É um cenário bem diferente do início de outubro, quando o bitcoin encostou nos US$ 126 mil – sua máxima histórica – e muitos analistas falavam que o ativo se consolidava como “ouro digital”. Desde então, a cripto já perdeu quase 30% do valor.
O que aconteceu?
O macro azedou.
O fim do shutdown dos EUA (paralisação parcial governo) até trouxe um alívio temporário, mas o apagão de dados – empregos e inflação ao produtor e ao consumidor – deixou o Federal Reserve (Fed, o banco central do país) praticamente às cegas. Sem esses indicadores, o mercado reduziu drasticamente as apostas de cortes de juros.
Segundo a ferramenta CME FedWatch, que mede as projeções do mercado, a probabilidade de cortes em dezembro está em 46,6%. Há uma semana era 66,9%; há um mês, 93%.
“Essa reversão abrupta de expectativa funcionou como um gatilho importante para o aumento da aversão ao risco e para a correção mais ampla dos ativos – incluindo cripto, que no curto prazo segue muito sensível a qualquer mudança no pricing de juros futuros”, disse Murilo Cortina, diretor de novos negócios da QR Asset Management.
Debandada nos ETFs
A queda do bitcoin assustou os grandes investidores, que retiraram mais de US$ 3 bilhões dos ETFs (fundos negociados em bolsa) de BTC à vista dos EUA nas últimas três semanas, segundo dados da plataforma SoSoValue.
O IBIT – o maior ETF do mundo, da gigante de investimentos BlackRock – teve saída líquida de US$ 1,26 bilhão só em novembro, o maior resgate mensal desde sua criação em janeiro de 2024.
Isso mostra uma “postura mais cautelosa do investidor institucional”, disse Guilherme Prado, country manager da bitget.
O movimento desses ETFs anda praticamente colado ao preço do bitcoin, criando um círculo vicioso: quando a cripto sobe, costuma atrair novas entradas nos fundos – que, por sua vez, ajudam a sustentar o preço. Quando cai, o efeito se inverte, e os resgates acabam ampliando a pressão negativa.
Volatilidade das big techs
A correlação das criptos com o mercado de tecnologia gringo também pesou. Nos EUA, houve um movimento de realização em ações de tech e inteligência artificial (IA), que vinham segurando as bolsas, e isso respingou no setor de moedas digitais, segundo Cortina.
“A volatilidade aumentou, o VIX (índice de volatilidade, calculado pela Bolsa de Chicago) disparou, e a rotação para setores com múltiplos mais realistas abriu espaço para correções maiores. O S&P 500 recuou, o Nasdaq devolveu parte do rali e o Dow Jones perdeu quase 800 pontos”.
O que esperar agora?
No curto prazo, a faixa provável de oscilação está entre US$ 89 mil e US$ 95 mil para o bitcoin, segundo André Franco, CEO da Boost Research. Há risco de novas quedas caso o cenário macro piore ou a pressão vendedora aumente, falou ele.
Veja as cotações das principais criptomoedas ao meio-dia:
Bitcoin (BTC): -3,87%, US$ 91.592,10
Ethereum (ETH): -3,79%, US$ 3.070,06
XRP (XRP): -4,16%, US$ 2,18
BNB (BNB): -0,64%, US$ 918,02
Solana (SOL): -2,17%, US$ 138,35
Outros destaques do mercado cripto
Fundos brasileiros na contramão. A semana passada foi de turbulência pesada no mercado cripto. A aversão ao risco foi tanta que os fundos globais registraram saídas de US$ 2,04 bilhões, o pior resultado desde fevereiro. Aqui, porém, o cenário foi diferente: os fundos brasileiros nadaram contra a corrente e tiveram entradas de US$ 2,4 milhões – o segundo melhor desempenho, atrás apenas da Alemanha, segundo dados da CoinShares.
Família Trump tokeniza hotel de luxo. A The Trump Organization, empresa imobiliária ligada à família do presidente dos EUA, vai levar um novo resort de luxo para a blockchain, a tecnologia por trás das criptos. A ideia é tokenizar o empreendimento – transformar o ativo tradicional em tokens digitais – e oferecê-lo a investidores. O hotel, localizado nas Maldivas, está previsto para ser inaugurado em 2028. A tokenização de imóveis está em alta e, segundo a Deloitte, pode alcançar US$ 4 trilhões até 2035.