“Quando olhamos os dados, a boa notícia é que não se trata de algo estrutural na categoria de cerveja”, afirma o CFO, Guilherme Fleury, em entrevista ao InvestNews. “O que vimos foi um conjunto de fatores conjunturais: clima muito ruim no Sul e Sudeste e renda mais apertada no Norte e Nordeste.”
No terceiro trimestre, o volume de cerveja vendido no mercado brasileiro caiu 7,7%, em linha com o que analistas projetavam e ainda refletindo um mercado duro. A Heineken sentiu mais e reportou queda na ordem de 15%.
Esse diagnóstico foi o mesmo anotado pelos analistas do UBS após a teleconferência de resultados. Segundo o banco, cerca de 70% da queda de volume foi explicada por clima e o restante por fraqueza macro, sobretudo no Norte/Nordeste. O UBS também registrou que outubro começou fraco, mas que o ganho de marca e de participação continua — o que pode dar “carrego” positivo para 2026.
Na prática, o que murchou foi a ocasião de consumo mais visível e mais rentável — bar, restaurante, evento, futebol com amigos. “O consumo fora de casa foi onde pegou mais. Choveu, esfriou, as pessoas saíram menos”, disse Fleury.
“Nas regiões menos afetadas pelas temperaturas mais baixas, o que pesou foi a renda.” Em outras palavras: as pessoas não pararam de beber cerveja, mas beberam menos vezes e em contextos de menor tíquete.
Portfólio como amortecedor
No terceiro trimestre, a Ambev registrou um lucro líquido ajustado de R$ 3,8 bilhões, 7,9% acima do mesmo período de 2024 e superando as estimativas dos analistas de mercado. A receita ficou 1,2% maior. O Ebitda consolidado cresceu 2,9%, para R$ 7,3 bilhões.
Num período de volume mais fraco, ter mais andares de portfólio vira vantagem competitiva: a Ambev tem um enorme portfólio de marcas de maior volume, que é o que mais sente clima e renda. Também tem um premium crescendo em dois dígitos, que ajudou a compensar. Ainda tem novas frentes – zero álcool, baixas calorias, sem glúten – que vieram fortes, com destaque para as cervejas sem álcool, como Corona Cero e Bud Zero, que venderam cerca de 20% mais na comparação anual, segundo a companhia.
“Lideramos com as marcas locais mais amadas, com as marcas globais mais fortes e, por estar numa companhia do nosso tamanho, conseguimos trazer pro Brasil os segmentos que estão nascendo lá fora. É um trabalho contínuo, de todo dia.”
Segundo Fleury, há ao menos três ventos favoráveis de consumo que a empresa está vendo e para os quais já tem produto: cervejas mais fáceis de beber, bebidas mais doces e estilos de consumo mais equilibrados — de Skol Beats às variantes sem álcool.
Voltando a ser Ambev
Mesmo com o mercado fraco, a companhia ganhou participação e ampliou margem em Cerveja Brasil. A empresa estima que tomou a liderança no segmento premium, de rótulos mais caros, onde a Heineken vinha puxando a fila há dez anos.
O CFO vê isso como um sinal de que a empresa “voltou a ser Ambev”. “Sempre fomos conhecidos como uma companhia disciplinada, orientada a dado e capaz de navegar volatilidade. Esse trimestre mostrou isso de novo”, disse.
A Ambev viu que haveria aumento de custos no fim do ano e repassou preço antes, ainda no primeiro semestre. Isso fez com que, por um tempo, ficasse com uma relatividade de preço pior do que os concorrentes, o que fez com que seu segundo trimestre fosse pior do que o de concorrentes. Esse cenário mudou no terceiro trimestre.
Agora, quer manter a disciplina para manter os custos controlados. “Nossa ambição é ficar na primeira faixa, entre 5,5% e 7%.” Se conseguir entregar o custo mais perto do 5,5%, a Ambev entende que volta a ter espaço para expandir margem quando o consumo reagir. No terceiro trimestre, a margem Ebitda consolidada da Ambev cresceu 0,5 ponto percentual para 33,9%.
