Ambipar intensifica diálogo com investidores para restaurar confiança do mercado

Ambipar contratou um assessor para avaliar potenciais acordos com credores locais e estrangeiros para os R$ 6 bilhões em dívida líquida

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A Ambipar está reformulando sua governança corporativa após um ano difícil nos mercados. A companhia está ampliando o conselho, reestruturando comitês e intensificando o diálogo com investidores — parte de um esforço para se distanciar do problemático Banco Master e restaurar a confiança do mercado.

Menos de dois anos após estrear nos mercados globais de crédito, a empresa de gestão de resíduos viu seus títulos caírem para níveis de estresse, em meio à crescente preocupação com uma investigação regulatória, dúvidas sobre sua governança e questionamentos sobre laços com o banco de Daniel Vorcaro — que se envolveu em uma complicada operação com o Banco de Brasília.

O banco em dificuldades esteve envolvido em transações de ações da Ambipar, alimentando especulações de que a companhia detinha dívida do Master que poderia perder valor.

A empresa realizou uma série de reuniões presenciais e virtuais para assegurar aos investidores de que os problemas do Banco Master não afetarão seu balanço. A informação é do CEO da companhia Tércio Borlenghi Junior.

A Ambipar também está ampliando seu conselho de cinco para nove membros, após a nomeação da ex-chefe do UBS no Brasil e América Latina, Sylvia Coutinho, como conselheira de governança. Ao todo serão 11 conselheiros, boa parte deles independente.

“A companhia cresceu e precisa fortalecer a governança”, disse o CEO. “Estamos trazendo a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira e o ex-diretor da Organização Mundial do Comércio Roberto Azevedo.”

Ricardo Chagas, CEO da Ambipar Response — unidade do grupo nos EUA —, assumirá o cargo de presidente do conselho, mantendo também sua posição atual.

A reformulação da governança ocorre após sete meses de trabalho para atender preocupações de investidores.

Ambipar nega vínculo com Banco Master

Tanto Borlenghi quanto o diretor financeiro João Arruda negaram qualquer vínculo com o Master. “Formalizamos que não temos nenhuma exposição”, disse Borlenghi, ao lado de Arruda e do diretor de Integração e Financiamentos, Thiago da Costa Silva.

O banco confirmou que a Ambipar não possui exposição a instrumentos de dívida do Master, de acordo com um documento revisado pela Bloomberg. A empresa tem compartilhado essa informação em reuniões com investidores.

Outra fonte de preocupação têm sido os investimentos em FIDC, divulgados nos resultados como um total de R$ 2,1 bilhões.

Borlenghi disse que esse valor reflete procedimentos internos de contabilidade, mas que apenas R$ 600 milhões estão de fato aplicados em um FIDC próprio da companhia, enquanto o restante está atrelado a instrumentos de financiamento tradicionais. “Isso ficará claro em nosso próximo balanço”, disse.

Reforço nas finanças

A companhia também está tomando medidas para reforçar suas finanças em meio ao aumento dos custos de captação. Para elevar a produtividade em um cenário de juros a 15% no Brasil, a Ambipar cortou cerca de 1.000 postos de trabalho no mundo este ano.

A empresa estuda um possível programa de recompra de ações e contratou um assessor para avaliar potenciais acordos com credores locais e estrangeiros sobre seus quase R$ 6 bilhões em dívida líquida. “Gostaríamos de continuar melhorando nossa geração de caixa”, disse o CFO Arruda.

Mesmo assim, a pressão do mercado se intensificou. As notas em dólares da Ambipar com vencimento em 2031 — emitidas em janeiro de 2024 — levaram aos investidores uma perda de cerca de 21% neste ano, entre os piores desempenhos de seu grupo de pares.

Atualmente, a divida rende cerca de 17%, com spreads sobre os Treasuries dos EUA bem acima do patamar de 1.000 pontos-base, frequentemente considerado como nível de distress. Em comparação, um índice da Bloomberg de dívida corporativa de mercados emergentes teve retorno de 7% no mesmo período.

As perdas se aprofundaram na semana passada, depois que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu uma nova investigação sobre o programa de recompra de ações da Ambipar, apurando se a companhia ultrapassou os limites estabelecidos.

Foi a segunda vez que a CVM analisou o programa de recompra. Uma investigação anterior examinou supostas operações coordenadas entre Borlenghi e o empresário Nelson Tanure, que vem aumentando participação na Ambipar por meio da Trustee DTVM, conforme a Bloomberg noticiou anteriormente. Uma decisão favorável a uma oferta pública obrigatória foi revertida em cima da hora. Borlenghi nega que tenha qualquer relação com o empresário.

Sobre a nova investigação, Borlenghi atribuiu o problema ao banco custodiante que, segundo ele, ultrapassou o limite em 2% por 10 dias sem transferir as ações para seus diretores por um erro. O executivo acrescentou que a questão não tem relação com a investigação de julho e já foi corrigida.

Na última sexta-feira (12), a Fitch Ratings revisou a perspectiva da Ambipar para negativa, citando “questões contínuas de governança” que podem elevar o custo de captação da empresa, e “transparência limitada sobre os números contábeis recentes.”

“Continuamos analisando nossa alocação de recursos, redução de custos e contratos”, disse Borlenghi sobre os próximos passos da companhia. Em relação ao Master, o executivo acrescentou que a Ambipar quer “desconstruir rumores e mostrar que não tem nada a ver com isso”.

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