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Balanço da Vale decepciona mercado; mas ação encerra em alta na B3 e em NY
Analistas apontaram custos mais altos como principal destaque negativo dos números do primeiro trimestre de 2023 da mineradora.
O resultado do primeiro trimestre de 2023 da Vale (VALE3) ficou abaixo do que era esperado por analistas. Enquanto o mercado repercute os números, a ação na mineradora passou a subir na bolsa nesta quinta-feira (27) e terminou em alta de 2,12%, a R$ 71,76, após iniciar o pregão em queda de mais de 1%. Os recibos de ações negociados em Nova York também encerraram a quinta-feira (27) em alta de 3,17%.
Em seu balanço financeiro divulgado na véspera, a Vale reportou queda no lucro atribuído aos acionistas de 58,7% no primeiro trimestre de 2023 ante o mesmo intervalo do ano passado, para US$ 1,837 bilhão. A receita líquida de vendas também recuou, 21,99%, para US$ 8,434 bilhões.
O lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês), por sua vez, apresentou recuo de 42,4%, para US$ 3,576 milhões.
Impactos negativos
Guilherme Nippes, analista da XP Investimentos, destacou em relatório que, embora já antecipasse um resultado mais fraco devido à piora na dinâmica da receita, notou que os custos de produção mais altos foram o principal destaque negativo nos resultados da empresa.
A Ativa Investimentos pontuou que, mesmo esperando receitas mais fracas em função das menores vendas, pior mix e de menores preços de minério, também foi surpreendida negativamente pela dinâmica de custos diante da realização de one-offs visando a manutenção de plantas, de um pior mix de volumes, maiores distâncias de transporte e inflação de insumos.
“Registrando ainda maiores despesas ano ante ano, a Vale apresentou números operacionais inferiores à nossa expectativa. Com um resultado financeiro pior, seu lucro líquido também nos decepcionou. Ainda que tenha registrado um positivo fluxo de caixa livre em função de uma rubrica de capital de giro positiva, entendemos que o mercado recepcionará os resultados de forma negativa, se indagando sobre a dinâmica de custos nos próximos trimestres”.
ativa investimentos
Já os analistas Igor Guedes, Igor Bastos e Renan Rossi, da Genial Investimentos, avaliaram em relatório que os números da mineradora vieram em linha com a expectativa de um trimestre bastante fraco, causado pela sazonalidade, comum ao período, de um maior volume de chuva.
De acordo com os analistas da Genial, porém, apesar das chuvas serem típicas desse período do ano, nesse trimestre não só afetou a produção, mas também gerou um impacto negativo nas vendas, com danos na infraestrutura do porto Ponta da Madeira (PA), o que acabou interrompendo durante dias os embarques de minérios de ferro vindo do Sistema Norte, consolidando um trimestre com uma performance de receita bastante aquém do potencial da companhia.
Destaques positivos
Embora o balanço tenha decepcionado as expectativas de forma geral, os analistas da Genial Investimentos destacaram que o menor volume de embarques da mineradora causou uma relevante diminuição nos custos, sendo um ponto positivo do primeiro trimestre deste ano, uma vez que a companhia, mesmo com dificuldades, conseguiu aumentar sua margem Ebitda.
Já Nippes, da XP, destacou como favorável o fluxo de caixa livre em US$ 2,3 bilhões, impactado pelo capital de giro positivo, parcialmente compensado por investimento em bem de capital e desembolsos de Brumadinho.
Além disso, Nippes pontuou ainda que a dívida líquida expandida foi de US$ 14,3 bilhões, dentro da meta de US$ 10 a 20 bilhões, enquanto a dívida líquida/Ebitda ajustado dos últimos 12 meses foi de 0,5 vez, e que o programa de recompra está 47% concluído.
Recomendação para ação da Vale
Após forte baixa recente na ação da Vale, a Ativa Investimentos disse continuar acreditando que os preços de minério de ferro seguirão sem força com os volumes oriundos do Hemisfério Sul adentrando o continente asiático com maior intensidade a partir do segundo trimestre. Assim, a Ativa informou que sua posição de recomendação para a ação da Vale permanece neutra.
Para o JPMorgan, a recomendação também é neutra para a ação da mineradora, no aguardo de uma revisão para baixo da expectativa de lucros pelo mercado, com base no Ebitda que decepcionou as expectativas.
A Genial destacou que o resultado da mineradora foi fraco e possui algumas dinâmicas ruins que foram exclusivas desse primeiro trimestre de 2023 e que não devem voltar a se repetir, como também outras dinâmicas que preocupam com relação ao atingimento dos guidances, tanto de produção quanto de custos, o que pode impactar a Vale nos próximos trimestres.
“Observamos, então, a Vale, após essa voraz queda nos últimos dias, não como uma empresa que vive um bom momento, mas como uma empresa justa e, agora, a um bom preço”.
GENIAL INVSTIMENTOS
Enquanto negocia a um EV/Ebitda de 4,14 vezes, pela acentuada desvalorização das ações observada nos dias que antecederam o resultado, os analistas da Genial consideram a Vale com uma grande geradora de caixa e disseram enxergar agora uma margem de segurança mais confortável no papel da mineradora para mudar a recomendação de “manter” para “compra”.
Guilherme Nippes, da XP, disse em relatório que, “por enquanto”, mantém “visão inalterada”.
Em levantamento feito pela plataforma Valor Pro, até 24 de abril de 2023, a ação da Vale tinha, entre 12 casas, 10 recomendações de “compra”, entre elas pela Ágora Investimentos, Itaú BBA, XP e Banco Inter, além de uma recomendação “neutra” e outra de “venda”.
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