Você está pagando (caro) para perder dinheiro na sua reserva de emergência?

Cobranças altas em produtos de baixo risco causam estrago no quanto você lucra

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As plataformas de investimentos democratizaram o acesso das pessoas a diferentes tipos de produtos. Hoje, dá para encontrar de tudo e montar diversas estratégias para ganhar dinheiro. Acontece que, no meio do trigo, sempre tem o joio – que, no mundo financeiro, se chama custo.

Na hora de colocar o dinheiro em um produto financeiro, o investidor precisa ter clareza de quanto vai sair do bolso na forma de taxas de corretagem ou administração. Do contrário, o ganho será muito comprometido.

Existe um grupo de produtos em que encontramos os exemplos mais claros do quão nefasto é pagar caro para investir: a renda fixa usada como caixa – ou a famosa reserva de emergência. Esse é o dinheiro que pode ser resgatado a qualquer momento.

O produto mais adequado para essa finalidade é o Tesouro Selic, título público que acompanha, como o nome deixa claro, a evolução da taxa Selic. Como é o próprio Tesouro Nacional quem garante o pagamento desse título, podemos dizer que esse é o menor risco do país.

Quem deseja investir no Tesouro Selic tem dois caminhos: comprando o papel via Tesouro Direto, que pode ser acessado pelas plataformas de investimentos, ou via fundos que compram esse título. Hoje, vamos tratar especificamente dos fundos, para mostrar o que acontece quando eles são caros.

O preço aqui passa por uma figura chamada taxa de administração. Nos produtos mais modernos, distribuídos pelas corretoras, não existe essa taxa, justamente porque qualquer cobrança corrói muito o rendimento – que não exige qualquer esforço da gestão.

Mas pasme: a taxa média paga pelo investidor, ponderada pelo patrimônio líquido, dos fundos compostos apenas por Tesouro Selic é de 0,52% ao ano. E pode ficar pior: tem muito fundo aberto cobrando até mesmo acima de 0,60% ao ano. Segundo dados da Anbima, a entidade formada pelas instituições financeiras para se autorregular, são 609 produtos nessa situação, para ser mais exato. Péssima realidade.

Para mostrar o que acontece quando você paga qualquer coisa acima de 0% em um produto com características tão simples, vamos nos ater aqui a falar apenas dos fundos. Em outra oportunidade, vamos comparar a escolha de investir em um fundo com a compra direta do Tesouro Selic e outras modalidades de investimento com liquidez, como os CDBs.

O que você paga (e o que não deveria)

Já falamos acima de um dos custos dos fundos, a taxa de administração. Falta tratar do imposto.

Atualmente, a cobrança respeita uma “escadinha”, que vai diminuindo de valor conforme o tempo que você mantém os recursos aplicados. Começa com 22,5% para investimentos até 180 dias, cai para 20% para aplicações entre 181 dias e 360 dias, vai a 17,5% entre 361 dias e 720 dias e termina em 15% para investimentos acima de 720 dias.

O governo publicou uma Medida Provisória definindo uma alíquota única de 17,5% para todos os prazos. Mas isso só vai entrar em vigor em 2026, e depende da aprovação do Congresso.

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Além disso, tem o chamado “come-cotas”. É uma antecipação do imposto que você pagaria no momento do resgate dos recursos. Não tem como fugir desse pedágio para o governo.

O come-cotas pode ser de 20% se o fundo for considerado de curto prazo (com prazo médio dos títulos na carteira menor do que um ano) ou de 15% se for de longo prazo (prazo médio da carteira acima de um ano). Tipicamente, os fundos de que estamos falando aqui são de longo prazo.

Vamos partir do seguinte cenário: você e um amigo investiram R$ 50 mil durante um ano, com um retorno de 15% no período. Você aportou seus recursos no fundo A e seu amigo, no fundo B. Ambos sacaram esses recursos exatamente em 360 dias, então o imposto pago é de 20% sobre o ganho. E isso sem esquecer do come-cotas, retido duas vezes – no meio e no fim do ano. Para fazer as contas corretamente, estamos considerando as taxas equivalentes mensais.

Agora, por etapas. A primeira termina em seis meses, quando acontece a cobrança do primeiro come-cotas. Até aqui, o seu montante foi para R$ 53.119,03 e o do seu amigo foi a R$ 53.047,97. A mordida do Leão fica em R$ 1.467,86 no primeiro caso e R$ 1.457,00 no segundo. Muito bem: o seu novo montante é de R$ 51.651,17 e o do seu amigo, R$ 51.590,97.

Com 12 meses, o rendimento foi a R$ 55.311,49 no seu caso. Para o seu amigo, R$ 55.064,59. E vem mais um come-cotas para reter de você R$ 1.544,96 e R$ 1.530,51 do seu amigo. O resultado? Um montante de R$ 53.766,53 no seu caso e R$ 53.534,08 no outro.

Agora, no resgate, incide um imposto de renda complementar em relação ao que já foi retido. Afinal, a Receita não vai cobrar de você o IR total se já pegou os pedacinhos antes. Para chegar aos 20%, você deixa na mesa mais R$ 149,21 e o seu amigo, R$ 143,31.

No fim, o seu valor líquido final fica em R$ 56.192,39 e o seu amigo recebe R$ 55.947,27. A diferença é de R$ 245. Não é pouca coisa – e isso em um ano só. Esse é o tamanho do estrago que um produto caro pode fazer nas suas finanças.

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