A incerteza gerada pela piora nas relações comerciais e políticas entre o governo brasileiro e o americano mudou a direção do mercado. É cedo para dizer se isso será duradouro, mas o aumento das hostilidades já foi suficiente para levar o dólar a superar a faixa dos R$ 5,50.
Parece pouca coisa, mas não é. No dia em que o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, o dólar saltou de R$ 5,447 para R$ 5,577 – um avanço de 2,4% em apenas um dia. De lá para cá, a moeda foi para um nível mais baixo, mas ainda acima dos R$ 5,50. Sinal amarelo.
A chegada do dia 1° de agosto, quando a tal tarifa de 50% começa para valer, será um divisor de águas. Se a troca de farpas entre os EUA e o Brasil continuar – ou mesmo piorar, com o governo Lula optando por bater de frente com Trump e retaliar a nova tarifa –, a trajetória positiva do real ficará ameaçada. E muito. Aquele bom humor que fez o dólar acumular perdas de 10% desde janeiro pode cair por terra.
O fluxo cambial divulgado pelo Banco Central – espécie de livro contábil das entradas e saídas de dólares do país – já mostra a tendência de retirada de recursos. Entre os dias 14 e 18 de julho, o canal financeiro teve saída líquida de US$ 689 milhões. Na semana anterior, US$ 1,65 bilhão já tinha sido retirado.
Esses dados são importantes porque é a conta financeira que captura melhor a percepção de risco dos investidores sobre o Brasil. É nesse canal que estão registrados os serviços e transferências de renda e capitais, como juros de empréstimos, lucros, dividendos, investimentos em carteira (ações e títulos) e empréstimos externos de bancos e empresas.
O movimento de capital estrangeiro nas ações brasileiras também dá o tom do cenário atual para o mercado financeiro. Segundo a B3, os estrangeiros retiraram R$ 868 milhões das ações no dia 18 de julho – o nono dia seguido de saques. No mês, as saídas já somam R$ 5,9 bilhões.
Com tudo isso na balança, uma coisa é certa: a volatilidade é o que vai ditar os negócios nos próximos dias. E, nesse ambiente, a ordem do dia é colocar o pé no freio. Nem comprar, nem vender. Um clássico: esperar.
A bem verdade, os investidores têm a esperança de que o Brasil e os EUA optem pelo diálogo, em linha com o que Trump vem fazendo com outros países. Não é vantajoso nem para nós, nem para eles que os desentendimentos cresçam, afinal. O problema é que a situação é imprevisível – e ninguém quer assumir o risco de perder dinheiro nesse contexto.
O que ainda joga a favor da moeda brasileira é a tendência do dólar globalmente. Desde o começo deste ano, quando Trump chegou à Casa Branca, cresceu o medo de que a própria economia americana perdesse força na briga tarifária contra outros países. É por causa disso que a moeda americana vem perdendo espaço diante de vários outros mercados, como Colômbia, México e Chile. E o índice DXY, que mede o desempenho contra uma cesta de moedas fortes – euro, iene, libra esterlina, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço – também perde força: a baixa até agora é de 10%.