Negócios
Após foco em crédito a empresas, Banco Pine muda estratégia e retoma varejo
Banco redirecionou foco ao crédito com garantia; agência S&P Global atribuiu rating brA-.
O Banco Pine (PINE4) viveu anos difíceis até receber o rating brA- da S&P Global Ratings. A nota de crédito veio depois de a instituição financeira decidir deixar o foco total sobre empresas para retornar à sua vocação anterior, o varejo para pessoa física. A diferença, no entanto, foi retomar um serviço conhecido com operação diferente.
A atribuição de nota de risco por uma das principais agências de risco foi na última segunda-feira (27). A S&P afirmou em relatório que o “Banco Pine tem sido bem-sucedido em seu novo foco estratégico, apresentando qualidade de ativos e rentabilidade acima daquela de seus pares”.
Mas, em entrevista ao InvestNews, Noberto Pinheiro Júnior e Clive Botelho, diretores executivos do Banco Pine, contam que a estratégia não é assim tão nova. Ela é baseada no crédito colateralizado, que significa dar um bem como garantia pela dívida. No caso do Pine, o foco é em pessoas físicas e linhas de crédito relacionada a benefícios como Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O produto, de fato, não é novidade para o banco, que tinha uma forte presença nesse tipo de crédito em meados de 2007. No entanto, em 2010, o Pine deixou o varejo de lado para voltar as atenções somente ao crédito para as empresas, no atacado. Enfrentou dificuldades durante a crise iniciada em 2014, mas conseguiu sustentar o negócio. Até que, em 2020, na pandemia, surgiram os primeiros sinais de que poderia ser necessário retroceder.
“Quando vem a pandemia, os juros caem de forma repentina aos 2%, mas a inclinação da curva de juros já mostrava que, em algum momento, o cenário iria ficar desafiador pela frente, as condições financeiras iam ficar apertadas em algum momento. E foi nesse momento que a gente agiu com antecipação”
Noberto Pinheiro Júnior, diretor executivo do banco pine.
O objetivo era desconcentrar o negócio de um segmento no qual os executivos estavam enxergando risco. Surgiu então o plano de retomar o varejo colateralizado, mas isso precisava ser feito de uma forma diferente. Então, o Pine fez uma parceria com a fintech Byx (que mais tarde se tornaria inclusive investimento para o banco).
“Desta vez a gente resolveu fazer diferente. Porque lá em 2007, a gente tinha estrutura própria, área comercial, jurídico dedicado, gente de produto dedicada. Desta vez, a gente falou: ‘vamos procurar no mercado especialistas que possam nos ajudar e prestar serviço’”, lembra Pinheiro.
Contando com o serviço da Byx para operacionalizar os produtos de varejo, o Pine manteve internamente apenas as atividades mais estratégicas, como tomadas de decisão sobre a quantia a ser alocada e critérios de elegibilidade. “Então, as áreas aqui de crédito, riscos, monitoramento, legado é tudo do banco, mas a prestação de profundidade, os especialistas e o monitoramento desse portfólio, eles mudam bastante”, conta Pinheiro.
Botelho complementa que a nova estratégia tornou a operação “mais leve” na comparação com a experiência anterior com o varejo colateralizado.
“A gente conhecia bem esse mundo. Em 2007, o banco era um dos 5 maiores originadores do varejo colateralizado, e com time próprio. Então, a gente achou a combinação mais leve, mais inteligente, mais lucrativa de estarmos de volta ao varejo colateralizado.”
Clive Botelho, diretor executivo do Banco Pine.
Mas, ao contrário do que ocorreu em 2010, a nova mudança de rota não fez com que o Pine deixasse totalmente de lado a operação anterior. Significa que o crédito no atacado, para empresas, continua no portfólio. Hoje, segundo os executivos, esse segmento representa cerca de 50% das receitas e da carteira do banco, com a outra metade correspondendo ao varejo colateralizado.
Agora, os executivos consideram o negócio mais diversificado e comemoram os últimos números.
“A gente conseguiu crescer a carteira expandida de crédito, basicamente numa época difícil de condição financeira apertada para as empresas. E a gente conseguiu crescer num ambiente seguro, no ativo de previsibilidade, pulverizado, com controle. Tanto é que cruzamos em setembro R$ 4,4 bilhões nesse varejo colateralizado. E a gente conseguiu crescer a carteira de crédito. Hoje o banco voltou a ser um banco extremamente diversificado.”
Os desafios
A S&P citou no relatório os desafios que enxerga à frente para o banco Pine, “como sua posição de mercado, concentração de fontes de financiamento e métricas de capital pressionadas pelos créditos tributários”.
Botelho conta que, após o relatório da agência, o banco tem tomado medidas para diversificar o passivo, como “lançamento de uma debênture, por exemplo, de R$ 750 milhões, com lastro no varejo colateralizado”, o que reduz o risco para o mercado. “A gente tem planos de continuar diversificando o passivo”, adianta.
O Pine teve lucro líquido de R$ 45 milhões no terceiro trimestre de 2023, um forte aumento em relação aos R$ 12,2 milhões do mesmo período do ano anterior.
Veja também
- Caixa puxa a fila – e crédito para comprar imóvel fica cada vez mais difícil para a classe média
- Como o Drex pode se tornar o ‘carro autônomo’ das suas finanças
- Haddad cita excessos nas bets e diz que governo está atento
- Alta dos juros pode reverter a recuperação do setor bancário
- Goldman Sachs procura expandir linhas de crédito de private equity em meio ao aumento de negócios