A Ascenty, maior operadora de data centers da América Latina, já tem obras e contratos que garantem novos empreendimentos até 2028 e mantém um plano bilionário de expansão. Em 2025, destinará cerca de R$ 1,5 bilhão para novos projetos em São Paulo e reforço das operações já existentes no interior do estado.
Controlada pela americana Digital Realty e pelo fundo canadense Brookfield, a companhia responde a uma demanda inédita por capacidade, puxada por inteligência artificial, migração de dados para a nuvem e clientes corporativos que não podem esperar.
“O segundo trimestre foi o melhor da nossa história. A demanda por IA e nuvem está contratada e só cresce”, diz Marcos Siqueira, CRO e chefe de estratégia da Ascenty.
O plano é sustentado por um investimento anual médio próximo de R$ 1,3 bilhão, que contempla novas unidades e modernizações. Parte relevante do financiamento vem do mercado de capitais, com emissões de debêntures para refinanciar dívidas e financiar a expansão, acrescenta o executivo.
Novos projetos
Em São Paulo, a Ascenty ergue quatro empreendimentos. O mais adiantado, o SP5, prevê cerca de R$ 300 milhões e deverá entrar em operação no primeiro trimestre de 2026. O projeto combina soluções hyperscale — para grandes clientes, como big techs —, enterprise e módulos “LiquidCube”, tecnologia própria que acelera a entrega de capacidade.
Embora ainda faltem meses para a inauguração, 5% da capacidade já foi vendida. Clientes que operam no mesmo campus têm direito de preferência sobre 50% da área — prerrogativa que, segundo a empresa, costuma ser integralmente exercida.
A sequência de obras inclui o SP6, com início de construção previsto para 2026, e vai ocupar a última área disponível no campus de Osasco. Já outros dois novos projetos, o SP7 e SP8 vão ser instalados em um terreno recém-adquirido do outro lado da rodovia Raposo Tavares, a apenas um quilômetro do campus atual.
Essas duas unidades terão, somadas, 47 mil metros quadrados e 40 MW de capacidade instalada, uma energia suficiente para abastecer aproximadamente 120 mil residências. O início da operação está programada para 2027 e 2028, respectivamente.
Em paralelo, há ampliações em curso nas unidades de Vinhedo e Hortolândia, no interior do estado. Hoje, a Ascenty opera 24 dos 36 data centers “oficiais” do portfólio; 11 estão em construção ou pré-construção. No Chile, o Santiago 3 está perto de ser inaugurado.
A companhia monitora novas áreas para aquisição em 6 a 12 meses. Também estuda expansão em outras regiões do país, como no Nordeste, com prioridade para pontos conectados a cabos submarinos, que garantem conexões de internet de baixa latência.
Incentivos
No campo regulatório, a Medida Provisória 1.307/2025, assinada em julho pelo governo federal, abriu as Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) para prestadores de serviço como data centers, desde que haja vínculo contratual com empresas industriais já instaladas.
A norma também impôs a “regra de adicionalidade”, obrigando o uso de energia renovável apenas de usinas inauguradas após a publicação da MP. Segundo um estudo feito pela Energisa, essa exigência pode elevar o custo da energia em 10% a 20% nos primeiros contratos e reduzir o número de fornecedores.
O desenho difere de países que disputam grandes investimentos — a exemplo de Estados Unidos, Irlanda e Singapura —, que combinam metas de renováveis com flexibilidade para contratar energia firme (como de termelétricas) e compensar essas emissões.
Na avaliação da Ascenty, o modelo brasileiro tem duas limitações: amarra a localização à geografia das ZPEs – hoje distante dos principais polos de conectividade – e não enfrenta o principal gargalo, o custo de importação dos equipamentos.
“O impacto real de um regime especial estaria na compra de equipamentos. A obra civil é a parte menor da conta; o hardware pode custar sete ou oito vezes mais”, diz Siqueira. “Quem dita onde nasce um data center é o cliente. Conectividade e latência são determinantes. Benefício fiscal é bem-vindo, mas vem depois.”
Por isso, o setor aposta no Redata, regime fiscal específico para data centers em discussão no governo e no Congresso, que prevê isenções ou reduções de tributos sobre bens de capital e importações, permitindo instalar projetos onde há demanda — e não onde há benefício fiscal. O decreto segue em discussão, sem data para publicação.