Somando dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) anunciados, o valor já chega a R$ 69 bilhões. Em alguns casos, os pagamentos já foram feitos. Em outros, a distribuição ainda não aconteceu, mas o prazo para o investidor ter a ação na carteira e garantir o dinheiro também terminou. Mas para muitas empresas, ainda dá tempo para o investidor comprar as ações e participar da distribuição.
No caso da Ambev, o dividendo bilionário divulgado recentemente elevou para R$ 13,2 bilhões o total de proventos declarados e a serem pagos pela empresa em 2025.
Por que essa pressa?
O gatilho é simples: a partir de 2026, dividendos acima de R$ 50 mil por mês terão cobrança de 10% de IR na fonte. Já o JCP, que muitas empresas usam como alternativa ao dividendo, já é tributado em 15% atualmente.
Com o fim da isenção se aproximando, companhias buscam formas de adiantar pagamentos ou encontrar caminhos indiretos de remunerar o acionista.
Quando a remuneração não vem em dinheiro
É o caso da Axia. A empresa convocou uma assembleia para 19 de dezembro com o objetivo de aprovar a distribuição de parte — ou até de toda — sua reserva de lucros, que somava R$ 39,9 bilhões no terceiro trimestre. Isso além dos R$ 4,3 bilhões em dividendos já anunciados.
A ideia é fazer essa remuneração por meio da criação de uma nova classe de ações preferenciais (PN), que poderá ser convertida em ações ordinárias até 2031. Cada acionista receberá essas PNs na mesma proporção da fatia que já possui na companhia.
A Localiza segue um caminho semelhante. O conselho convocou assembleia para 29 de dezembro para propor a emissão de uma ação PN resgatável, com os mesmos direitos das ações ordinárias, inclusive voto. O plano vem acompanhado de um aumento de capital de R$ 2 bilhões, feito sem colocar dinheiro novo — apenas usando parte das reservas da empresa.
O que as empresas ganham com isso?
O uso de ações preferenciais resgatáveis é uma forma de remunerar o acionista sem reduzir a participação dele e sem comprometer o caixa da empresa.
Na prática, o aumento de capital baseado em reservas próprias gera valor ao investidor porque:
- é distribuído como uma bonificação;
- não exige desembolso da companhia;
- ocorre enquanto a isenção do IR ainda está valendo.
Ou seja, a empresa reforça sua estrutura, aumenta o valor para o acionista e oferece um tipo de ganho indireto — mesmo sem colocar dinheiro direto no bolso do investidor.