Em uma situação de piora no cenário econômico, o investidor que vai comprar o título exige uma remuneração maior. Daí vem o efeito: quando as taxas sobem na renda fixa, caso de títulos como Tesouro IPCA+, os preços caem. Ou seja, o investidor passou a ver o saldo em reais da sua carteira menor nesta segunda-feira (8), comparado ao melhor momento do ano, registrado na semana passada.
O título Tesouro IPCA+ 2040, por exemplo, que havia estabelecido uma nova mínima na semana passada com uma taxa de 6,82%, voltou para o patamar de 6,93% ao ano. A queda do valor do papel foi de 1,41%.
Já o preço do título atrelado à inflação de prazo mais curto oferecido na plataforma, o Tesouro IPCA+ 2029, teve um recuo de 0,5% desde a quinta-feira da última semana até hoje. A taxa do papel voltou para 7,82% ao ano, ante a mínima de 7,64% marcada na semana passada.
O preço do Tesouro IPCA+ 2050 caiu ainda mais entre o pico da semana anterior e agora: 2%. Quanto mais longo o vencimento, mais volátil o título. Ou seja: as altas e baixas vêm mais bruscas nesses casos.
Mas essa é a fotografia do momento. No filme do ano inteiro, os papéis acumulam altas expressivas nos preços (e consequentemente queda nas taxas). Isso porque os títulos começaram 2025 com taxas para lá de elevadas, perto ou acima de 8% ao ano.
No fim de 2024, os mercados estavam agitados porque, nessa época, o risco fiscal ganhou muita força, devido ao anúncio dos pacotes de ajuste de gastos (que acabou sendo de isenções) pelo governo. Até mesmo o dólar reagiu e superou os R$ 6.
De lá para cá, o cenário ficou mais ameno devido ao início dos cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), em setembro. Com o ciclo de queda das taxas lá fora, a moeda americana voltou para a casa dos R$ 5,40.
No acumulado de pouco mais de 11 meses de 2025, os preços dos títulos refletem essa melhora de cenário, com uma variação positiva: o Tesouro IPCA+ 2029 registra alta de 11,5%. Já o Tesouro IPCA+ 2040 avança 16,7% desde fevereiro, quando estreou no Tesouro Direto. O papel mais longo, o Tesouro IPCA+ 2050, que também entrou na plataforma em fevereiro, tem avanço de 25,3% neste ano.
De qualquer modo, o cenário volta a ficar turbulento de novo neste final de ano. O gatilho para a movimento foi a notícia, na sexta-feira (5), de que o ex-presidente Jair Bolsonaro indicou o seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, como seu “candidato oficial” na corrida presidencial. O problema é que o mercado identificou o movimento como uma evidência de divisão na direita.
Os investidores não escondem que seu nome preferido para a disputa eleitoral é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, com a agenda liberal que ele poderia trazer. No entanto, mesmo que Tarcísio ou outro nome da direita disputem o pleito, sabe-se que Bolsonaro tem um eleitorado cativo, e que consegue transferir votos para o filho.
Com essa rachadura, isso pode tornar mais fácil o caminho da reeleição do presidente Lula – cenário que o mercado não gostaria de ver, diante da insatisfação com o controle dos gastos públicos. Sem uma agenda efetiva nessa frente, a expectativa de juros em níveis menores já no curto prazo fica mais difusa, mesmo com o ciclo de cortes lá fora e mesmo com um cenário de melhora da inflação.
