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Além do Super Bowl: os planos da NFL para a expansão no Brasil
Marcas, empresas de mídia e a própria NFL apostam no Brasil como grande mercado para a liga na América Latina.
O Super Bowl, final do campeonato de futebol americano realizado pela National Football League (NFL), acontece neste domingo (11), em Las Vegas. À primeira vista, a partida entre Kansas City Chiefs e San Francisco 49ers parece até não despertar grande interesse dos brasileiros, mas é um engano: segundo a NFL, entre 35 e 38 milhões de pessoas consomem NFL no país, em graus variados de entusiasmo.
Um mercado deste tamanho não passou despercebido pelos executivos que comandam os 32 times da NFL. Neste ano, pela primeira vez, o Brasil vai receber um jogo regular da liga profissional de futebol americano dos Estados Unidos. O jogo já tem até data para acontecer: será no dia 6 de setembro no estádio do Corinthians, a Neo Química Arena, em Itaquera. A partida já tem confirmada a participação do Philadelphia Eagles.
O Statista, site alemão especializado em dados, estima que a temporada passada da NFL tenha faturado mais de US$ 18,6 bilhões. Para efeito de comparação, a maior liga de futebol do mundo, a britânica Premier League, faturou pouco mais de US$ 7 bilhões na temporada atual.
A chegada de uma partida da NFL ao Brasil não acontece à toa. É fruto de um casamento de interesses entre a que é considerada a liga esportiva mais rica do mundo, a prefeitura de São Paulo, que trabalhou nos últimos anos para se aproximar da liga, e de patrocinadores locais interessados em promover suas marcas para um público que é majoritariamente composto por pessoas das classes A e B, segundo a NFL Brasil.
São Paulo e a NFL
Para hospedar um jogo oficial da liga, a capital paulista superou as concorrentes Madrid, Barcelona e Rio de Janeiro. O impacto econômico gerado pelo jogo em setembro deve ficar na casa dos US$ 60 milhões.
“São Paulo quer ser a capital da NFL na América do Sul, porque a gente enxerga a importância do esporte no que diz respeito ao impacto econômico e turístico na cidade”.
presidente da SP Turis, Gustavo PireS.
De acordo com Pires, pesou a favor de São Paulo o interesse da NFL em estabelecer no Brasil uma base maior de fãs dedicados, a rede hoteleira da cidade – a maior da América Latina – e a vocação global da cidade, já acostumada a receber grandes eventos internacionais como a Fórmula 1 e festivais de música como o The Town e o Lollapalooza.
O namoro entre a cidade e a liga americana começou há alguns anos, mas ganhou tração a partir de 2021, quando a SP Turis deixou claro para a NFL o interesse em trazer um jogo regular para a maior cidade do Brasil, aos moldes do que já aconteceu em grandes metrópoles de Alemanha, Inglaterra, México e Canadá.
O interesse foi recíproco e São Paulo já estava no radar dos executivos da NFL. Segundo o presidente da SP Turis, isso ficou claro ainda nos primeiros encontros da delegação paulistana com os representantes da liga.
“Eles já conheciam São Paulo, diziam conhecer muitos dos dados sobre a cidade. No final, ficou entre nós e Madrid, e mesmo com o novo Santiago Bernabeu, eles optaram por nós”, conta Pires, referindo-se ao reformado estádio do Real Madrid, remodelado a um custo de quase R$ 5 bilhões.
Mas por que a Neo Química Arena?
“Apresentamos aos executivos da NFL todos os estádios, centros de treinamento e hotéis. Não é que o MorumBis e o Allianz Parque não pudessem ter o jogo, mas eles gostaram do entorno da Neo Química, na Zona Leste, tem espaço para fazer várias ativações, e também o fato de o metrô descer em frente ao estádio”, explica Pires, ele próprio um entusiasta do futebol americano.
