Fundo usado pela Virgo em operação de alto risco com reserva de CRIs é fechado para resgates

Fundos de despesas de CRIs emitidos pela própria Virgo foram investidos no fundo Allocation

A Virgo Securitizadora, envolvida em um escândalo de uso inadequado de fundos de reserva de despesas de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), informou hoje que o fundo Allocation, usado para a manobra, foi fechado para resgates. A decisão, tomada pela administradora BRL Trust, impede a Virgo de acessar os recursos – a securitizadora é o único cotista do Allocation – até que a situação seja avaliada, para evitar que o funcionamento do fundo seja comprometido e que os preços dos ativos sofram oscilações severas.

A medida tomada pela BRL é relevante porque, com o fechamento do Allocation, os recursos dos fundos de reserva que ainda estão lá dentro não podem ser resgatados. Esse é o dever fiduciário dos administradores em momentos de crise para garantir o funcionamento adequado dos veículos de investimentos. A BRL também já enviou questionamentos à Virgo a respeito do tema.

A Virgo, segunda maior securitizadora do país, com R$ 90 bilhões sob gestão fiduciária, está no centro de um furacão, após ter usado fundos de reserva de CRIs estruturados por ela mesma para investimento no Allocation, um fundo cujos recursos foram dados como garantia de compra para uma operação de CRIs que a Virgo também havia estruturado, conforme revelou o InvestNews.

O fundo Allocation investiu seus recursos em CRIs da Oncoclínicas no modelo built-to-suit – quando um imóvel é construído sob medida para o inquilino, com contrato de aluguel de longo prazo. O regulamento do fundo permite a exposição a ativos dessa natureza, que podem gerar perdas substanciais ao patrimônio – razão pela qual ele não seria adequado para os fundos de reserva, que precisam ficar expostos apenas a ativos conservadores, com baixa volatilidade. 

Fontes próximas à Virgo defendem que o investimento no Allocation respeitou as regras permitidas. Mas os fundos de reserva – por melhores práticas de governança e como amplamente praticado pelo mercado – precisam estar expostos a ativos de baixo risco porque seus recursos asseguram o patrimônio dos investidores dos CRIs. São esses fundos que garantem o “colchão de segurança” das emissões, para pagamentos em caso de inadimplência e outros problemas.

A Virgo também enfrenta uma disputa sobre quem são os responsáveis pelo investimento questionado pelo mercado. Documentações enviadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a que o InvestNews teve acesso, trazem conversas envolvendo o fundador da empresa, Ivo Kos, com o ex-diretor Eduardo Levy, e a autarquia deve analisar as informações. 

Segundo o fato relevante enviado ao mercado hoje, a Virgo afirma que vai estabelecer interlocução junto à BRL para “adequada compreensão de todos os efeitos da medida” e para “adoção das providências necessárias para a sua remediação”. 

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