Gestores de fundos e estrategistas estão apostando que o início do corte dos juros pelo Federal Reserve vai impulsionar o maior rali dos títulos de dívida de mercados emergentes em anos.
Um índice para a dívida local dos países em desenvolvimento já proporcionou aos investidores retorno de 15% em dólar neste ano. Nesse ritmo, este deverá ser o melhor desempenho dos papéis desde 2017.
Os ganhos foram desencadeados após a guerra comercial do presidente dos EUA Donald Trump, e as rápidas mudanças das políticas do país lançarem dúvidas sobre as perspectivas para a maior economia do mundo. Este cenário levou os investidores a redirecionar parte dos recursos.
Agora, a queda de juros nos EUA após uma pausa de nove meses está dando aos investidores ainda mais incentivo para buscar retornos maiores em outros lugares.
A dívida em moeda local, cujos retornos seriam amplificados se o dólar continuar a cair, é um investimento favorito de gestores da DoubleLine Capital, de Jeffrey Gundlach, e na JPMorgan Asset Management.
A Neuberger Berman está favorecendo moedas de mercados emergentes e títulos locais.
E o Bank of America vê “nenhuma alternativa pelo resto do ano que rivalize com as operações de carry trade de mercados emergentes” — que envolvem tomar emprestado em moeda de um país com juros baixos para comprar ativos de rendimento mais alto em outra divisa.
Além do dólar
“Há definitivamente um claro interesse das pessoas em alocar recursos em algo que não seja dólar”, disse Patrick Campbell, gestor na Morgan Stanley Investment Management. “Temos visto muito mais interesse em algumas de nossas estratégias mais ligadas a índices de referência, como de dívida local emergente, o que não víamos desde 2012.”
As posições refletem as apostas de que a flexibilização do Fed continuará a pesar sobre o dólar, o que impulsiona os retornos de títulos de dívida lastreados em moedas em valorização.
O posicionamento também pode estimular operações de carry trade que envolvam tomar emprestado em dólar.
O T. Rowe Price Group aumentou a exposição em títulos em mercados emergentes, apostando que seus rendimentos relativamente mais altos atrairão fundos globais que buscam diversificar além dos EUA.
“Podemos ter esses círculos virtuosos de vários anos nos mercados emergentes, onde as entradas de capital impulsionam melhores fundamentos, o que trará mais entradas de capital”, disse Kenneth Orchard, chefe de renda fixa internacional da empresa sediada em Baltimore, em entrevista. “Nossa análise sugere que estamos novamente no início de um desses períodos.”
“As atitudes do Fed continuam a apoiar a visão de um dólar mais fraco e juros mais baixos no futuro”, disse Nathan Thooft, gestor sênior de portfólio da Manulife Investment Management. “Ambos apoiam ações e dívidas de mercados emergentes.”
Influência das tarifas de Trump
Os ralis nos mercados emergentes foram alimentados pelas implementações erráticas das tarifas de Trump, que durante o primeiro semestre do ano fizeram o dólar atingir a maior queda desde o início da década 1970.
Ao mesmo tempo, as taxas de juros permaneceram significativamente mais altas nos países em desenvolvimento, onde muitos bancos centrais estavam mais hesitantes para flexibilizar a política monetária devido a preocupações com a inflação.
A combinação levou a dívida pública de mercados emergentes a superar a maioria dos investimentos em renda fixa globalmente.
O salto de 15% é mais que o dobro dos títulos de alto risco corporativos dos EUA e se compara aos ganhos de 5,4% do índice Bloomberg US Treasury.
O rali foi liderado por Brasil, México, Colômbia, Hungria e África do Sul — todos com valorização de pelo menos 23% neste ano.
A escala do avanço pode limitar o escopo de ganhos futuros.
Qualquer fortalecimento do dólar — seja devido ao enfraquecimento das apostas de corte de juros nos EUA ou a tensões geopolíticas mais intensas — pode prejudicar o sentimento.
E as vendas massivas na Turquia no começo do ano e a rápida deterioração na Argentina, que forçou o banco central a queimar reservas, também ressaltam a rapidez com que o nervosismo político pode desestabilizar os mercados emergentes.
Contudo, analistas e investidores acreditam que esses riscos serão compensados pelos impactos mais positivos da decisão do Fed de quarta-feira de flexibilizar a política monetária, bem como pelas indicações de mais dois movimentos semelhantes até o final do ano.
Isso se deve, em parte, ao fato de que os dirigentes dos bancos centrais de países em desenvolvimento podem seguir o exemplo, dando um novo impulso aos títulos de dívida. Os rendimentos ajustados pela inflação em países como a África do Sul e a Colômbia provavelmente também continuarão atraindo recursos para carry trades.
Dívida dos emergentes
Em média, a dívida dos mercados emergentes teve um retorno entre 6% e 8% na esteira dos cortes de juros pelo Fed, de acordo com Iain Stealey, diretor internacional de investimentos de renda fixa da JPMorgan Asset Management.
O fundo JPMorgan Global Bond Opportunities — que ele ajuda a gerir — continua overweight (alocação acima da média do índice de referência) em mercados emergentes.
Valerie Ho, gestora da DoubleLine, disse que seu fundo investiu em posições focadas no Brasil, África do Sul e Hungria — apostas que devem se beneficiar do suporte da guinada do Fed e de um dólar mais fraco. “Dado o cenário, estamos felizes em manter essas posições”, disse.
Os retornos continuaram a atrair recursos para fundos de mercados emergentes. Aqueles focados em dívida atraíram cerca de US$ 300 milhões na semana encerrada em 17 de setembro — a 22ª semana consecutiva de entradas, mostram dados da EPFR compilados pelo BofA. A entrada líquida no acumulado do ano totaliza US$ 45 bilhões.
Na PGIM Fixed Income, Cathy Hepworth tirou algumas fichas da mesa quando se trata de apostas em moeda forte, dado o forte desempenho em 2025.
Ainda assim, a chefe de dívida de mercados emergentes continua com uma tendência de vender dólar e uma posição overweight em moedas de maior rendimento. “O ambiente atual continua a favorecer os mercados emergentes”, disse Hepworth.