O efeito acontece em cadeia:
- O Fed corta juros, o que diminui a atratividade dos produtos de renda fixa nos Estados Unidos.;
- Em busca de melhores oportunidades de retorno, investidores estrangeiros trazem recursos para o Brasil e compram títulos de renda fixa, como títulos públicos, que pagam mais;
- Com mais dólares chegando ao país, o real se valoriza e, ao mesmo tempo, melhora a percepção de risco do país no mercado;
- A inflação sente o alívio do real mais valorizado e, com isso, o Banco Central brasileiro pode ganhar espaço para reduzir a Selic nos próximos anos;
- Juros mais baixos no Brasil tendem a estimular consumo e investimentos, o que ajuda a impulsionar a bolsa.
- Em 2025, o real já se valorizou cerca de 11% frente ao dólar, que hoje gira em torno de R$ 5,20. Essa força da moeda reforça o interesse de investidores em ativos locais e reduz pressões inflacionárias internas.
A experiência de outros ciclos reforça esse ponto: em períodos de queda de juros, o Ibovespa subiu em média 10% nos seis meses seguintes ao primeiro corte. Agora, o mercado projeta que a Selic siga elevada até o fim de 2025, mas comece a cair em 2026. E que termine o próximo ano em 12,25% e atinja 9,75% em 2027, segundo estimativas do Goldman Sachs.
Do lado externo, o Goldman também projeta que o Fed faça mais dois cortes em 2025 e outros dois em 2026, levando a taxa americana para algo entre 3% e 3,25% até meados de 2026. Essa trajetória define o ritmo de desvalorização do dólar e o tamanho do fluxo que pode chegar a emergentes como o Brasil.
Esse pano de fundo recoloca a bolsa brasileira no radar de grandes investidores globais. E cria oportunidades em diferentes setores. Analistas dividem essas ações brasileiras em dois blocos:
- Cíclicas domésticas: companhias ligadas a crédito e consumo, como Localiza, Cyrela, BTG Pactual, Nubank, GPS e Smartfit.
- Defensivas sensíveis a juros: empresas que mantêm receitas estáveis, mas aumentam margens com custo de financiamento mais baixo, como Eletrobras e Equatorial em energia, Copel e Sabesp em saneamento, Multiplan em shoppings e Rede D’Or na saúde.
Mas é bom lembrar que essa dinâmica positiva não elimina os riscos do cenário: as contas públicas brasileiras seguem pressionadas, a economia chinesa dá sinais de enfraquecimento e o ambiente geopolítico pode atrapalhar o fluxo de capital para emergentes.
Mesmo com essas incertezas, a combinação atual de Selic alta, bolsa negociada a múltiplos baixos e real mais valorizado coloca o Brasil em posição de destaque. Se a dinâmica observada em ciclos anteriores se repetir, o país pode novamente estar entre os maiores beneficiados pelo movimento de cortes de juros iniciado pelo Federal Reserve.