Investidores globais aumentam proteção contra queda do dólar

Desde meados do ano, os fluxos para fundos negociados em bolsa com hedge em dólar ultrapassaram os fundos sem proteção

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Toda a ansiedade em torno do Sell America (Venda os Estados Unidos) que circulou nos mercados neste ano estava equivocada.

O verdadeiro mantra dos investidores globais é mais Hedge America, ou seja, continuar comprando ações e títulos dos EUA, mas fazer isso enquanto compram derivativos que protegem estes investimentos contra qualquer queda do dólar.

Desde meados do ano, e pela primeira vez nesta década, os fluxos para fundos negociados em bolsa com hedge em dólar que compram ativos dos EUA ultrapassaram os fundos sem hedge. A observação foi feita pelo Deutsche Bank, que informou que a mudança ocorreu em um compasso sem precedentes.

O que se resume é que a noção de excepcionalismo dos mercados americanos, que parecia em perigo depois das tarifas de Trump, está viva com uma ressalva. “Evitando a exposição ao dólar”, disse Laura Cooper, estrategista de investimentos globais da Nuveen em Londres.

Hedge X dólar

O hedge — que envolve o uso de derivativos para apostar contra a principal moeda de reserva mundial — ajuda a explicar por que o dólar está oscilando em torno de seu nível mais fraco desde 2022, mesmo com a valorização das ações dos EUA.

E a perspectiva de mais cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve dá um choque no fenômeno ao tornar mais barato para investidores globais mitigar o risco cambial que acompanha o investimento nos EUA.

“Minha sensação é que a maior parte do ajuste ainda está por vir”, disse Sahil Mahtani, diretor do Investment Institute, da Ninety One Asset Management, em Londres.

Proteção de US$ 1 trilhão contra o dólar

Segundo estimativas de Mahtani, a onda de novas proteções contra o dólar poderia, em última análise, somar cerca de US$ 1 trilhão.

Isso apenas traria os níveis de proteção dos investidores globais, que detêm mais de US$ 30 trilhões em ações e títulos dos EUA, de volta aos níveis da década passada.

Bancos como State Street, Deutsche Bank, BNP Paribas e o Societe Generale antecipam que o hedge pesará sobre o dólar ao longo do próximo ano.

Essa pressão sugere que, no mínimo, a moeda terá dificuldade para se recuperar da queda de cerca de 9% em 2025, especialmente com o Banco Central Europeu. O BCE está em compasso de espera por enquanto. O Banco do Japão deve elevar os juros já no final deste ano.

Um dos métodos de hedge mais populares entre investidores estrangeiros envolve a venda de dólares a termo para travar as taxas de câmbio.

Isso frequentemente se traduz em maior pressão de venda sobre o dólar no mercado à vista. O custo da transação é, em grande parte, uma função dos diferenciais da taxa de juros entre os EUA e a outra moeda.

As preocupações em torno do dólar, tradicionalmente um refúgio para investidores em tempos de estresse econômico, se intensificaram após a implementação de tarifas por Trump.

Quando as ações e os títulos dos EUA despencaram, o dólar também recuou, sugerindo que os gestores buscavam abrigo em outras moedas, como o franco suíço, o euro e o iene.

Outras classes de ativos americanos se recuperaram desde então, em particular as ações, mas o dólar teve seu pior desempenho no primeiro semestre desde a década de 1970.

O hedge contribuiu para a queda. Essa atividade de investidores de fora dos EUA foi “um fator importante” para a fraqueza do dólar em abril e maio, disse o Banco de Compensações Internacionais.

Trump contra fundamentos do dólar forte

Para os investidores nervosos com a possibilidade de Trump estar corroendo os fundamentos que sustentam um dólar forte, as preocupações vão muito além das tarifas.

Há também a campanha sem precedentes do presidente para remodelar o conselho do Fed. Vimos a pressão para que o banco central reduza os juros, a demissão de um importante responsável por dados do governo após um relatório de empregos do qual Trump não gostou, as rixas do presidente dos EUA com aliados estrangeiros de longa data e até mesmo a crescente repressão a grupos de oposição e mídia.

Steven Barrow, estrategista do Standard Bank em Londres, escreveu o seguinte para seus clientes: “Se houver especulação de que o Fed está inflando a economia com cortes de juros por causa da pressão da Casa Branca, faria sentido gostar do mercado de ações dos EUA e de Treasuries, e odiar o dólar.”

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