Em jogos da NFL, são organizados nos arredores dos estádios os tailgates, churrascos feitos por torcedores, geralmente ao redor de veículos. A ideia é levar para Itaquera a tradição americana, e o espaço em volta da Neo Química Arena facilitará os tailgates, o que seria bem mais difícil de fazer no entorno dos estádios do São Paulo e do Palmeiras.
Os modernos camarotes também pesaram a favor da arena corintiana. A venda de ingressos mais caros nestes espaços e o uso por parte dos patrocinadores são importante fonte de receita para os jogos da NFL.
Transmissão em TV aberta e eventos
Desde 2015, a agência Effect Sport passou a representar a NFL Brasil e tem conduzido o plano de expansão da liga no país. De lá para cá, viu a base de interessados saltar de 3,3 milhões de pessoas para os atuais 35 a 38 milhões. Segundo o CEO da Effect Sport, Pedro Monteiro, até 9 milhões deste contingente são considerados fãs ávidos do esporte – aqueles que consomem com regularidade os jogos e produtos a eles atrelados.
A popularização da NFL no país passou também por um plano de mídia, que incluiu transmitir na TV aberta os jogos, pela Rede TV!, uma parceria com o globoesporte.com e eventos como o NFL in Brasa, que acontece neste final de semana para promover a modalidade enquanto a partida do Super Bowl deixa os fãs animados.
No ano passado, o NFL in Brasa chamou a atenção dos executivos americanos por ser a maior fun fest da liga fora dos Estados Unidos, o que ajudou a aumentar o interesse em expandir a marca no Brasil. Neste ano, o NFL in Brasa deve reunir 10 mil pessoas nos três dias de evento, o dobro de 2023.
Com o objetivo de levar o esporte para além dos fãs que conhecem as complexas regras do futebol americano, a NFL Brasil pretende fazer da NFL in Brasa um hub de entretenimento que tem a liga e o Super Bowl como temas. Bem ao modo americano, o importante é se divertir, e Monteiro aposta em show, experiências gastronômicas, prêmios e desafios físicos para atrair um público mais amplo. O investimento da NFL Brasil no evento triplicou este ano em relação ao ano passado.
Patrocinadores de olho na alta renda
De acordo com Pedro Monteiro, o público que consome NFL no Brasil é reconhecidamente de maior poder aquisitivo – majoritariamente das classes A e B – e bastante jovem, com a maior parte entre 25 e 35 anos. Apesar do predomínio masculino, mulheres são 40% do público.
Este perfil chamou a atenção das marcas. Em setembro de 2023, a XP se tornou patrocinadora da NFL no Brasil. Na ocasião, Lisandro Lopez, CMO da XP, disse que a corretora fechou a parceria com o objetivo de “impulsionar o alcance da NFL fora do mercado norte-americano” e de “alavancar a marca XP tanto nacional quanto internacionalmente”.
A XP, que também patrocina a Aston Martin na Fórmula 1, trouxe ao Brasil uma das maiores estrelas da NFL. O astro Tom Brady – também conhecido por aqui por ser ex-marido de Gisele Bundchen – esteve no palco da Expert XP em 2023.
Além da XP, Perdigão, Pizza Hut e KFC também são patrocinadores da NFL no Brasil, sendo que XP e Perdigão também vão promover suas marcas no NFL in Brasa. Perdigão, KFC e Pizza Hut também estão patrocinando a transmissão do Super Bowl pela Rede TV!, e a elas se juntaram ainda Aiwa, Mycon, New Era e outra empresa do segmento financeiro, o Itaú.
Essas marcas, acredita Monteiro, estão de olho no potencial de crescimento da NFL no Brasil, que deve ganhar força com a realização do jogo da liga no país.
“É a maior liga do mundo. Maior que a Premier League, que a La Liga. São jogos muito bem produzidos e com espetáculos que transcendem os esportes. Com o jogo no Brasil, teremos uma exposição muito maior do que teríamos normalmente”, aposta o executivo.
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