Powell relativiza divergência no Fed e reforça compromisso com independência

Para dirigente, não há necessidade de um corte mais acelerado dos juros neste momento

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, tentou jogar água na fogueira. Com a divergência aberta dentro da autoridade monetária por um corte de juros maior na economia americana, o dirigente voltou a reforçar a mensagem de que o BC americano é independente e que está “fortemente comprometido” em manter isso.

O posicionamento do chairman do Fed acontece em um momento de forte pressão sobre a autoridade monetária pelo presidente americano, Donald Trump, que vem desde o começo do seu mandato exigindo que os juros sejam reduzidos, como parte da sua agenda política.

Essa pressão ganhou um novo contorno, por causa de uma dissidência na decisão: entre todos os votantes pela queda de juros, apenas um – Stephen Miran – defendeu que a redução fosse maior, de 0,50 ponto percentual. Os demais 11 participantes indicaram o corte de 0,25 ponto, consolidado hoje. Miran foi indicado por Trump para o Fed.

“Tem 12 participantes no nosso comitê e cada votante precisa ser persuasivo para fazer valer sua visão de acordo com os dados econômicos. É assim que funciona, esse é o DNA, e não vai mudar”, disse, depois de reforçar que não houve apoio amplo a um corte de 0,50 ponto. “Vamos continuar fazendo o nosso trabalho e não nos distrair com política.”

Mesmo o nome cotado para substituir Powell, Christopher Waller, se uniu à maioria por um corte menor. O atual dirigente do BC americano fica no posto até maio de 2026 – isso depois de ser ameaçado de “demissão” por Trump há meses.

A decisão de hoje abre a porta para que a flexibilização da política monetária continue nos EUA. No chamado gráfico de pontos (“dot plot”), relatório que reúne as projeções do Fed, houve indicação de que haverá mais dois cortes de 0,25 ponto até o fim do ano. Em linha com isso, Powell também afirmou não ver necessidade de realizar um corte de juros mais acelerado neste momento.

O diagnóstico para a economia americana é de que os riscos da inflação mais alta não saíram do horizonte, mas que o mercado de trabalho e o Produto Interno Bruto (PIB) vêm perdendo força. Isso se soma ao enfraquecimento dos salários e também do número de criação de vagas de emprego.

Com isso em vista, “foi apropriado” reduzir os juros agora – o Fed tem um duplo mandato: controlar a inflação, mas mantendo o nível máximo de emprego no país.

Houve uma importante mudança também em relação à preocupação com o impacto das tarifas comerciais para a economia americana. No passado, Powell havia demonstrado grande incômodo e dúvida com o possível efeito inflacionário para a atividade. Agora, ele ponderou que o repasse das tarifas aos preços tem sido menor e mais devagar do que o esperado.

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