Entenda o que está por trás do tombo de 37% das ações da Gol nesta segunda-feira

Diversas casas de análise, como o BTG Pactual e Bradesco BBI, tem recomendado a venda dos direitos de subscrição.

As ações da Gol Linhas Aéreas viveram nesta segunda-feira um dia de pouso forçado. O papel preferencial (PN) caiu 37,93%. Por trás desse movimento há um fato: o fim do prazo de subscrição das novas ações emitidas no processo de aumento de capital de R$ 12 bilhões da companhia. Mas também existem muitas interrogações.

O direito de subscrição é a preferência de que quem tinha ações da companhia até dia 11 de junho para adquirir os novos papéis emitidos no aumento de capital. Cada novo papel individualmente foi emitido com um valor de R$ 0,01 e o acionista pode subscrever 2.861 novas unidades para cada ação que já detinha.

Diversas casas de análise, como o BTG Pactual e Bradesco BBI, recomendaram a venda dos direitos de subscrição. Ou seja, que, após fazer a opção, ele passe para outro investidor os recibos a que ele tem direito e, portanto reduza a exposição ou até deixe de ser acionista. Isso porque a situação econômica da Gol ainda está frágil e o processo de recuperação ainda está em andamento.

O nível de endividamento, medido pela relação entre a dívida líquida – de R$ 31 bilhões no 1º trimestre de 2025 – e o ebtida, alcança 5,8 vezes. Trata-se de um patamar que torna a empresa ainda vulnerável a mudanças de condições de financiamento. A companhia tem como meta reduzir esse endividamento para abaixo de 3 vezes até 2029.

Caso o investidor mantenha os recibos e decida aderir à subscrição, ele vai manter a participação original. A previsão é de que 1,2 trilhão de ações sejam emitidas nesse processo. Portanto, quem não fizer a subscrição vai ser diluído em 99,8% – na prática, vai perder o investimento. O prazo para a opção se encerra nesta segunda-feira.

A forte queda do papel reflete ainda uma correção que já ocorre há algumas semanas. Em 12 de junho, a companhia estreou a negociação de lotes de 1.000 ações com preço base de R$ 10 e novos tickers GOLL53, para as ordinárias, e GOLL54, para as preferenciais. Naquele pregão, sem referência de negociação, os lotes tiveram valorização de 1.886% em um dia. Na sessão seguinte, houve uma subida de mais 250% e a Gol chegou a valer R$ 240 bilhões.

Houve uma confusão a partir da negociação em lotes. Porque na tela, de uma hora para outra, o investidor começou a ver o papel ser negociado a mais de R$ 230, o que sugeria uma valorização extrema. Mas, na realidade, o preço unitário da ação deveria ser calculado dividindo-se o preço de tela por 1.000. Isso resultaria em um valor de centavos. No dia da mudança, a falta de referência acabou impulsionando artificialmente os lotes.

De lá para cá, o papel passa por um movimento de ajuste. A GOLL54 negocia atualmente na casa de R$ 26, o que devolve o valor de mercado da aérea para a casa de R$ 8,3 bilhões.

No processo de subscrição, o acionista que optar por manter o mesmo nível de participação na aérea vai receber recibos com o ticker GOLL10, que poderão ser negociados na B3 no mercado à vista até serem convertidos em ações. O processo de conversão pode levar semanas. De qualquer modo, os novos papéis que vão ser subscritos equivalem a cerca de 12% de participação na aérea, percentual que vai compor o chamado “free float”, ou seja, a parcela negociada na B3.

A maior parte do bolo pertence à holding Abra que, após o fim do processo de recuperação judicial dentro das regras do Chapter 11, nos EUA, em 6 de junho, se tornou o novo controlador da companhia com quase 80% das ações.

O grupo se consolidou como o dono de fato da Gol Linhas Aéreas após a execução do plano de reestruturação das dívidas. O percentual foi alcançado após o controlador aceitar receber US$ 950 milhões em novas ações, além de US$ 850 milhões em dívidas reestruturadas dentro do plano de recuperação.

O grupo Abra formado em 2022 foi fruto do casamento entre os principais acionistas da colombiana Avianca, os fundos Kingsland, Elliot e Salt Lake One, e os controladores da Gol, a família Constantino. Os fundadores da Gol detêm diretamente a totalidade das ações ordinárias (ONs, com direito a voto) da aérea brasileira e 45,16% das preferenciais (PNs, sem direito a voto, mas com precedência no recebimento de dividendos) por meio do fundo Mobi. Antes da reestruturação, a participação dos Constantino alcançava 53,7% do capital da companhia de aviação.

A holding que hoje controla a Avianca e a Gol, além dos programas de milhagem LifeMiles e Smiles, tem na presidência executiva o ex-CEO da Gol e atual presidente executivo do conselho da aérea, Constantino Oliveira Jr. Já o CEO é o atual vice-presidente executivo da Avianca, o colombiano Adrian Neuhauser. Além dos dois, o salvadorenho Roberto Kriete, ex-TACA e ex-Avianca, chefia o conselho de investidores.

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