: O governo dos Estados Unidos vem ampliando gastos e elevando o déficit fiscal. Esse desequilíbrio pesa sobre a percepção do dólar como moeda porto seguro e como reserva de valor global.

Mas isso significa que o brasileiro deve evitar o dólar ou reduzir a exposição? Não necessariamente.

Por que vale ter exposição ao dólar?

Primeiro, porque a moeda segue forte no contexto internacional – o que se discute é uma redução marginal de exposição, não um abandono, e isso para quem já tem a divisa na carteira. E, segundo, porque a realidade do investidor brasileiro é distinta da do investidor global.

“O percentual alocado em outras moedas fortes nas carteiras de brasileiros é muito pequeno. Então, é preciso ajustar algo que está muito fora do padrão global. Na verdade, o Brasil é que é muito diferente do mundo, nesse sentido”, afirmou William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.

Até 31 de dezembro de 2024, somente 29.068 brasileiros declararam ter ativos no exterior, segundo dados do Banco Central. É pouco. Só na renda fixa local, há pouco mais de 100 milhões de brasileiros, enquanto na renda variável há cerca de 5,4 milhões, segundo dados da B3.

Outro ponto, segundo Alves, é que 2026 tende a ser um ano de elevada volatilidade, impulsionada pela incerteza eleitoral no Brasil. Nos últimos dias, o mercado já teve uma amostra disso, com anúncios de candidaturas, pesquisas e ruídos políticos.

“Para o investidor brasileiro, como forma de proteção diante de um cenário tão binário, é fundamental ter exposição ao dólar”, disse.

Quando se fala em investir na moeda americana, muita gente pensa imediatamente em comprar dólar em uma casa de câmbio. É uma possibilidade, claro, mas não a única. Há alternativas tanto na renda fixa quanto na renda variável.

Renda fixa em dólar

Com a expectativa de queda de juros nos EUA e um possível enfraquecimento do dólar, a tendência é que os Treasuries – os títulos do governo americano – passem a oferecer retornos menores.

Ainda assim, segundo especialistas, é possível encontrar papéis de crédito privado pagando entre 5% e 6% ao ano em dólar. São ativos mais arriscados do que os Treasuries, consideradas as mais seguras do mercado, mas que compensam com rendimento maior.

“O mercado de renda fixa americano é muito pujante. Vemos essas alocações muito mais como estratégicas e perenes dentro do portfólio do que como apostas táticas em oportunidades pontuais”, afirmou Juan Schiavo, portfolio manager da Cimo Family Office.

Renda variável

É impossível falar de renda variável no exterior sem olhar para o S&P 500, principal índice de ações dos Estados Unidos. Em 2025, ele ficou atrás do Ibovespa – subiu 16%, contra alta de 35% do índice brasileiro. Ainda assim, o histórico joga a favor do gigante: entre 1950 e 2024, o índice avançou, em média, 9,3% ao ano, segundo dados da Avenue.

De acordo com o BTG Pactual, a dinâmica de lucros das empresas americanas segue favorável. “O consenso projeta para 2026 um crescimento de aproximadamente 11% nos lucros do S&P 500, liderado por Tecnologia (+14%), Comunicações (+11%) e Energia (+9%)”, afirmou o banco em relatório.

A principal narrativa, portanto, deve continuar sendo a mesma: a tal da inteligência artificial. Apesar do debate sobre possíveis excessos e até uma pequena bolha, é no próximo ano que devem ficar mais evidentes as “profundas transformações econômicas e sociais provocadas por essa nova inovação”, segundo a XP.

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Na visão de Schiavo, o setor de tecnologia nos EUA se tornou tão grande que hoje é o principal driver dos mercados globais.

Riscos

Investir no exterior, como qualquer investimento, envolve riscos. Um dos principais é a oscilação cambial: a valorização do dólar pode ampliar ganhos, mas o movimento inverso tem impacto direto sobre o retorno em reais. O último boletim Focus do Banco Central projeta o dólar na faixa dos R$ 5,50 para 2026, o mesmo patamar deste ano.

Além disso, fatores políticos e econômicos do país onde o capital está alocado pesam bastante. Mudanças na política monetária (lembrando que os EUA terão um novo presidente no seu banco central ano que vem), crises institucionais ou até declarações de líderes influentes – Donald Trump que o diga – podem gerar volatilidade e alterar rapidamente o humor do mercado, mesmo em economias consideradas estáveis, como a americana.

Quanto investir em dólar?

Definir quanto do patrimônio deve estar exposto ao dólar não tem resposta única. A alocação ideal varia conforme renda, padrão de consumo e objetivos financeiros. Ainda assim, alguns estudos ajudam a oferecer um ponto de partida mais concreto para quem busca proteção cambial e diversificação internacional.

Um levantamento divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) no início deste ano mostrou que a variação do dólar impacta entre 16% e 18% da cesta de consumo dos brasileiros, a depender da faixa de renda. Com base nisso, o estudo sugere que manter algo próximo a esse percentual aplicado em ativos internacionais – especialmente atrelados à moeda americana – pode ajudar a equilibrar os efeitos do câmbio no dia a dia.

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